CAPÍTULO 4

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ARIEL

▪︎Sábado, o dia do casamento

— A partir daqui terá de seguir sozinha. — As palavras saíram da boca de Alysson sem nenhuma emoção, era como se ela acabasse de jogar um balde de água fria em mim. Seguir sozinha? Ela disse que me ajudaria com tudo! Porquê estava abandonando o barco antes de sequer chegarmos a metade do destino? Afundei minha cabeça entre as mãos e suspirei desacreditando naquilo. Porquê fui confiar numa estranha? Porquê me coloquei nessa situação pela segunda vez? Era suposto ter apreendido algo com meus erros. Devia ter seguido com meu plano, vender meus bens e me inscrever em algum abrigo para grávidas, o dinheiro da venda me aguentaria por um tempo e além disso teria apoio de mulheres na mesma situação. Mas não, preferi pôr fé numa estranha. Para o quê? Ser abandonada nos portões de uma mansão com o que sobrou da minha vida, uma pequena mala de roupa. Santo céu! — Está chorando? — Ela perguntou com espanto.

— Não, estou rindo de emoção porquê você vai me abandonar justo agora.

— Ariel por céus, — revirou os olhos, — ainda vai precisar da minha ajuda para que consiga ter uma gravidez menos estressante como o médico recomendou. Não posso entrar consigo e pôr em risco o meu emprego. Eu preciso do meu posto para poder te ajudar de verdade.

— Aí é? Porquê não me disse isso antes? Eu não teria aceitado esse seu plano de me humilhar.

— Não é humilhação se é um direito dos seus filhos, eu já te expliquei isso. — Pela enésima vez ela disse aquilo. Como não era humilhação? Eu nunca pedi nada a ninguém, desde que o destino me fudeu sempre trabalhei para me sustentar e pagar minhas contas. Faria o mesmo por meus bebés se tivesse seguido com meu plano, não precisavamos de ninguém, eu devia ter me convencido disso ao invés do contrário. Não precisava repousar, precisava trabalhar. — Para de chorar, vai colocar tudo a perder se entrar lá já cheirando a derrota. Só tinha um homem naquela festa, Ariel e só ele pode ser o pai desses bebés.

— Como tem tanta certeza disso? Eu nunca te disse nada, posso ter dormido com outros homens.

— E você dormiu com outros homens? — Não respondi, não a conhecia o suficiente para lhe dar detalhes da minha vida. Mas conhecia para confiar o destino da sua gravidez?! Limpei as lágrimas com os dorsos das mãos e inalei profundo. Eu nunca dormira com ninguém antes, e não foi por falta de tentativa do sexo oposto de me convencer a fazê-lo, já recebera cheques tentadores, viagens para onde se consumaria o ato, até uma proposta de casamento recebi. Não aceitei nenhuma, não me interessavam, os homens não me transmitiam segurança. Algo que posso afirmar ter tido naquela noite ao cruzar as órbitas azul marinho. O homem era um pecado e eu não resisti. Entretanto, a inexperiência me traiu. Deixei tudo em seu comando, ele não deve ter usado camisinha eu acho, ou a mesma pode ter rompido, eu não sabia, mas os bebés estavam aqui. — Foi o que eu pensei, — Alysson disse, tirando os olhos de mim e concentrando-se em algo no seu celular.

Permaneci quieta no assento frontal de passageiro do seu carro, não podia culpar ninguém por estar onde estava. Eu conhecia os riscos quando aproximei-me dele decidida a dar-lhe muito mais que uma dança. Podia ter sido pior, eu podia ter pego alguma doença. Gravidez era uma benção em meio as inúmeras possibilidades. Engoli o choro e me convenci de que não tinha outra opção melhor. Baixei o vidro da porta e a brisa quente bateu no meu rosto e amorteceu o efeito do ar condicionado da viatura. Odiava o verão, sempre suada e húmida, sem contar que era a estação que tinha minhas piores recordações. O sol não queima só a pele, queima plantações, seca poços e cria fome. Peguei uma garrafas de água no porta luvas e bebi um gole longo enquanto afastava memórias indesejáveis.

— Sente-se pronta?

— Sim. — Suspirei, limpando as palmas das mãos no vestido.

— Mostre o convite que te dei, quando perguntarem sobre a mala diga que acaba de chegar de viagem e não deu para ir deixar ao hotel porque não pretendia se atrasar para cerimónia. — Acenei. — Vai dar tudo certo, — me tranquilizou. — Consegui alguém para te dar apoio, se precisar descansar, se alimentar ou quiser qualquer coisa fale com Joane, é a governanta da casa, ela é uma pessoa boa.

UM LAÇO ETERNO《#Orfãos Cardin 1》Onde histórias criam vida. Descubra agora