UM LAÇO ETERNO《#Orfãos Cardin 1》

CAPÍTULO 24

ARIEL

Heroux puxou minha mão e apertou enquanto tentava espantar o frio. Eu não sabia o que dizer, sua confissão havia me deixado sem palavras ao me pegar de surpresa. Todos tínhamos coisas com as quais eram difíceis de lidar, todos nós em algum momento pareciamo-nos com ele, perdidos e com medo. Fechei os olhos, uma lágrima solitária rolou e limpei rapidamente baixando minhas órbitas para a palma da minha mão. Ele fazia círculos nela, completamente alheio ao momento, aquilo me causava arrepios e enviava sensações já conhecidas por minha espinha.

— Vamos, precisa sair daqui e se agasalhar — toquei-o para que se levantasse. Ele fez e tive que virar para levar as roupas de Isaiah e oferecer-lhe. Eu já o tinha visto nu, mas não queria fazê-lo mais vezes que o necessário. — Vista-se e me siga.

Vestiu-se e me acompanhou, coloquei-o na minha cama, entre as minhas cobertas e fui a cozinha buscar as coisas que pedi para Ximena fazer. Sentei-me no banco próximo a cama e o encarei enquanto tomava o chá. Ele estava silencioso demais e tímido, mal conseguia me encarar de volta. O que era totalmente oposto do que vi quando estive na sua casa. Ele olhava nos meus olhos e me dava a liberdade de lê-los. Agora eu não estava conseguindo, com isso, daria qualquer coisa para ler seus pensamentos.

— Pode perguntar, fique a vontade — sua voz recuperada me surpreendeu. Eu pisquei acordando rápido para a realidade. — Eu também tenho umas perguntas.

— Sobre o quê? — Me indiretei, ajustando o robe do vestido de dormir e ouvindo sua resposta. — Sobre mim? Não vejo que tipo de dúvidas poderia ter sobre mim, já eu. . . — deixei a frase perdida na distância entre mim e ele.

— Porquê foi embora? Eu procurei por você. — Arqueiei a sobrancelha, ele estava mesmo perguntando aquilo. Bom, eu podia contar os motivos pelos quais tinha decidido partir, talvez escrever uma lista, mas só haveria um que faria completamente sentido.

— Não havia espaço para minhas filhas na sua vida, porquê eu ficaria? Eu queria dar-lhes um pai e você deixou claro que não pretendia ser um, não fazia questão de ser um — o acusei.

— Eu mudei de ideias — abandonou a chávena e engatinhou até mim. — Eu mudei de ideias, eu quero tentar ser um.

Eu me levantei criando mais distância. Eu não acreditava naquilo. Me enconstei a porta segurando a maçaneta. Ele me encarou com os olhos esperançosos. Eu não acreditava naquilo. Continuei me dizendo enquanto as lembranças dos tempos que passei na casa dele me preenchiam. Não tinha sido de todo mau, houve um e outro momento bom, mas a infelicidade esteve ali por muitas horas dos dias e nos últimos antes da minha partida, havia sido pior. Eu precisava de apoio de pessoas que se importavam comigo de verdade e não daqueles que estavam fazendo seu trabalho. Ele deveria ter sido essa pessoa, mas deixou claro que não se importava.

— Até quando? Quanto tempo vai durar essa sua tentativa? — Levantei a palma o parando de vir até mim. — Você me deu esperanças da última vez com suas atitudes e depois, do nada, me fez assinar um acordo estúpido. Como posso confiar que não me fará isso novamente? Pior, depois de se fazer presente por tempo suficiente para elas te conhecerem e habituarem, para depois me deixar explicando que de repente ser pai te cansou?

— Isso não vai acontecer.

— Não? Que garantias eu tenho que não?

— Eu estou aqui te dizendo isso, não vai acontecer, eu prometo. — Soltei um riso anasalado. Promessas. Eu não tinha mais dez anos para acreditar nelas. — Ariel, me dê essa oportunidade de tentar.

— Tentar — balancei a cabeça negando, — se eu te der alguma oportunidade não vai ser para “tentar”, vai ser para cumprir seu papel, sem possibilidade de escapatória. Não poderá reconsiderar depois — fui firme. A vida real não era um jogo onde as pessoas tentavam ganhar, elas precisavam ganhar.