Era um dia de chuva, e por mais que isso agora tivesse um sentido totalmente diferente, fazer uma mudança na chuva não era nada legal.
— Tenho certeza que Fluffy está animado com a nova casa, olhe como ele está correndo! — Harry afirmou, exibindo a gaiola grande com a bolota correndo, consequentemente jogando serragem para fora.
— Feliz? Ele está radiante, com certeza. — Brincou, deixando uma das caixas perto do sofá.
O pior já havia sido feito: o apartamento bonito, com uma varanda maior e dois quartos já estava com as mobílias mais pesadas ali, faltando apenas as coisas menores para tudo estar completo. E não achou que teria de mexer no dinheiro da herança tão cedo, mas não teve escolhas.
Harry tentou lhe convencer de todas as maneiras que ela poderia ficar em sua casa por mais tempo, e o pouco tempo que de fato moraram juntos não fora ruim: faziam lanches noturnos, Amanda caia no sono no sofá enquanto assistiam alguns dos repetidos filmes de Harry e acordava na cama. Tentavam cozinhar juntos mas resultava em brigas, então começaram a revezar para que não enjoassem da comida um do outro.
E ele pouco a pouco foi conhecendo um pouco mais sobre ela, sobre como era sistemática com louças sujas e gostava de dormir com pijamas fofos, como parecia adorável fazendo absolutamente nada e como era uma companhia incrível, sempre. Mas Amanda não ficaria naquela imensa casa para sempre, afinal, sua independência era algo extremamente importante.
Por isso passou boa parte dos dias procurando por apartamentos pelas redondezas do trabalho, mas nenhum parecia bom: até que esse apareceu, e ela não pensou duas vezes em visitar o apartamento, verificar as instalações e fechar o contrato. Mais rápido do que pensou, via aquilo como um recomeço em sua vida.
Agradecia imensamente por ele estar ali.
Aquele tempo também foi bom para que ela o conhecesse mais: como ele era de fato fanático por futebol, que cantarolava algumas vezes e aquilo soava deliciosamente em seus ouvidos, que era bagunceiro e carinhoso. Como gostava de cafunés e chá, prezava por sua meditação diária e composições, suspiros de inspirações e odiava que tentassem se meter na sua vida.
— Amor, por onde começamos? — Ele perguntou assim que colocou o hamster no chão, despertando-a dos pensamentos.
— Boa pergunta, vamos fazer assim, vá limpando os armários enquanto eu lavo as louças, acho que vamos acabar mais rápido assim. — Se agachou, abrindo uma caixa com produtos de limpeza.
Ela o ajudou a prender a franja e roubou um selinho antes de lhe estender os produtos e um pano roxo. Harry não precisava de nenhuma escada para limpar os armários mais altos e aquilo soava como uma afronta à ela, mas a menina focou em lavar todas as louças, talheres e copos e o encarar algumas vezes, sorrindo quando seus olhos se encontravam.
Colocaram os quadros na parede e ele percebeu que não sabia deixar nada alinhado, arrumaram a geladeira na mesma velocidade que Harry escorregou ao lavar o banheiro. O sofá cinza fora substituído por um rosa, e eles sentaram juntos no chão enquanto colocavam a capa nas almofadas coloridas ao som pequeno ratinho correndo na rodinha.
Esticaram os lençóis na cama e afofaram os travesseiros, Amanda estava exausta, mas sabia que ainda tinha trabalho pela frente, o que a fez tomar forças e colocar uma quantidade razoável de roupas no armário — felizmente já montado — e alguns livros na escrivaninha. Já era tarde e estavam com fome, mas o moreno se recusava a cozinhar e por isso pediu pizza, a favorita da garota.
— Queria ser você, bebê. — Sussurrou para Fluffy, que dormia na rodinha de sua gaiola tranquilamente.
Amanda apareceu no corredor e caminhou até o moreno, levemente curvado para enxergar a gaiola do hamster. Em passos curtos, silenciosamente se aproximou e o abraçou por trás, apoiando o rosto nas costas dele e sentindo seu calor.
— Cansada? — Indagou ao acariciar as mãos dela com a ponta dos dedos. — Que tal terminarmos por hoje?
— Amanhã é a festa, não vou ter tempo de terminar e...
— Você não vai dormir lá amanhã?
— Ahm, acho que já passei tempo demais na sua casa e não quero ser...
— Nem pense em terminar essa frase, senhorita Huber. — Disse num tom brincalhão, virando-se e levando suas mãos até a cintura alheia. — Fique por lá, do quarto não vai dar para ouvir o barulho, sei que não é a maior fã de festas.
— Oh, muita gente convidada? — O guiou até o sofá, sentando-se ao lado dele.
— Nem tanto, mas vai ser uma boa oportunidade de você conhecer meus amigos. Gemma e minha mãe também vão, mas não sei que horas... — Concluiu, espalmando a mão na coxa.
— Vou me esforçar para ser simpática. — Piscou, e ele negou com a cabeça.
— Você é incrível amor, não se preocupe com isso. — A tranquilizou.
— Harry?
— Diga, querida. — Apoiou a mão no rosto, a encarando com carinho.
— Eu te amo.
As palavras apenas escaparam.
Diferente dos filmes, onde o 'eu te amo' é dito numa praia, jantar romântico ou no meio do sexo, muito menos numa briga ou num castelo. Não houve cerimônias, sequer se preparara para isso, as palavras escaparam de seus lábios naturalmente.
Nos primeiros dez segundos, ele não esboçou reação, sua mente tentava processar aquela frase e lhe convencer de que era de fato real. Mas Amanda estava convicta, aquilo era o certo: ela o amava, amava desesperadamente.
Mas ela sempre soube disse, desde o dia que se abraçaram na praia pela primeira vez até quando ele a abraçou durante as noites. Não tinha vergonha de dizer que amava Harry, o Harry que a cobria quando dormia no sofá, que lhe mandava mensagens durante o dia reclamando sobre coisas irrisórias e comia macarrão congelado com mais frequência que o normal.
Até mesmo quando brigaram quando ele escondeu sua identidade, talvez um dos motivos pelo qual ficara mais nervosa foi porque já o amava incondicionalmente. Porque ele lhe deixava feliz, esteve com ela em momentos absurdos e porque era Harry. Simples assim.
Sua existência era suficiente para amá-lo.
Ela o amava, não havia motivos para esconder isso e teve mais certeza quando ele sorriu largamente, a puxando para um abraço desengonçado. O coração do menino batia tão rápido que temia ser audível, era euforia pura. Honestamente ele não esperava ouvir aquelas palavras tão cedo, apesar de saber exatamente como ela se sentia.
Porque o amor poderia ser demonstrado de diversas formas.
E ele percebia que ela o amava quando o abraçava sem motivo, lhe repreendia por não comer bem e lhe incentivava quando ele estava para baixo. Porque ela tinha o hábito de dedilhar suas tatuagens e o encarava com carinho nos olhos, plantava beijos no topo de sua cabeça e era sua primeira notificação do dia.
Porque ela se abriu para ele, porque o amava incondicionalmente. Porque ela acariciava seus cabelos da forma que gostava, o escutava pacientemente sobre todas as coisas que o perturbavam e segurava sua mão quando estava irritado. E ele sabia que tinha alguém com contar, alguém que de fato se importava com ela.
Mas aquelas palavras tinham um peso grande, ainda mais para um romântico incurável como ele.
— Eu te amo, eu te amo...— sussurrava para ela, a apertando um pouco mais contra seu corpo.
— Acho que não odeio mais dias chuvosos há um tempo, amor. — Confessou, aninhando-se mais a ele. — Não desista de mim, hm?
— Jamais desistiria de você, querida. Eu te amo tanto...
Oh, ele poderia chorar.
Mas Amanda fez isso primeiro, rezando para que ele não notasse suas lágrimas de alegria. E quase como um filme da história deles passou por sua cabeça, desde o misterioso garoto da cafeteria até quando correu até ela quando capotou o carro. Da vez que se tornaram íntimos, como se enrolaram na banheira por horas...
E pela primeira vez em muito tempo, Amanda não sentia medo de amar alguém.
Porque era Harry, apenas Harry.
E desejava que chovesse por muito, muito tempo.
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On Rainy Days [H.S] [PT/BR]
FanficAmanda não acreditava em destinos: a mística na palavra para vender romances clichês e alimentar esperanças nas pessoas não combinava com a menina. Harry, no entanto, acreditava fielmente em destinos, e principalmente que ele lhe reservava um amor p...