CAPÍTULO 13

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HEROUX

Eu tinha sentimentos. Era a única coisa que conseguia pensar depois de ficar no quarto tentando dormir e falhando miseravelmente. Levantei e me tranquei no escritório para mais uma sessão de trabalho. Ariel tinha razão, porquê eu me importava afinal? Não sabia responder, mas me importava. Era automático, ela me intrigava, me irritava e me fazia questionar certos assuntos. Como não me importar? Ela tinha recusado meu cheque em branco, coisa que muitas não fariam, me pedido desculpas pela bofetada, coisas que muitas não fariam. Ela me tinha feito reacender algum tipo de esperança sobre o universo feminino ao mostrar que tinha suas convicções e ia até ao fim por elas. Ela de certeza não queria só o meu dinheiro, os bebés eram importantes para ela e não abriria mão deles.

Eu também não, se o exame fosse positivo seria o melhor a fazer. E, como eu já sabia que não teria como escapar, era melhor começar a cultivar uma relação cordial com ela. O máximo que devíamos fazer era ter uma relação de respeito mútuo, por isso, quando a escutei percorrendo as cozinhas eu a segui, oferecendo-me para ajudar com sua preocupação. Ela queria comer um bolo e eu sabia fazê-los. Fiz um do sabor e cobertura que queria e a assisti comer, com um sorriso, enquanto me elogiava pelo feito e comprovava que eu sabia mexer eletrodomésticos. Não havia nada demais em usar eletrodoméstico e as pessoas deveriam normalizar homens os usando. Porém, havia algo no sorriso de satisfação dela e era algo que me hipnotizava.

Precisei me despedir as pressas para não fazer nada estúpido. Eu não queria acabar com aquele momento entre nós, mas também não queria prolongar e estragar as coisas. Fui ao trabalho, completamente aéreo e mantive assim em boa parte dele. Eu só conseguia pensar nela, em todas suas atitudes, me fazendo questionar rótulos que já tinha desenhado para pessoas que me procuravam e duvidando das minhas próprias ações. Eu tinha feito um bolo sem associar a solidão que aquele momento sempre envolveu e tinha gostado. Havia algo em Ariel que despertava coisas boas em mim. De repente, me sentia poderoso, bem comigo mesmo.

— Alysson, você pode me conseguir o número do responsável do laboratório da clínica? — Perguntei, assim que ela atendeu o telefone.

— Sim, senhor. Em dez minutos trarei em sua sala.

— Obrigado. — Cortei a ligação e esperei, parado em frente a parede de vidro, olhando para a vista. Minha sala presidencial tinha a melhor sacada do prédio. Eu conseguia ver a cidade inteira até a colina onde ficava minha casa e tantas outras. — Ligue para Sullivan e pergunte se tem um horário para mim hoje.

Eu estava disposto a adiantar minha sessão de quinta-feira, para clarear minhas ideias o mais rápido possível, antes de cometer uma besteira de preferência. E tinha máxima certeza que Sullivan me ajudaria com isso.

— Mais alguma coisa?

— Irei sair as seis da tarde hoje. — Ela se espantou, mas nada disse. Eu quase nunca saía antes das oito da noite. Era o último a entrar e a sair. E de repente, estava saindo duas horas antes e me sentindo claustrofóbico no meu próprio carro. Senti uma vontade de ter uma licença de condução e pegar um dos meus carros e desaparecer. Conduzir por horas a fio e para lugares onde pudesse escapar da realidade.

— Qual será o horário de saída? — Mathias me questionou assim que desci da viatura. Eu não sabia responder aquilo, consultas de emergências não tinham horário de saída, duravam três horas no mínimo.

— Não precisam me esperar, estão dispensados por hoje — disse sem hesitar. Entrei no consultório de Sullivan e me lancei no seu sofá soltando um suspiro enquanto mirava o teto.

— Suponho que o momento de negação tenha acabado e agora esteja aqui para me perguntar como deve proceder — ele disse, se revelando de algum lugar. — Estou certo?

UM LAÇO ETERNO《#Orfãos Cardin 1》Onde histórias criam vida. Descubra agora