Conversas

51 6 0
                                    

ROMANCES MENSAIS

LIVRO VIII – LOUCURAS DE AGOSTO

📅

CAPÍTULO V - CONVERSAS

O dia amanheceu e mais uma vez eu não consegui dormir. Por mais confortável que a cama fosse e que eu finalmente não tenha meus braços presos a algemas, minha mente cruelmente me manipulava e me trazia pensamentos que eu queria esquecer. Eu sentia como se uma avalanche de acontecimentos tivesse me atingido e agora eu me afogava em desespero e pavor, ainda que uma Puckett nunca sinta medo.

Em uma semana, minha vida mudou completamente. A pessoa que eu mais amava e admirava no mundo foi morta por alguém em quem confiava. Eu descobri que minhas suspeitas sobre o caráter de Hugh sempre estiveram corretas e acabei vindo parar em um manicômio, onde reencontro meu não amigo de infância nerd e ainda descubro que eu transei com ele em um pequeno banheiro de avião.

De uma empresária bem sucedida a uma paciente de um manicômio. Que grande salto na vida, Sam! – Penso com ironia, pensando em como minha vida naquele momento mais se parecia com uma história de livros de fantasia. Ainda era difícil de acreditar em tudo o que está acontecendo.

Eu sentia falta da minha família e do conforto da minha casa. Sendo sincera, hospitais por si só são assustadores, mas hospitais psiquiátricos conseguiam ser ainda pior. Durante toda a noite, eu ouvia gritos e vozes estranhas vindas do corredor. O frio intenso do ar condicionado e as grades em todas as janelas do quarto junto a escuridão da noite tornava o cenário semelhante ao de um filme de terror.

Levo minha mão ao pescoço, em minha mania de pegar em meu relicário, mas sinto meu coração se apertar ao não o encontrar onde deveria estar. Não bastava toda a humilhação de ter sido nocauteada pelo desgraçado de meu tio materno, eu ainda tive a minha preciosa meia de manteiga feita pelo meu pai e o relicário de minha mãe tomado de mim.

Eu me sentia sozinha nesse momento. Por mais bobo que fosse, desde criança, eu sempre andava com essas duas coisas comigo. Eram os meus amuletos da sorte e uma forma de ter minha mãe e meu pai sempre perto de mim. Agora, sem minhas preciosas lembranças, sentia a solidão me machucar. E isso só me fazia desejar ainda mais me vingar de Hugh.

De repente, duas batidas na porta ecoa pelo quarto e me fazem fechar os olhos, fingindo estar dormindo. Ouço a porta ser aberta e cerro meus punhos, pronta para bater em qualquer babaca que tentasse me obrigar a tomar seus medicamentos suspeitos. A porta se fecha e eu prendo minha respiração. Meu coração batia agitado e eu sentia a ansiedade me atingir.

- Sou eu. – A voz grossa e firme de Freddie traz de volta a minha calma. Abro meus olhos e me sento na cama, vendo-o se aproximar com um carrinho com o que parecia ser o meu café da manhã. Pelos discretos raios solares que entravam pelas frestas das janelas, noto também uma seringa e um copinho que já tinha visto os outros enfermeiros trazerem com comprimidos. Encaro-o com desconfiança e ele parece entender o que se passava em minha mente. – Eu não vou te medicar, mas precisava trazer os remédios que foram receitados para você ou desconfiariam de mim.

Nesse instante, as luzes do quarto se acendem e posso finalmente ver o rosto de Freddie. Seus cabelos castanhos estavam bem alinhados como sempre. Os olhos miúdos exibiam as orbes cor de chocolate que transmitiam sinceridade e calmaria. Sua barba aparada e desenhada davam um ar maduro e másculo a ele. Freddie usava seu uniforme branco com jaleco, calça e sapatos fechados.

- É melhor comer. Felizmente consegui convencer o diretor que os medicamentos não faziam o efeito sedativo com você, mas conseguiram te acalmar, então ele permitiu que você passasse por uma avaliação psicológica. Daqui a pouco você deve ter consulta com uma psicóloga do hospital. Se você demonstrar não ser perigosa para a sociedade, poderá conviver com os outros pacientes. – Explica o rapaz, entregando um copo de suco e um prato com três sanduíches. – Todo cuidado é pouco, então haja como se estivesse sonolenta. Se quisermos te tirar daqui, teremos que ser o mais discretos possíveis, então nada de agir como uma louca assassina querendo matar qualquer um que se aproxime de você. Se você fizer tudo o que eu disser, acredito que temos uma pequena chance de te tirar daqui do Troubled Waters. Não vai ser fácil, mas...

Loucuras de AgostoOnde histórias criam vida. Descubra agora