CAPÍTULO 5

3K 356 40
                                    

HEROUX

▪︎Sábado, o dia do casamento

Minha semana fora um sucesso. Embora tivesse me rastejado em toda ela pelas péssimas noites de sono, meus objetivos foram alcançados. Bernard ligou-me pela manhã de sexta-feira, para informar que tinha conseguido melhor que comprar apenas algumas ações, tinha feito uma aquisição completa da filial de distribuição. Oficialmente a rede de lojas Jewel & Art era minha, por completo, cem por cento e por um preço bem razoável. Para uma empresa que valia trezentos milhões e que em uma semana passou a valer quarenta milhões, a oferta de sessenta que fiz foi bem tentadora para eles, vinte milhões acima do que os outros estavam oferecendo. Não tinham como recusar. O agradeci por estar a ajudar-me e aproveitei para deixar minha primeira ordem, devolver toda mercadoria existente, congelar as já requisitadas e fechar todas as lojas por um mês, em todo o mundo, para a reabilitação. As lojas seriam modificadas e viriam em um novo formato, um que não envolvia só a Arnault.

Meu desejo era expandir o mercado de acessórios, não queria só vender joias de grande valor pelos componentes da mesma, queria acrescentar valor ao trabalho que se tinha para fazer uma. Ire lançar uma competição pelo mundo para vários artesãos de acessórios criarem suas melhores coleções e submeterem, as que forem aprovadas, pela comissão que irei criar, irão em exposição na reabertura das lojas. Originalidade e inovação serão as palavras chaves da competição. Além de que Bernard sugeriu entrevistas, para selecionar os funcionários certos para o que pretendemos entregar ao mercado na reabertura, eu concordei. A última coisa que queria eram funcionários com aquelas caras de “este lugar não é do seu nível” do tempo em que vendiam os acessórios milionários da Arnault.

Tínhamos falado por horas e quando encerramos eu já estava cheio de novas ideias, passei o resto da tarde trabalhando enquanto contava as horas para minha saída. Quando voltei ao hotel onde estou hospedado há exatos cinco dias, — para deixar meu irmão e sua noiva a vontade organizando a cerimónia na minha casa — acomodei-me num canto na companhia de uma garrafa de vinho e meu computador para desenhar detalhadamente as sugestões novas para minha recente aquisição. Não dormi, ao menos não pela noite já que temia ter pesadelos, geralmente, pequenos recortes da minha infância que vem para me assombrar. Entre viagens esporádicas de trabalho e situações emergenciais como esta, durmia no início do dia, pelas quatro da manhã, pois conseguia ao menos duas horas de descanso.

Quando dormisse na minha casa, havia dias que não tinha pesadelos ou os tinha depois de umas cinco horas de sono. Tempo razoável para me declarar oficialmente recuperado do cansaço. Por essa razão não via a hora do horror que meu irmão instalou em minha vida terminar logo, hoje de preferência. Não aguentava mais me sentir triturado porque dormia pouco e trabalhava imenso e, por mais que tenha como resolver isso, não quero apelar para os comprimidos, progredi imenso e a ideia de tomá-los não me agrada.

Recolhi-me da cama e fui até ao quarto de banho, pelo reflexo do espelho olheiras profundas, parecia uma fantasma, não tinha como estar diferente depois de ter ficado acordado das sete da noite até as cinco e meia. Dormi apenas as duas horas que conseguia quando estava longe de casa e agora estava a organizar-me para o grande dia do meu irmão. Era hoje. O bom disso é que podia voltar para o conforto único da minha casa. Nunca me arrependi de ter gasto cinquenta milhões adquirindo o imóvel, pois desde que pus os pés ali, com o agente imobiliário quase chupando meu saco, eu soube que pertencia àquele lugar. Amava alturas e o fato da casa estar em um lugar alto com uma vista incrível facilitou tudo. Assinei o contrato de compra no mesmo dia e mudei no seguinte, deixei minha antiga casa para Gui.

Entrei no box e deixei a água morna relaxar meus músculos, não demorei no banho. Pentiei o cabelo para o lado e coloquei a borboleta no colarinho, odiava essa versão gourmet de gravata, mas infelizmente era o que meu irmão escolheu. Terminei de vestir e coloquei a única peça de relógio que tenho, um Patek que me foi deixado no testamento da minha mãe e que pertenceu ao meu avô. Usava a peça pela importância que tinha e não porque gostava de acessórios, além de que era a única coisa que tinha sobrado do longo testamento dela. Todo o resto meu tio converteu a seu favor enquanto era meu tutor, todas joias, a coleção de carros clássicos que minha mãe herdara do pai e os cinquenta e um por cento das ações da Arnault.

UM LAÇO ETERNO《#Orfãos Cardin 1》Onde histórias criam vida. Descubra agora