CAPÍTULO 10

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ARIEL

— Oi? Está brincando não é, já pessoas por céus!
Tive vontade de gritar, mas me controlei, não valia nada começar um espetáculo no corredor da clínica pela sua ousadia em pedir para “me livrar dos fetos”. Não haviam mais “fetos”, eram bebés formados e prontos para virem ao mundo conhecer a mãe e, talvez, conhecê-lo. Respirei tentando me acalmar. O que eu esperava de alguém que tinha me xingado por atrasar cinco minutos? Era normal que eu ficasse indecisa sobre o que vestir para a ida a clínica, não era necessário que ele gritasse comigo por isso. Eu tinha completa ciência de que ele era um homem ocupado e que o mundo não girava a minha volta.

— Ninguém aqui trabalha para você, então da próxima vez que me fizer esperar, irá a pé — ele disparou, antes de me dar as costas e entrar no carro.

Revirei os olhos agradecendo que não haveria uma próxima vez, eu não era louca de engravidar dele novamente. Entrei no carro e fiquei em silêncio. E foi assim o trajeto inteiro, aliás, ele estava em chamadas uma atrás da outra. Era ocupado e rude, sequer se dera ao trabalho de me ajudar a apanhar a bolsa quando a mesma caiu a minha descida do carro. Um dos seus funcionários apanhou e eu o agradeci antes de entrar na clínica. O que se sucedeu dentro não foi diferente do ambiente do carro, nenhuma palavra foi trocada durante toda a recolha de amostras, ele permaneceu no seu celular com uma carranca e eu o ignorei. Talvez ele devesse ter ficado mais tempo calado, teria evitado o que acabava de dizer.

— Você fumou? — perguntei fincando o olhar. — Se não o fez para usar como desculpa, deixe-me dizer que está sendo um escroto, não há mais fetos, estou com seis meses de gestação.

— E? — Agiu como se eu não tivesse dito nada de interessante.

— E que se você tivesse tirado dois minutos e me questionado ontem eu teria tido a paciência de te explicar o que seis meses significavam. — Balancei a cabeça incrédula. — Já são bebés, tem membros como você, um rosto como você, tem coração e têm até um sexo já definido.

— Você não está sendo lógica, pode ou não interromper a gravidez? — Olhou para o relógio no seu pulso, impaciente. — Estou atrasado, seja rápida.

— Não.

— Porque não quer ou porque não se pode mesmo?

— Não está me ouvindo, são seis meses, são duas vidas e não, eu não quero.

— E se eu te der uma razão para querer? — Disse, com uma confiança que me deu medo.

— Não há nada que possa me fazer querer algo assim. Eu entendo que esteja confuso, com medo, eu também já passei por isso, mas agora eu sei que esses bebés são a verdadeira alegria, são meu mundo.

— Te darei um cheque em branco, assine o valor que quiser e acabe com isso —disse.

Estalei minha mão, impulsivamente, em seu rosto e o barulho ecoo pelo corredor criando espetadores para a cena. Ele me olhou em uma linha fina com sua mão massageando a face em que minha descansou. Merda! Tentei me aproximar, mas ele me travou com a palma da mão, impedindo-me de pedir desculpas e girou os calcanhares para a saída sem olhar para trás. Fui de seguida e me surpreendi que ainda estavam esperando por mim, eu jurava que teria de apanhar um táxi depois disso. Entrei no carro e o encontrei acomodado em seu canto, com o computador aberto em seu colo, o celular ao lado e um fone no ouvido.

— Desculpe-me, eu não... — fui interrompida.

Atendeu a chamada e depois de falar por longos minutos pediu para não ser incomodado por meia hora, então juntou os aparelhos eletrônicos e guardou-os numa pasta tomando-me em sua visão de seguida.

UM LAÇO ETERNO《#Orfãos Cardin 1》Onde histórias criam vida. Descubra agora