CAPÍTULO 33

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HEROUX

Desde a chegada das minhas filhas minha vida estava agitada, eu não tinha tempo para mim como antes, porém, com os recentes acontecimentos me vi forçado a arranjar algumas horas do meu dia para tratar de assuntos que totalmente me diziam respeito e era trabalho. A Arnault, embora estivesse como eu queria, estava me dando mais dor de cabeça que o esperado. A falência daquela empresa não poderia me importar menos, o sofrimento de François perdendo tudo me deixava satisfeito. Tanto que eu já tinha uma resposta para Cartier, só tinha que atender ao chamado de Sullivan — que tinha prometido me deixar em paz pelo próximo mês, mas se sentiu no direito de me perturbar porque o que tinha de falar “era urgente”.

— Obrigado Mathias, pode me esperar, serei rápido. — Pedi descendo.

Entrei no consultório de Sullivan e o encontrei sentando com uma expressão de poucos amigos.

— Sente-se Heroux, — apontou a cadeira. — Hoje, preciso que me escute.

— E vou receber por isso? — Brinquei e ele deu um sorriso fraco, o que quer que fosse, era sério. — Aconteceu algo?

— Sim. Lembra quando acordou no hospital? — Ele e Aubert estava na sala em que fiquei desacordado e Sullivan pediu que eu falasse sobre algum sonho, do qual eu não me lembrava para ser honesto. — Então, certamente lembra que lhe pedi para relatar seu sonho e você se recusou. — Acenei acompanhando sua lógica. — Não houve sonho, quando saiu em choque da sala de parto, eu decidi que era hora de aproveitar que sua mente estava em pausa para correr entre suas lembranças. Aubert não concordou para que fique claro, fiz tudo sozinho gozando do meu poder de seu psicólogo e amigo por dez anos. Pode me processar, se irritar, se zangar, mas eu fiz pelo seu bem — se explicou me deixando mais confuso.

— O que você fez? Me hipnotizou? — Perguntei cauteloso.

— Sim, mas foi para descobrir a verdade — Suspirou. — Eu descobri como perdeu parte de suas memórias, você contou enquanto estava mergulhado no “sonho”. Mas eu tive que ir mais a fundo das suas revelações — o interrompi.

— Mais a fundo das minhas revelações? Eu pedi para não fazer isso — lembrei-lhe.

— Eu sei, mas como não estava em si achei que seria mais fácil e foi. Heroux, neste último mês, consegui reunir informações suficientes para te ajudar.

— Me ajudar? Como algo assim pode me ajudar? Estou tentando deixar o passado no passado e você faz isso? Justamente o que eu disse que não estava preparado para saber.

Irritei-me e levantei juntando o objeto mais próximo. Eu queria as respostas? Sim, mas não no momento mais feliz que já tive nos últimos anos. Agora que finalmente me sentia bem, animado para uma outra etapa da minha vida, tinha de retroceder. Olhei para Sullivan em pura deceção.

— Não, você disse que as outras memórias voltavam com intensidade e eram dolorosas, em momento algum me disse que não queria saber.

— Dá no mesmo, devia ter me respeitado. Não tinha o direito de invadir minhas lembranças.

— Sei que não, mas tudo o que precisa saber está aqui — me estendeu um pen drive, — quando se sentir pronto leia, veja por você. Eu sei que tudo o que passou foi difícil e sinto muito mesmo, mas mais do que ninguém merece saber sobre tudo porque precisa realmente enterrar de uma vez por todas esse assunto. — Levantou vindo até mim. — Só poderá enterrar depois de ter todas as resposta das perguntas que não calam.

UM LAÇO ETERNO《#Orfãos Cardin 1》Onde histórias criam vida. Descubra agora