Quando Amanda abriu os olhos naquela manhã, desejou que fosse um bom dia.
Era sábado, mas um dia atípico: teria de trabalhar até as 18h, e logo depois teria seu jantar com Harry.
Um jantar de amigos.
Talvez isso fosse fazer bem a ela, precisava conversar com alguém que não fosse seu hamster ou as plantas de seu apartamento. Tomou uma xícara detestável de café, calçou as botas escuras e escolheu seu casaco favorito antes de sair de casa, trancando tudo e sentindo a brisa londrina lhe animar minimamente enquanto caminhava para o escritório.
Do outro lado, Harry acordou por volta das onze, respondendo a mensagem de bom dia da Analista e indo comer algo que ficasse pronto em menos de cinco minutos. Sem camisa, cantarolava pela casa e assistia as notícias enquanto preparava seu café, quase almoço.
Estava animado para jantar com Amanda que, mesmo um pouco desconfiada aceitou. Havia escolhido um restaurante que sempre frequentava e com certeza não teria nenhum problema e surpresa, talvez essa fosse a pior forma dela descobrir que ele é famoso? Não tinha muita certeza, mas por via das dúvidas, preferiu não arriscar.
Algo nela lhe fascinava, e por que não? Era apenas um jantar, queria conhecer melhor Analista que gosta de hamsters e cheesecake de blueberry. As idas ao estúdio já não eram tão frequentes, e aproveitava da melhor forma possível: dormindo até tarde, comendo besteiras e conversando com seus amigos.
[Harry]: Você não vai me dar um perdido hoje, não é? Vou ficar muito triste ):
[Amanda]: Não farei isto, costumo cumprir com minhas promessas.
[Harry]: Coma algo saudável, já está na hora do almoço. Você não deveria estar comendo??
[Amanda]: Sim, estou almoçando agora. É um muffin de banana, e você?
[Harry]: Macarrão com queijo congelado. Claro, não estou comendo congelado, você entendeu. Deveria se alimentar melhor, Analista.
[Amanda]: Você também.
— Eu consigo me acostumar com isso, ela é assim mesmo, sempre foi assim. — Disse em voz alta, antes de dar mais uma garfada em seu macarrão.
A tarde se arrastou para Amanda, que apenas emitia seguros e respondia e-mails com perguntas absurdas. Contava os segundos para ir embora, e cada vez que a porta do escritório abria desejava que fosse ela deixando esse inferno.
Apenas vinte minutos, ela conseguiria lidar com isso.
[Harry]: Chegarei no horário, se o trânsito deixar!
[Amanda]: Tudo bem, esperarei no local combinado.
Sorriu consigo mesma e olhou pela janela, percebendo que alguns pingos de chuva já marcavam o vidro: o que era ruim, não tinha levado guarda-chuva e se molhar não estava em seus planos. Se Harry se oferecesse para lhe deixar em casa, com certeza não negaria.
— Se perguntarem sobre a instrução que saiu ontem, por favor, avise que irei despachar os documentos segunda-feira. — Disse a Dereck, que assentiu com a cabeça. — É só isso.
— Não vai ficar até mais tarde hoje? — Tomou um pouco de café, os olhos comprimidos em confusão.
— Não, tenho compromisso. — Jogou o celular na bolsa. — Até segunda.
— Como assim você tem compromisso? Achei que você vivia em prol do trabalho. — Riu, mas assim que percebeu que Amanda não estava esboçando a mesma reação, parou imediatamente. — Era uma brincadeira.
— Tchau, Dereck. – Puxou o crachá, saindo do escritório e o deixando sozinho.
Não que ela não gostasse dele, mas a forçada de intimidade que o homem tentava sempre lhe deixava incomodada. Estava lá para fazer seu trabalho da melhor forma possível, o resto era detalhe e já havia deixado isso bem claro.
O barulho de seus sapatos ecoava pelo corredor enquanto caminhava em direção ao elevador, que não demorou para chegar. A antecipação e o frio em seu estômago estavam a deixando tensa, mesmo que não tivesse motivo: era apenas um jantar, nada mais que isso.
Será que iria se arrepender mais tarde de aceitar? Talvez Harry fosse a achar insuportável e a bloquear assim que chegasse em casa. Seguiu perdida em pensamentos até a entrada do prédio, dando de cara com um temporal.
Seu celular começou a tocar e se assustou. Rapidamente o puxou da bolsa e viu que Harry estava lhe ligando, será que ele estava prestes a avisar que iria cancelar tudo? Mesmo assim, numa lufada de coragem, apenas aceitou a ligação.
— Oi, Amanda! Está chovendo muito, estacionei na frente do prédio que você trabalha, estou bem na porta, é um carro preto. — O tom de voz amigável lhe fez esboçar um sorriso mínimo, quase imperceptível.
— Oi Harry, acho que estou vendo. Estou indo.
Era o único carro parado literalmente na frente do prédio.
Guardou o celular e saiu correndo em direção ao Audi, rezando para não pisar em nenhuma poça de água no curto caminho. Abriu a porta às pressas e se sentou, dando de cara com Harry mexendo no celular.
— Olá Amanda! Quanto tempo! — A saudou, as covinhas em suas bochechas tomaram a atenção da morena.
— Olá, Harry, bom te ver também. Desculpe, acho que molhei seu carro. — Mordeu o lábio, se sentindo extremamente envergonhada.
— Não se preocupe com isso. Você está bem? — A analisou.
Respirava rápido, seus cabelos um pouco molhados e a blusa levemente transparente, algumas gotas d'água marcavam suas bochechas avermelhadas e a ponta de seu nariz. Apesar de ser pequena comparada ao tamanho de Harry, sua presença preenchia o carro de uma maneira diferente.
— Estou ótima, desculpe por sujar seu carro.
— Não se preocupe com isso, está tudo bem mesmo. — Tentou lhe passar alguma confiança, mas não parecia ter surgido muito efeito.
Halsey tocava na rádio enquanto ele dirigia pelas caóticas ruas de Londres, onde o tempo parecia nunca ser suficiente para todos e as pessoas sempre estavam muito imersas em suas próprias vidas para se importar com qualquer outra coisa.
— Há quanto tempo você trabalha com música? — Tentou se livrar do silêncio constrangedor, uma pergunta banal não seria uma má ideia. — Digo, você parece jovem.
— Não sou tão jovem assim. — Sorriu de canto, ainda concentrado na rua. — Mas digamos que trabalho com isso há algum tempo. E você? Muitos anos no comércio exterior?
— O mesmo, estou nessa área há algum tempo. — Descansou a cabeça no apoio do banco. — Apesar do stress diário, eu gosto.
Harry mordeu o lábio inferior e se sentiu péssimo, como será que ela reagiria quando descobrisse a verdade? Que na verdade sua vida não era tão comum assim, que estava ocultando uma parte um tanto importante da sua pessoa que poderia mudar a vida dela drasticamente?
Ela poderia o odiar para sempre.
— Espero que esteja com fome, a comida desse restaurante é simplesmente sensacional. Aliás, estamos quase lá.
— Estou faminta. — E realmente estava.
O muffin em seu estômago não fora o suficiente por mais de três horas, e certamente se não tivesse aceitado este jantar, estaria no fast food mais próximo do escritório enchendo se empanturrando de batata frita.
Era um restaurante bonito, e pela fachada parecia ser realmente chique. Harry parou o carro na porta e encarou Amanda, que nervosamente arranhava a palma da mão.
— Vamos? — Sorriu para ela, que ruborizou.
— Vamos.
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On Rainy Days [H.S] [PT/BR]
Hayran KurguAmanda não acreditava em destinos: a mística na palavra para vender romances clichês e alimentar esperanças nas pessoas não combinava com a menina. Harry, no entanto, acreditava fielmente em destinos, e principalmente que ele lhe reservava um amor p...