CAPÍTULO 3

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HEROUX

▪︎Domingo, 5 dias antes

O dossiê com as informações sobre a noiva do meu irmão foi-me enviado no percurso que fiz para prova dos ternos dos padrinhos. Tirando a dívida dos pais dela, detalhe que suponho Aubert não saber sobre a existência, — pois já teria ativado seu modo altruísta e os ajudado a pagar— não havia mais nada comprometedor acerca dela. Alterei minha visão entre a animação de Aubert e as últimas páginas do dossiê, ele definitivamente tinha cara de alguém que pagaria sem piscar os quatrocentos mil dólares gastos em carros, viagens e propinas universitárias, coisas que seus futuros sogros não conseguiam adquirir sem recorrer a créditos.

Fechei a pasta e guardei, se as pessoas entendessem que não precisavam viver todos os luxos do mundo seriam mais felizes e morreriam menos por stresse. Valia tanto ter o último lançamento de carro e perder noites pensando em como pagar as prestações dele e continuar usufruindo os serviços básicos? Carro não era um tipo investimento, a manutenção sim. As pessoas deviam comprar coisas que necessitavam. Eu, por exemplo, comprei um jato por ser uma necessidade, precisava locomover-me a qualquer momento para negócios e as vezes em horários nada comerciais.

— Posso levar mais ternos? — Aubert perguntou, animado.

— Claro, disponha. — Levantei-me indo ao encontro do funcionário que carregava um conjunto etiquetado com meu nome. — Seus amigos também podem fazê-lo, se quiserem. — Estava no meu modo “graças", o mais raro de todos, então era melhor meu irmão aproveitar, mas sem abusar ou trazer o assunto da minha casa na conversa. Os três padrinhos não se demoraram em aproveitar a brecha, Aubert fez o mesmo, porém, ao invés de ir a caça aos ternos seguiu-me até ao provador. — Preciso de espaço, não sei se notou — informei com uma carranca.

— Hmm — cruzou os braços no peito, desafiei-o com o olhar. — Meu Deus Heroux, sou homem igual a você, tem medo que eu veja seu pau murcho na cueca? Relaxa, não farei piadas acerca disso, até porquê já sabemos que tem o pau mais grande — começou a dar voltas, do jeito que fazia quando queria pedir algo.

— Não, eu não sei, fale logo o que quer — soltei, impaciente.

— O pai da Elle conseguiu uma autorização para participar do casamento, — fez uma pausa e coçou a nuca, nervoso — autorização da cadeia, ele está preso aguardando o julgamento.

— Desculpa? — Olhei para meu irmão, esperando o momento em que ele dizia que aquilo era uma brincadeira. Que ele não estava trazendo problemas para nossa família — que já os tinha em demasia. — Seu sogro está preso?

— O pai da minha noiva está preso! — Corrigiu, como se fizesse alguma diferença. — Ele e Emanuelle não tem uma boa relação, então preferia que não se referisse a ele como meu “sogro”, obrigado.

Ignorei aquilo. Não me interessava nada sobre os traumas da noiva dele, eu já tinha os meus para lidar.

— Volte alguns segundos dessa história e me explique porquê não me disse essa merda antes? Tipo há dois meses atrás? — Minha voz subira alguns oitavos chamando atenção, puxei meu irmão para dentro do provador e fechei a cortina desejando estar a fechar uma porta, só para isolar nossas vozes. — Por quê ele foi preso?

— Falsificação de documentos para obter dinheiro da seguradora e roubo, — respondeu, levemente.

— Está me dizendo que seu sogro é um criminoso dessa forma leviana?! Ao menos compreendes a gravidade do assunto? — Indaguei, andando de um lado para o outro no pequeno espaço. — Não me admira que estejam endividados até ao pescoço e a filha esteja querendo casar tão rápido. Sabe da dívida?

UM LAÇO ETERNO《#Orfãos Cardin 1》Onde histórias criam vida. Descubra agora