CAPÍTULO 7

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HEROUX

Desviei os olhos tão rápido quanto pude, apenas para não confirmar a questão que pairava em minha mente e então dei as costas. Era um cobarde, François tinha razão. Não fui homem o suficiente para usar a merda do plástico que teria evitado tudo isto e agora não estava sendo para encarar as coisas de frente. Eu fodi com tudo, eu sabia, mas não queria confirmar que foi com ela que fiz tanta merda. Ao menos não agora, não neste exato momento, pois se ela realmente for a dona dos olhos cor de mel, eu estava acabado.

— O que está fazendo aqui? — Perguntei ao meu irmão, assim que notei sua presença no meu escritório. — Não tem uma lua de mel para aproveitar?

O escritório era minha fortaleza, fiquei aqui por horas depois da conversa com Alysson e pretendia ficar mais algumas horas antes de encher minhas bolas e encarar as coisas como deviam ser. Comigo sendo um homem, um que de preferência reconhecia suas ações podres e tomava responsabilidade das consequências advindas delas. Serei pai. Pensei, pela primeira vez. O pensamento me fez querer falecer. Eu não queria ser pai.

— Não houve casamento e com certeza não haverá lua de mel — Aubert arrastou a voz. — Saberia se não tivesse se trancado nesta merda, você só pensa em você Heroux, é um puta egoísta.

— Ei, ei, vai com calma que eu tenho meus próprios problemas para resolver. — Ocupei minha cadeira e ele logo veio sentar-se na que ficava a minha frente. — Não sei se notou, mas tem uma mulher grávida na minha casa.

— Claro que notei, ela quase estragou meu casamento — abandonou o copo de uísque sobre a mesa, — mas Emanuelle me deixou por você, por aquela merda que a fez assinar.

— Eu a fiz assinar?

— Sim, você a fez assinar. É o único que se importa com dinheiro ao ponto de não querer dividi-lo, Heroux. O que importava se Emanuelle é interesseira? Ela ao menos fingia me amar e se importar com meus sentimentos.

— Aubert, há quanto tempo está bebendo? — Meu irmão era péssimo com álcool e eu péssimo em ouvir lamúrias, se ele queria desabafar que fizesse como eu e arranjasse um psicólogo. — Tem que parar — aconselhei antes que me respondesse.

— Meia hora, quando você saiu para ir atrás da grávida e aquela sua secretária — fez uma carreta. — Vai mesmo ser pai? Você? — Soltou um riso de escárnio.

— Eu que fiz o quê? — Aubert tentou levar o copo com o líquido âmbar, mas fui mais rápido e puxei para mim tomando o que sobrou num só gole. — Fala.

— Viu? Suas ações falam por si, vai ser um péssimo pai — deu um riso cheio de descrença. Eu busquei meu auto controle, culpando o álcool em suas veias e me segurando com tudo para não o chutar dali. Precisava esfregar aquilo na minha cara? — Só pensa em dinheiro, empresa e essa estória de é meu dever blá blá blá. Sabe que filhos são um dever também, não sabe? Tenho pena do seu.

— Saí daqui! — Apontei para a porta, ele olhou para a mesma e sorriu.

— Não vou, me expulse se conseguir — desafiou-me.

— O que você tem na cabeça, Aubert? Merda? — Bradei, frustrado com sua ousadia. Ele deu de ombros. — Primeiro acha que não é nada demais se casar com uma interesseira, depois diz que serei um péssimo pai. O que você entende sobre ser pai? Devia me agradecer ao invés de ficar me atirando pedras, te livrei de ter um divórcio problemático.

— Não me livrou de nada Heroux, deixou-me tão infeliz quanto você. Eu sempre soube que o casamento estava fadado ao fracasso, mas eu tinha momentos felizes com Emanuelle, ela me fazia rir e alegrava meus dias. Você sabe o que é felicidade? — Não respondi. — Você não sabe pois só se atém ao sexo em suas relações com mulheres, há muito mais da vida que um simples orgasmo.

UM LAÇO ETERNO《#Orfãos Cardin 1》Onde histórias criam vida. Descubra agora