CAPÍTULO 17

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HEROUX

“Porquê de todos eu era alguém que a tinha transmitido segurança e ela jamais veria.” Essa frase não me deixava trabalhar há uma semana. Eu tinha estragado tudo porque era exatamente isso o que eu fazia de melhor, arruinar o que via pela frente. O almoço com Ariel após seu programa de domingo, fora, de longe, o único momento em que conversamos de verdade e o último já que ela fazia de tudo para me evitar agora. Enquanto eu tomava o pequeno-almoço ela estava dormindo, enquanto eu jantava ela também estava dormindo. Se eu entrasse em algum lugar onde ela estivesse, ela já estava de saída. O pior era quando em algum momento ela estava rindo e eu aparecia, seu riso parava no mesmo instante. Eu me sentia mal, eu queria poder pedir desculpas e dizer o quanto sentia muito por tudo o que dissera, mas não fazia porque tudo o que disse era a verdade. Eu seria só o pai dos bebés no papel, eu não planeava nenhum tipo de contato físico ou algo parecido. Daria uma pensão para ela e os bebés, não lhes faltaria nada. Não tinha porquê ser de outro jeito. Eu não via outro jeito.

— Que merda você fez? — Aubert entrou na minha sala como um relâmpago, abrindo a porta de rompante e cuspindo as palavras. Olhei para ele em choque e parei o que estava fazendo. — Não me olhe assim, eu conversei com Ariel e ela voltou atrás na ideia do chá de bebé.

Então era sobre aquilo? Ultimamente eles se viam bastante e na maioria das vezes em que ela estava sorrindo era quando conversava com Aubert.

— Então devia conversar com ela, não acha? Perguntar o porquê? Pelo que tenho notado estão muito próximos né. — Aubert deu um riso anasalado.

— E acha que não tentei? Ela não disse o porquê e suspeitei logo que tivesse a ver consigo, só você é capaz de irradiar as pessoas ao teu redor. Você é a merda de um urânio.

— Veio mesmo aqui para me ofender? —Perguntei, cruzando os braços na mesa. — Cuidado com o que diz ao meu respeito, somos irmãos mas eu posso perder a cabeça — ameacei.

— E quando isso acontecer o que vai fazer, mandar seus advogados me processarem? Do mesmo jeito que mandou cinco homens engravatados intimidarem Ariel? Sim, Joane me contou que eram cinco. — Gritou furioso e se apoiou na minha mesa. — A vida está te dando uma oportunidade de superar a merda dos seus traumas de infância e você está recusando. Eu daria tudo para estar no teu lugar, você não foi o único que sofreu com a morte dos nosso pais, entretanto é o único que está tendo a oportunidade de recomeçar e está fudendo com tudo.

— Do que está falando? — Arregalei os olhos.

— Eu já dormi na sua casa Heroux, eu sei que tem pesadelos da sua infância e eu sei também que tem lutado há anos para reaver a Arnault — sacudiu a cabeça andando de um lado para o outro. — Porquê? Você não entende que desenterrar o passado só vai te destruir? Ir atrás daquele filho da puta do François? Não nos falta nada, somos tão ricos quanto ele e mais.

— Ele está enterrando o legado da nossa mãe e do nosso avô — rebati, buscando forças para ainda continuar numa pose inabalável. Mas a verdade é que quando se tocava no assunto François eu me sentia apenas uma criança desamparada e com medo.

— Nossa mãe enterrou esse legado quando ela decidiu casar com nosso pai e se tornar uma Aville Cardin. O que François está fazendo é enterrar a ele mesmo. —Aubert passou a mão pelos cabelos e me olhou, com pena. — Você queria ter crescido com amor dos nossos pais e com uma estrutura, eu entendo, mas ninguém previu a morte e isso te foi tirado. Contudo, você tem a chance de envelhecer rodeado de amor, aquelas crianças vão te dar isso.

— Mas eu não sei dar isso — desabei na cadeira e limpei a lágrima solitária que desceu do meu olho.

— Heroux, — Aubert segurou meu ombro e me fez encará-lo. — Não somos Arnault, lembre-se disso.

UM LAÇO ETERNO《#Orfãos Cardin 1》Onde histórias criam vida. Descubra agora