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— Por que está com essa cara? Alguma carga pegou fogo? — Brianna tentou provocar Amanda, mas não obteve resposta.

Estava estática encarando a tela do celular. Pensou no que havia dito e tentou procurar algum vestígio de falta de educação, mas como os rumores diziam, Amanda não era uma pessoa tanto receptiva.

— Desculpe. Você disse algo?

— Ah, na verdade não. — Retorceu o nariz e talvez fosse melhor assim. — Você está bem?

— Estou ótima, e você? — Perguntou a loira, sem virar para a encarar.

— Bem também. Boa noite, Amanda. — Deu ombros, deixando Amanda sozinha na copa.

Vadia grosseira.

Brianna era realmente a deusa do comercial, sempre desfilando glamourosamente e com um ar de superioridade por cima de seus óculos vermelhos. A loira mal passava dos 30, com o corpo que provavelmente todos os homens de Londres gostariam de ver, seu nariz arrebitado parecia combinar perfeitamente com o seu rosto, e ela sabia que era deslumbrante.

E folgada, muito folgada. A loira nunca gostou muito de Amanda, e não tinha muito motivo, apenas não gostava. Não sabia muito bem como separar o pessoal do profissional, por isso, deixava bem claro tanto para a morena quanto para o resto dos funcionários.

Quem iria questionar Brianna? A intocável do comercial, com uma vida estável, um carro novo, um corpo deslumbrante e arrogante? Arrogantemente antipática para muitos, mas Amanda não estava nem ai.

Amanda apenas queria viver sua vida medíocre.

— Merda, o que eu faço... — Sussurrou, ainda encarando a tela de seu celular.

Será que se respondesse de prontidão seria muito atirada? Mas não era um flerte, e ele disse que eram amigos, será que essa a ideia de amigos que jovens tem hoje em dia? Um café, um débito e uau, somos amigos?

Será que Harry era um sociopata?

O pensamento apenas reforçava a sensação de ser patética.

A xícara rosa já estava fria, denunciando que o café já estava ruim para ser tomado. Guardou o celular no bolso de seu casaco e lavou a xícara, tentando pensar numa resposta coerente, não atirada e principalmente sincera.

O que poderia dar errado? A verdade é que talvez uma amizade fosse a fazer bem, mas será que estava disposta a isso?

O único barulho audível no escritório era o tilintar de seus sapatos, pois bem, o piso era realmente muito barulhento e isso incomodava muito a menina. Percebeu que todos já haviam ido, e ela ainda não sabia o que responder ao menino do guarda-chuva. Será que estava procurando problemas onde não existia? Era apenas uma mensagem, não era uma adolescente e sabia muito bem disso.

Desligou o computador e pegou sua bolsa, saindo pela porta de vidro do escritório e chamando o elevador. Pelo menos uma coisa parecia ao seu favor, afinal, o elevador já estava lá, ela entrou rápido e apertou o botão para o subsolo.

Talvez Brianna estivesse lá, encostada na porta de sua BMW enquanto esperava Amanda para a provocar, ou até mesmo falar sobre qualquer planilha de peso naquela hora da madrugada, e ela não estava afim de se segurar para não dar um tapa naquele rosto tão bonito e caro, muito caro. Amanda tentava pensar em qualquer coisa que não fosse o homem do guarda-chuva, mas sua mente sempre acabava nele.

Patética.

Atravessou o estacionamento rápido, entrando em seu carro e dando partida. As ruas estavam muito vazias e molhadas, uma garoa fina molhava seu parabrisa enquanto batucava os dedos no volante ao ouvir U2, que tocava na rádio. Chegaria em menos de vinte minutos, e tinha feito uma promessa a si mesma que responderia Harry assim que chegasse.

Mas já era muito tarde, talvez estivesse dormindo e ela não queria ser grosseira mandando mensagem a essa hora... mas como ele mesmo disse, estava trabalhando de madrugada, será que ele era produtor? Ela tinha tantas perguntas, mas nenhuma coragem de fazer. Tentou formular algumas mensagens e desistiu quando estacionou na vaga de seu prédio, colocando sua bolsa embaixo do braço, as mãos gélidas no bolso e correndo para o elevador.

Amanda odiava muitas coisas, e esperar elevador era uma delas. Quando a porta abriu e finalmente estava no 12º andar, suspirou aliviada.

Uma péssima noite.

Jogou seus sapatos perto da porta e fez o caminho inteiro até o quarto se despindo, deixando o celular em cima do sofá cinza. Estava em roupas íntimas, sozinha em sua casa às 04h após uma reunião exaustiva com chineses e ainda não tinha conseguido pensar em uma resposta coerente, ou até mesmo minimamente amigável.

Precisava de um banho, um chocolate e até mesmo quem sabe algumas lambidas de cachorro para se sentir melhor, mas tinha apenas Fluffy, que a olhava enquanto estava sentado em sua gaiola.

Às vezes se pegava pensando como a vida seria mais fácil se fosse o pequeno hamsyer, quem sabe trocar de lugar apenas por um dia? Seria esplêndido viver a vida de um hamster mimado por 24 horas.

Se tia Helena estivesse aqui, reclamaria por todas as roupas jogadas na sala, por estar tomando banho tão tarde e por comer tanta besteira. E talvez por ter reclamado tanto disso quando ela estava viva, sentia falta. Sorriu com a lembrança e terminou de colocar seu pijama, se sentindo aliviada e limpa pelo banho.

Mas ainda tinha de lidar com Harry.

— Não é difícil, vamos lá Amanda. Pare de agir como a porra de uma adolescente.

Com toda a coragem que conseguiu reunir, marchou para a sala, pegando seu celular branco de cima do sofá e o desbloqueando. Precisava apenas ser natural, não tinha de se esforçar tanto.

Nem ela sabia o que queria.

[Amanda]: Oi, Harry! Me desculpe, mas realmente vou precisar da sua conta bancária. Poderia por gentileza me enviar?

— Uma vaca grosseira. — disse alto depois de enviar. Não estava sendo dura consigo mesma, mas era a realidade, poderia por gentileza? Não estava mandando um email.

Como Brianna disse uma vez, é por isso que ela não tinha amigos.

[Harry]: Ainda acordada? Você não está cansada? Como foi a reunião?

Amanda realmente se sentiu mal. Ele estava sendo atencioso, ou mesmo educado, mas isso não importa: ele agiu como um ser humano normal, enquanto ela, uma louca.

[Amanda]: Wow, desculpe, Harry. Acredito que ainda esteja trabalhando... desculpe mandar mensagem tão tarde. A reunião correu bem, deu tudo certo! Já estou em casa, enrolando para ir dormir. E você?

Okay, talvez não estivesse se saindo tão mal assim, ela conseguia fazer isso. Puxou a manta e enrolou as pernas, mantendo sua atenção ao celular.

[Harry]: Fico feliz de ouvir isso! Estou ainda no estúdio, mas mais mexendo no twitter do que de fato trabalhando. Confesso que estou com preguiça de ir embora. Que tal conversarmos amanhã? Você deve estar cansada.

Isso não é um adeus.

Eu ainda não esqueci a conta bancária (: e eu realmente não vou mandar.

[Amanda]: Eu não desisto fácil. Espero que consiga descansar, Harry. Ótima noite para você!

— Por que sempre pareço tão séria?

A morena bloqueou o celular e foi para seu quarto, batendo o pé. Colocou o aparelho para carregar em cima da mesa de canto e encarou o teto, ainda extasiada.

Realmente estava trocando mensagens com um cara que parecia ser muito amigável.

Sob o barulho de Fluffy animadamente correndo pela gaiola, Amanda caiu no sono pouco antes de Harry chegar em casa, colocando os sapatos na lavanderia e deitar de cueca no sofá, relendo as mensagens de texto e passando a mão pelos cabelos de forma nervosa.

Ambos agarrados a solidão.

Ambos estranhamente curiosos.

On Rainy Days [H.S] [PT/BR]Onde histórias criam vida. Descubra agora