CAPÍTULO 19

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HEROUX

A aquisição da Arnault pela estratégia de Bernard havia sido um sucesso. Agora era dono de trinta por cento de uma das empresas que foi a maior fabricante de acessórios em toda a França. A Arnault tinha sido grandiosa, invejada e incrivelmente elogiada pelo ótimo trabalho, profissionalismo e consistência. Nos últimos tempos, não se ouvia falar muito da empresa do meu avô embora ainda estivesse no mercado, ao menos não por coisas boas. Seus atuais donos eram protagonistas de escândalos e nas últimas semanas estavam em quase todas as manchetes francesas e ao redor do mundo, o ceo pedofílo e traficante investigado pela Interpol. François Durand Arnault era isso e um pouco mais.

Uma pena lhe ter sido concedida a fiança, por mim ele ficaria mais do que dois dias na cadeia, mas a lei da selva era clara, quem tinha dinheiro tinha poder. E François tinha bastante disso, mesmo que da forma mais inescrupulosa possível. Ele estava usando tudo ao seu redor para lavar dinheiro e era com o mesmo que deixava as pessoas a sua mercê. Era um dos maiores doadores em campanhas políticas e, sendo assim, era óbvio que tais partidos moveriam dedos para manter a imagem do maior financiador limpa, só para não ter o povo questionando a conduta deles. O povo, não eu. Em alguns dias como acionista eu já tinha tomado minhas decisões, a primeira havia sido pedir uma auditoria das finanças da empresa no último trimestre. Sendo François e Austin donos de setenta por cento eu imaginei que tal pedido seria recusado, mas claro que eu me preveni, pedi uma autorização judicial e com isso tudo estava sendo confiscado naquele exato momento.

— Você precisava ver a cara de Austin, ele não acreditou ao me ver ali — Bernard disse, segurando uma garrafa de espumante. — Isso merece uma comemoração Heroux, em todos estes anos não achei que pisaria na Arnault e olha agora. Recebeu a garrafa que mandei? Tirei a minha garrafa e mostrei para ele. — Vamos comemorar, abra no três.

Abri a garrafa com um sorriso no rosto, a rolha se perdeu na sala e assisti Bernard servir uma taça para cada um dos membros da sua equipe e brindarem de seguida. Eu tomei do gargalo e deixar a garrafa em algum canto da mesa olhando aqueles homens. Cada um deles tinha sido uma peça chave para a concretização de um sonho.

— O que vai fazer agora Senhor Cardin? — Um dos advogados perguntou.

— Essa é uma pergunta que tem muitas respostas, — respirei fundo — por enquanto vou aguardar a auditoria e depois decidirei o que pretendo fazer.

— Sabe que terá de vir a França não é? Em algum momento terá de se apresentar como o sócio — Bernard me lembrou. — A auditoria irá até a próxima sexta-feira, tem onze dias para se preparar. Eles terão a reunião do conselho logo na segunda.

— Ótimo, até lá confirmarei alguma coisa.

Bernard me lançou um olhar suspeito. Sim, o que quer que ele estivesse pensando a resposta era sim, eu não considerava ir a França nem em meus melhores sonhos. O lugar não era para mim, havia recordações demais por lá, meu psicológico poderia não conseguir sobreviver se eu fosse. Tinha trabalhado muito para enterrar tais lembranças, não podia agir de forma imprudente apenas indo. Suspirei e fingi estar distraido com trabalho. Caso fosse deveria me preparar psicologicamente antes.

— Você considera vir, não é?

— Eu informarei Bernard, mandarei Alysson te comunicar de qualquer decisão minha.

— Tudo bem, bom trabalho — ele não insistiu.

Agradeci quando a tela desligou. Eu queria a Arnault e tinha conseguido, mas estava com medo do que viria depois. Ir a França e estar no mesmo espaço que François e seu filho, não seria uma atitude tão sábia da minha parte. E Sullivan concordou. Mais uma vez tinha adiantado uma das minhas sessões de quinta-feira para um dia em que me sentia por um fio. Eu fazia terapia com Sullivan há dez anos, o conheci depois que meu primeiro psicólogo morreu e quando voltei aos Estados Unidos para assumir minha parte na empresa. Eu estava perdido, vinte e sete anos e mal conseguia passar uma noite sem recorrer a comprimidos para dormir. Eu tomava soníferos há três anos quando nossas sessões começaram, tomava com álcool porque só assim eu conseguia o efeito desejado. Haviam sido tempos sombrios entre um cigarro e outro e várias garrafas de bebida.

UM LAÇO ETERNO《#Orfãos Cardin 1》Onde histórias criam vida. Descubra agora