CAPÍTULO 14

2.8K 373 30
                                    

ARIEL

As mudanças de humor repentinas de Heroux não me incomodavam ultimamente. Já estava me acostumando a uma manhã quente e uma noite fria, era como as coisas aconteciam, geralmente, era gentil nas manhãs e carrancudo ao voltar do trabalho por volta das oito da noite. E eu não o perturbava, queria minha paz e sua, principalmente depois de ter disponibilizado-se em pagar minhas consultas e ter me dado algum poder sobre a minha enfermeira. Maya, com quem eu tinha tido uma longa conversa sobre privacidade e socialização, compreenderá que eu precisava de espaço e sem ressalvas aceitou o ajuste que sugeri no horário. Ela passaria a vir três vezes por semana, por volta das dez e sairia as três da tarde. Nos últimos dias, tinha vindo no sábado e me ajudado com exercícios para fortificar o quadril, também não tinha sido mecânica, havíamos conversado muito. Quem também tinha conversado bastante comigo foi Alysson. Na sexta-feira ao meio dia, após eu ter ligado para ela como Heroux sugeriu e informado que precisava de algumas peças de roupa, ela veio com uma “conselheira da moda”. Na verdade, era uma mulher alta, magra e bastante elegante, que vestia famosos. Eu não era famosa, mas de alguma forma ela estava ali para me vestir.

— O verão é Christian Dior querida, mas as estampas da Versace combinam melhor com seu tom de pele — falou aquilo, não é um tom discriminatório, e puxou um vestido amarelo esverdeado justo com estampas de animais e me estendeu. Eu segurei e logo suas ajudantes vieram com os sapatos e toda prontidão para me ajudar a vestir. — Vamos nos divertir muito, sua pele parece mármore, combina com cores alegres e eu adoro cores alegres — me sorriu e voltou a buscar outro modelo, um prada desta vez.

— Aproveita, ela é uma das melhores stylists e foi difícil conseguir que ela viesse — Alysson sussurrou no meu ouvido quando eu esbocei uma cara de pânico, pedindo sua ajuda. — Senhor Cardin teve que ligar pessoalmente para ela e pagar o dobro do que ela cobra, só para ela cancelar parte da agenda e vir te atender.

Não entendi se ficava lisonjeada ou aterrorizada com a confissão. Eu não me sentia confortável com ele comprando roupas que custavam um mês de ganhos meus no tempo do clube, eu só queria umas peças comuns de uma loja comum. Não um Gucci ou Dior. No entanto, não havia espaço para recusas da minha parte, era só eu sorrir ou me deslumbrar com alguma peça que a mulher rasgava a etiqueta e a roupa passava a ser automaticamente minha. Ela fez aquilo bastante. Com vestidos, saias, blusas, bolsas, sapatos, roupa de praia e de dormir. Eu estava comprando roupa de dormir de marca. Nem nos meus sonhos mais prósperos eu poderia acreditar de algo assim. Eu, Ariel, dormia com minha camiseta tamanho grande e velha que tinha comprado cinco dólares numa loja de segunda mão.

— Agora vamos para parte que toda mulher adora — bateu as palmas de um jeito bem divertido, eu sorri. — O que você mais gosta? Rendas, fios, cintas. . . — ditou puxando as várias opções de lingerie. Eu quis enfiar minha cara em algum lugar com aquilo.

— Heroux pediu para trazeres isso? — Perguntei, incrédula.

— Não, mas se alguém te dissesse “leve tudo o que uma mulher pode precisar” o que você entenderia? — Não respondi. — Exatamente, levaria tudo assim como eu. Vamos, escolha.

— Eu gosto de renda — confessei, estavamos em entre mulheres. Todas me olharam, até Alysson. — O que foi?

— Ótima escolha, mas tem que levar algumas coisas confortáveis, eu sei como é estar grávida. Calvin Klein combina com o momento. — Me passou meia dúzia de conjuntos. — Quando eu estava grávida da minha filha eu quase não usava nada por embaixo, tudo me incomodava.

— A mim também, só uso quando vou sair — recolhi as lingeries e as outras peças, ela incluiu cintas sem eu pedir e disse que deveria confiar nela, que eu precisaria daquilo em algum momento. Não questionei que momento seria esse e apenas aceitei.

UM LAÇO ETERNO《#Orfãos Cardin 1》Onde histórias criam vida. Descubra agora