Fuga

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ROMANCES MENSAIS

LIVRO VIII – LOUCURAS DE AGOSTO

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CAPÍTULO XVII - FUGA

Conversas altas se misturavam em meio a sons desconexos de bips e batidas. Minha mente continuava a exibir lembranças antigas sem qualquer explicação, relembrando-me momentos que vivi ao lado de Freddie ainda em nossa infância. Eu tinha consciência que tudo não passava de uma espécie de sonho ou delírio ocasionados pelos medicamentos receitados pelo desprezível diretor do Troubled Waters. Ainda assim, parecia que havia uma força sobre mim que me impedia comandar meu corpo.

Eu me sentia como se estivesse em uma espécie de paralisia do sono. Ao mesmo tempo em que eu conseguia enxergar onde eu estava e tudo o que ocorria ao meu redor, minhas funções motoras pareciam não me pertencer mais. Em alguns momentos, eu tinha a sensação de que a respiração ficava cada vez mais difícil, devido a uma força inexplicável que pressionava meu peito e me impedia de me mexer.

No entanto, eu sentia que a dormência em meu corpo diminuindo aos poucos. Passo a prestar atenção ao que acontecia próximo de mim e sinto meu coração bater mais forte ao reconhecer a voz de Freddie e Hillary. Ainda não era possível compreender o que eles conversavam, mas ouvir a voz do enfermeiro e ter a certeza de que ele estava vivo e bem me trazia um alívio indescritível.

- Falta muito? – Ouço Hillary perguntar e mesmo com o tom de voz abafado pelas paredes almofadadas do quarto branco, eu conseguia sentir a sua ansiedade e a pressa presente.

- Acho que... abri. – A animação do nerd enche meu peito de esperança. Ao ouvir o som da porta se abrindo, a minha euforia por finalmente poder ver Freddie parece me dar ainda mais forças para me mexer. – Sam!

O moreno corre até mim e me ajuda a levantar. Ainda um pouco atordoada, encaro seu rosto e arfo ao ver o quão machucado ele estava. Os olhos estavam inchados e roxos, o nariz extremamente vermelho, com marca de sangue seco escorrendo até seu pescoço. Ele também tinha diversos cortes pelas bochechas, testa e sobrancelhas. Os bonitos olhos de Freddie percorrem meu rosto e meu corpo, parecendo estar em busca de algum ferimento e vejo a preocupação presente neles. Levo minhas mãos ao rosto dele e sinto o choro preso em minha garganta. Mais uma vez ele havia se machucado por minha culpa.

- Oi. Eu estou aqui agora. Sinto muito por não ter protegido você. – Ele lamenta com o tom de voz choroso, enquanto me abraça apertado. Correspondo ao abraço, apertando sua camisa. Incapaz de dizer qualquer palavra. Porque eu sabia que se eu abrisse a boca, não conseguiria segurar o choro. Ele esconde o rosto na curvatura de meu pescoço e me aperta mais contra si. – Se eu fosse mais forte, você e Hillary jamais teriam se machucado. Eu sinto muito Sam. Isso tudo é minha culpa.

- Você não tem culpa. – Afirmo, afastando-o para encará-lo. Encaro seus machucados e deslizo minhas mãos por eles, sentindo as lágrimas de raiva e culpa se formarem em meus olhos. Repasso as palavras do enfermeiro e arfo ao notar um detalhe importante. - Hillary se machucou?

- Ela levou um tiro do diretor Leblanc, tentando me tirar do lugar onde eu estava sendo mantido preso. – Responde Freddie, virando-se para a morena parada na porta, segurando uma arma, enquanto parecia vigiar o corredor. Nesse momento, noto o sangue escorrendo pelo braço da garota.

- O quê? Hillary! – Levanto-me de uma vez, mas logo me arrependo da minha decisão ao sentir minhas pernas perderem as forças. Freddie me ampara no mesmo instante e Hillary se vira para mim, encarando-me com preocupação.

Loucuras de AgostoOnde histórias criam vida. Descubra agora