Dor

115 5 0
                                    

ROMANCES MENSAIS

LIVRO VIII – LOUCURAS DE AGOSTO

📅

CAPÍTULO I - DOR

Dias atuais.

Meu peito doía. Era uma dor dilacerante que cortava a minha alma e me deixava completamente sem chão. Ainda que eu soubesse que esse é o destino de todos os seres humanos, eu não conseguia aceitar que Kyle Puckett, o homem mais saudável e cheio de vida que eu conhecia, estava dentro de um caixão, prestes a ser enterrado.

Beth chorava compulsivamente agarrada ao corpo de nosso pai. Ao seu lado, eu permanecia em silêncio, em choque demais para conseguir expressar qualquer sentimento. Tudo o que eu conseguia fazer era encarar o rosto sereno do homem, que parecia estar apenas em um sono profundo.

Eu não conseguia acreditar em nada do que me diziam. Nada parecia fazer sentido. Não fazia sentido algum meu pai estar morto e menos ainda a causa de sua morte ter sido suicídio. Ele nunca faria algo assim. Por que as pessoas não entendiam isso? Por que a polícia continuava a insistir em algo tão absurdo? Por que não investigaram mais a fundo?

Overdose de remédio? Meu pai nunca faria algo assim. Ele nem mesmo gostava de tomar remédios. Assim como eu, Kyle Puckett não suportava comprimidos. Sofríamos pela dificuldade de engolir pílulas e outros medicamentos via oral. Então por que as pessoas insistiam em dizer que ele escolheu tirar a própria vida consumindo uma quantidade absurda de medicamentos? Não fazia sentido algum.

- Sammy? – Damon me chama, mas sou incapaz de responder. Ele me abraça com carinho. – Eu sinto muito, Sammy.

- Obrigada. – Sussurro em um fio de voz. Meu primo se afasta e me encara com preocupação, enquanto acaricia meu rosto com delicadeza. Ouço o choro de Beth se intensificar ao receber o abraço apertado de Elena.

- Eu vou buscar um pouco de água para elas. – Responde o rapaz, vendo o quão nervosas elas estavam.

- Por favor. – Digo, cansada e destroçada demais para conseguir dar o apoio que minha irmã mais velha precisava.

Felizmente, os outros membros da família Barton aparecem para dar um pouco de conforto a Beth. Recebo abraços apertados e palavras de consolo, que ainda que eu soubesse que eram verdadeiros, não eram o bastante para diminuir aquele sentimento terrível dentro de mim. Nenhuma daquelas palavras trariam meu amado pai de volta. Nenhum abraço substituiria o aquele calor acolhedor que somente Kyle Puckett sabia dar. Ainda assim, eu era grata pela presença da minha família.

Apesar de não carregarmos laços sanguíneos, Damon Salvatore, Elena Gilbert, Austin Moon, Barry Allen, Ben Florian, Nancy Wheeler, Oliver e Thea Queen eram a melhor família que eu poderia ter. Tendo Clint Barton como o responsável por nos unir, Beth e eu encontramos nesse grupo de pessoas estranhas e com um dom questionável para se meter em problemas, um verdadeiro lar. Por isso, mesmo sentindo intensamente pela perda de meu pai, minha irmã e eu jamais teríamos conseguido cuidar de todas as questões do velório se não fosse por eles.

Suspiro, voltando minha atenção para meu pai. Sussurros maldosos disfarçados de lamentos chegam aos meus ouvidos. Discretamente, observo as pessoas presentes na capela, que supostamente eram amigos de meu pai. Por trás de todas as máscaras de tristeza e as falsas lágrimas, eu sabia que a maior parte das pessoas naquele lugar não se importavam de verdade com o que aconteceu. Eles só queriam uma desculpa para falar mal do homem que conseguiu superar a pobreza e se tornar uma das pessoas mais influentes do país.

Loucuras de AgostoOnde histórias criam vida. Descubra agora