UM LAÇO ETERNO《#Orfãos Cardin 1》

CAPÍTULO 18

ARIEL

Sentia-me completamente sufocada pelo rumo que tudo havia tomado, depois do almoço tínhamos retrocedido uns bons dias de evolução e mesmo que eu não conseguisse entender porquê, eu estava me conformando aos poucos com sua decisão. Heroux deixara bem claro que não fazia questão de nada ao mandar seus advogados ter comigo e discutir os “termos do acordo”. O único termo que eu queria discutir era sua presença, mas essa ele sublinhara em letras garrafais que não tinha vontade de oferecer. Eu não entendi e ainda assim assinei. Porquê que diferença fazia? Eu tinha ido a consulta da ecografia sozinha, como sempre, e comemorado sozinha pela descoberta. Eu teria duas meninas, duas princesas para chamar de minhas, duas amigas. Eu chorei tanto de emoção, meu coração se encheu e voltei para casa ansiosa para contar para alguém. Infelizmente não tinha ninguém.

Mantive-me isolada, decidida a não cruzar com Heroux e, quando seus advogados vieram ter comigo tive certeza de que essa tinha sido a melhor decisão. Eles me visitaram numa quinta-feira, eu não esperava por aquilo, ainda assim me despedi de Maya e sentei para ouvi-los.

— Senhorita Ariel, — acenei — nós somos da equipe que representa os interesses do senhor Heroux Aville Cardin e estamos aqui para discutir o melhor para a senhora e seus bebés.

— Eu não quero nada — me adiantei, ingênua demais por pensar que com essa frase desistiriam.

— Senhor Cardin nos alertou sobre isso — a mulher do grupo se aproximou de mim, — não seja orgulhosa, deixe seus filhos terem o mínimo, é direito deles. O que acha de uma pensão de cem mil por mês?

— A senhorita poderá comprar um apartamento ou uma casa quando desejar e todos os itens que os bebés precisarem antes da chegada. — Os papéis começaram a ser retirados, dez páginas por cada pessoa. — O senhor Cardin deseja começar um fundo para assuntos educativos e escolares, cinquenta mil por mês está bom para a senhora? Será pago durante dezoito anos.

Eu estava enlouquecendo no meio de tantas falas polidas questionando se a quantia X ou Y era razoável para mim. Nada era razoável para mim senão a presença, compartilhamento da educação e tudo o que o colocasse perto das filhas. Eu queria isso, mas o que tive como resposta foi uma bala atirada direto para meu coração. E foi a mulher que me deu a informação.

— Senhor Cardin está abrindo mão disso, ele não pretende cuidar dos bebés, não terá nenhum contato e não gostaria que contasse coisas sobre ele.

— Isso é algum tipo de brincadeira, não é? — Como ele poderia querer tal coisa?

— Sinta-se sortuda Ariel, nem todas as mulheres conseguem que o responsável por sua gravidez assuma o seu papel financeiro — a mulher alisou minha mão, — você é uma em cada cem que não terá de ir ao tribunal pedir por assistência. Tudo está sendo te dado de bandeja. Pense nisso como um bilhete de loteria, você ganhou.

Olhei para aquela mulher de lado, o que ela estava tentando dizer? Que eu era uma interesseira e que buscava acordos financeiros favoráveis? Sacudi minha cabeça me afastando deles.

— Não sou interesseira.

— Ninguém está dizendo que é — um homem, o mais velho do grupo, se aproximou. — Se fosse uma estaríamos num tribunal agora, entretanto fomos mandados aqui. O que significa que o interesseiro é o nosso cliente, que tem interesse em vos ver bem.

Não tive mais forças para rebater as falas que se seguiram do senhor. Fiquei robótica ouvindo ele me explicarem tudo com paciência e educação. No final, quando percebi qual era a decisão de Heroux, eu assinei. Aceitei que minhas filhas não tivessem um pai, colaborei de livre e espontânea vontade com o abandono porque de qualquer das formas ele não se faria presente. Como o senhor disse, era melhor um abandono com conforto que um que pudesse me gerar problemas no futuro. Concordei, se eu tivesse o dinheiro poderia me preocupar menos com assuntos como seguros de saúde, fundos universitários, eu poderia dar a elas uma vida melhor que a que tive. Ainda assim, tranquei-me no quarto para chorar em paz por perder a única coisa que mais queria. Uma família para elas, algo que eu também não tive e sabia perfeitamente como eram devastadoras as consequências daquilo.