Quanto mais se olhava no espelho, mais retorcia o nariz. A maquiagem não era a mais bonita, mas foi o que conseguira fazer. O vestido em seu corpo não combinava nada com ela, os saltos lhe incomodavam e ela se sentia sufocada a cada segundo. Pouco passava das 18h e ela já estava de saco cheio.
Sabia que se ficasse mais dois minutos naquele quarto, Christina apareceria e gritaria com ela, como sempre. Merle apenas escutaria tudo calado, conivente com sua querida esposa. A morena pegou o celular e saiu do quarto, fechando a porta.
Aquela casa nunca lhe pertenceu e nunca foi parte daquela família, era fato. Atravessou o grande corredor e desceu a escada, evitando se aproximar de Christina e Merle, que saudavam um convidado da típica festa natalina dos Huber.
Uma oportunidade que eles tinham de fortalecer suas relações com as pessoas do hospital, que podiam criar vínculos e passar a imagem de família perfeita e feliz: Amanda rezava para que tivesse a oportunidade de dizer absolutamente tudo que tinha vontade, de expor todo o mal e todos os danos que aquelas pessoas causaram em sua vida.
Mas por ora, apenas precisava acenar e ser simpática, entreter os convidados de seus progenitores por algumas horas e depois sumir. Apesar do frio, suas mãos suavam.
— Filha, venha conhecer os Schmidt. — Christina disse com a voz doce, e os olhares se voltaram para a Analista.
Amanda caminhou em silêncio, evitando contato visual com eles. O homem de cabelos grisalhos, acompanhado de sua mulher e filho, julgavam-na da cabeça aos pés.
— Boa noite. — Sorriu falsa, estendendo a mão para os cumprimentar. — Me chamo Amanda. É um prazer.
— Boa noite Amanda. — A cumprimentou, o resto de sua família apenas acenou com a cabeça, dando um sorriso de canto e segurando a mão da menina quando livre. — Ouvimos falar muito de você.
A menina se afastou quando Christina jogara suas frustrações a eles, reclamando sobre como sua filha era rebelde e não fora para medicina, insinuando como deveria ser como o filho mais velho dos Schmidt, que com o dinheiro dos pais abriu uma clínica logo após a residência, estabelecendo-se no ramo da cardiologia.
Merle era um clínico geral num hospital grande da região, intercalando entre atuar na área e ministrar aulas da Universidade de Oxford. Christina, por sua vez, era uma renomada cirurgiã plástica, conhecida por suas técnicas impecáveis e operar celebridades do mundo inteiro. Negar a habilidade técnica de seus progenitores era impossível, mas tinha críticas sérias quanto as habilidades parentais.
A casa foi ficando cada vez mais cheia, pessoas e mais pessoas apareciam por lá, deixando os casacos perto da porta e adentrando pela luxuosa casa. Amanda se sentou perto da mesa quando os saltos já se tornavam insuportáveis, comendo um pouco de queijo escondida. As pessoas pareciam preocupadas demais em ostentar títulos e esbanjar seus filhos prodígios, bem como suas próprias conquistas. E isso de fato não a incomodava, afinal, a atenção não era voltada a ela.
A famosa festa dos Huber começara mesmo antes dela nascer, e todos os anos eram a mesma coisa: usar vestidos extravagantes, sorrir, ser simpática e ser comportar. Ela não gostava nada disso, mas ultrapassar a linha causava punições severas, e Christina era ótima nisso. O terror que passou quando criança criou marcas severas em sua alma, e tinha certeza de que jamais seriam apagadas.
— Se comporte, garota. — A voz ríspida, bem com um tapa em sua mão, foram o suficiente para que ela tivesse que se segurar para não gritar. — Não me envergonhe mais do que já fez. — Christina, após seu aviso, saiu do campo de visão de Amanda, que encarava sua mão atônita.
A marca do tapa já ficava vermelho em sua mão, ela inspirou duas, três vezes antes de se levantar. No caminho para subir, Merle lhe arrastou para cumprimentar os Sallow, tão estranhos quanto o sobrenome. Ela mantinha os braços para trás e sorria sem mostrar os dentes, prendendo a respiração quando seu progenitor segurou em seus ombros quando discursava o quanto amava sua filha.
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On Rainy Days [H.S] [PT/BR]
FanfictionAmanda não acreditava em destinos: a mística na palavra para vender romances clichês e alimentar esperanças nas pessoas não combinava com a menina. Harry, no entanto, acreditava fielmente em destinos, e principalmente que ele lhe reservava um amor p...