Henry Adams
- Chefinho? Está me ouvindo? – Evilyn estala os dedos em frente ao meu rosto, me trazendo de volta para a realidade.
- Desculpa, o que disse?
- Está tudo bem?
- Sim.
- Não parece.
- O que você precisa Evilyn?
- Que o senhor fique bem. – Sorriu. – E de um aumento.
- Já falamos sobre isso Evilyn, e a resposta é não.
- Injusto! Any e Charles tiveram uma promoção a duas semanas atrás, por que eu não?
Respirei fundo, precisava me acalmar ou acabaria mandando-a embora naquele instante. Eu estava estressado, havia muitos problemas acontecendo nas confeitarias, muitas coisas que saiam do meu alcance. Any também estava contribuindo para meu estado, a mulher estava me evitando a todo custo a quase uma semana, não sabia o que havia acontecido de errado ou o que eu havia feito, todas as vezes que tentava me aproximar ela fugia.
Ser afastado de Any tão de repente havia me entristecido, principalmente por não saber o motivo. Havíamos combinado que ela ficaria em casa por uma semana, mas o acordo despareceu de repente também. De alguma maneira aquilo estava me afetando mais do que deveria.
- Evilyn, se está insatisfeita aqui as portas estão abertas para que saia, não está presa aqui dentro.
- Nossa chefinho, que bicho te mordeu? Apenas estou pedindo um aumento, acho injusto que Any e Charles tenham ganhado e eu não.
- Eles mereceram ganhar. – Forcei um sorriso afim de encerrar a conversa por ali.
- Só por serem seus amigos? É injusto chefinho, todos concordam comigo.
- Então que todos venham reclamar diretamente comigo, não irei aumentar o salário de ninguém no momento.
- Injusto! – Bateu na mesa. – Não pode favorecê-los apenas por serem seus amigos, todos merecemos ser reconhecidos também.
- Saia!
- O que?
- Saia da minha sala agora! – Gritei. – Agora Evilyn!
A mulher rapidamente se retirou, me fazendo afundar na cadeira novamente. Eu sabia que havia muitos talentos naquela cozinha, e que todos mereciam reconhecimento por isso, mas Evilyn não era um desses talentos novos. A mulher era boa no que fazia, mas atualmente estava na minha lista de "demissão". Não aturava mais seu comportamento em minhas lojas, estava passando por cima de todos, abusava dos novatos e ganhava crédito por alguns dos seus aprendizes. Evilyn já havia sido muito boa, mas atualmente era apenas um peso nas costas.
Respirei fundo, precisava manter o foco nas papeladas sobre minha mesa. Teria que fazer uma seleção difícil de quem permaneceria comigo e de quem seria mandado embora, essa era a parte mais difícil para mim.
- Estou saindo para uma entrega agora, precisa de alguma coisa? – A voz de Charles preenche o silêncio do escritório.
- Não, obrigado.
- Você está bem?
- Sim.
- Se você diz. – Suspirou. – Já vou indo.
- Turner. – O chamei novamente, fazendo-o se voltar para mim. – Poderia buscar Mason para mim? Estou enrolado com alguns papeis aqui e não vou conseguir buscá-lo agora.
- Claro, Katy também?
- Não, minha mãe ficou com ela hoje, provavelmente já estão em casa a essa hora.
- É para trazer o garoto para cá?
- Por favor.
Charles se retirou novamente do escritório, me deixando a vontade com os papeis. Olhei-os novamente, não sabia se começava pelas demissões ou pelas contratações. Era a primeira vez que faria aquilo sozinho, a última vez que as confeitarias Adams tiveram um corte tão grande eu ainda era aprendiz de Maciel Adams.
Olhei a minha lista particular de demissão, anotava algumas atitudes imperdoáveis dos funcionários, as reclamações dos clientes era as principais anotações ali. Passei a olhar a ficha de todos os funcionários listados, apenas dois deles eram novatos, suas relações eram de "demora no atendimento", eliminei eles da lista. Os dois teriam novas chances, afinal era apenas o começo de ambos, precisavam de mais tempo para se adaptar. Encarei os outros sete restante, todos com anos de trabalho comigo, e consequentemente com diversas reclamações também.
- Escrevendo um livro? – A brincadeira de Mason me faz olhá-lo, sua camiseta do time estava grudada em seu corpo, mas diferente do que pensei, o rapaz estava cheirando bem. – Tomei banho antes de vir. – Explicou ao me ver encará-lo.
- Continuou com a blusa?
- Esqueci de levar outra. – Mason retirou a bolsa de seus ombros, jogando-a em um canto do escritório. – O que está fazendo?
- Tentando salvar minhas lojas.
- Momento difícil?
- Podemos se dizer que sim, o dinheiro que estamos ganhando não está suprindo as três lojas.
- E o que vai fazer?
- Eu não sei. – Suspirei, eu realmente não sabia. – Minha ideia inicial é demitir algumas pessoas, contratar outros e vê no que dá, mas está mais difícil do que pensei.
- Por quê?
- Não consigo demitir ninguém.
Mason prendeu a risada na garganta, me fazendo sorrir. Virei meu caderno com as anotações e as fichas dos sete funcionários para Mason.
- Vamos lá, faça você.
- O chefe é você.
- E você o subchefe.
- Certo. – Sorriu. – Então tenho uma ideia ainda melhor.
- Sou todo ouvidos.
- Feche a terceira loja, pegue os melhores daquela loja, demita todos que você quer demitir, e pronto. – Bateu uma mão na outra. – Duas lojas cheias de funcionários, talvez dê certo.
Ponderei por alguns minutos aquela ideia. Mason pensava como eu a alguns anos atrás, quando meu pai ainda era o chefe das confeitarias. Maciel estava prestes a abrir a terceira loja, mas eu fui contra, estávamos desestabilizando duas lojas apenas para expandir o nome Adams, infelizmente meu pai não me ouviu.
- Foi uma péssima ideia, desculpa.
- Não, não foi.
- Não?
- Não. – Sorri. – Obrigado Mason.
- Fico feliz de ter ajudado. – Respirou fundo, se mexendo desconfortável na cadeira em minha frente. – Aproveitando que estamos aqui, eu queria conversar com você.
- O que aconteceu? – Perguntei, me amaldiçoando por ter dito tão rudemente.
- Queria falar sobre domingo. – Mordeu o lábio inferior. – 'Mason Adams' – Imitou minha voz, me fazendo engolir em seco.
- Desculpa por isso Mason, eu disse sem pensar.
- Tudo bem, eu... Andei pensando, e acho que seria legal se Katy tivesse seu sobrenome, se o senhor quiser é claro.
- E quanto a você? – Sorri. – Mason Adams soaria muito bem.
- Exceto quando você está gritando.
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Doce criança
General FictionA vida de Henry Adams se transformou em um verdadeiro inferno depois que seus pais determinaram que ele deveria dar-lhes um herdeiro caso quisesse continuar comandando a empresa da família. Logo ele, um homem de 30 anos que não se importava com nada...