HEROUX
Um dia antes da minha viagem para França eu decidi não mexer nenhum trabalho, ficar em casa e tirar um dia de descanso. Não foi uma boa ideia porque mente vazia era espaço para pensamentos ilícitos. Peguei-me fazendo um tour pela casa e parando no rés do chão, no lugar exato onde minha última conversa com Ariel tinha se passado. Ela tinha embora depois da mesma e não a julguei, estava no seu direito, era livre de repensar em suas decisões do mesmo jeito que eu era. E, ainda assim, eu estava ali pensado nela, espiando em seu antigo quarto para ver se não tinha nada seu. Era sábado, o que significava que domingo ela iria para aquela reunião de grávidas. Eu podia ir por alguns minutos antes de pegar o voo.
Suspirei fechando a última gaveta. Ariel não tinha deixado nada para trás e mesmo assim tudo me lembrava dela, principalmente a cozinha. Sua imagem comendo o bolo com um sorriso sacudiu minha mente, a lembrança dela aquecendo o jantar para nós os dois em sua longa camiseta de dormir me esmurrou. No meu quarto era pior, ainda habitava minha cama, lugar que apenas ela tinha ocupado. Duas vezes.
— Finalmente consegui cruzar com o senhor, — Joane disse, entrando no escritório com uma sacola na mão.
— Algum problema?
— Nenhum, apenas para entregar isso. Ariel pediu para que lhe desse pessoalmente. — Me estendeu a sacola. Reconheci de imediato o presente personalizado que a esposa do meu cliente deu. Meu coração palpitou e depois adormeceu. Ela tinha deixado. Eu recebi e agradeci colocando o saco no lixo. Joane me olhou estranhamente e perguntei se ela tinha mais alguma coisa para me dizer. — Não, era tudo.
Saiu e olhei de forma automática para a sacola, Ariel tinha razão em deixar, não faria sentido ficar com uma roupa que trazia uma mensagem para mim. Eu não era ninguém, ou melhor, era apenas o doador. Não merecia ser homenageado por suas filhas. Entretanto, reciclei as peças e fui colocar numa das gavetas no closet, próximo as minhas gravatas. Fui olhando por horas para as peças enquanto fazia a minha mala.
— Achei você — Aubert entrou no meu quarto, sem pedir licença e do seu jeito brincalhão de sempre — Um passarinho me contou que vai a França, é sério isso?
— É, vou a negócios.
— Heroux, não vai para lá desde que fez dezanove anos e se mudou para a Inglaterra — me recordou de algo que ele sabia só porque eu o tinha contado.
Realmente eu não ia a França desde que saíra para a faculdade na Inglaterra. Ir a universidade tinha sido minha carta de liberdade das mãos de François, mesmo que eu não tivesse nenhuma paixão por finanças e negócios, a área em que acabei por me formar.
— Sim, não vou. Agora é diferente. — Andei para colocar o terno na mala. — Comprei trinta porcento da Arnault!
Aubert me parou segurando meus ombros e me forçando a encará-lo. Olhou nos meus olhos e eu nos dele, vendo toda deceção que seus azuis me transmitiam. A sensação de ver em espelho de carne e osso era horrível. Desviei o rosto.
— Conseguiu ir atrás de algo que te faz mal, mas não conseguiu tirar meia hora do seu dia para visitar Ariel ou ligar para saber se ela está bem? — A incredulidade na sua voz era óbvia. O que ele queria que eu fizesse? Ela saiu sem me despedir então devia estar tudo bem, além de que Alysson me dava o relatório, mesmo que vago.
— Aubert, eu fui claro sobre as minhas vontades e ela concordou. Não vejo motivos para seus julgamentos, se está tão preocupado vá você vê-la.
— Ela concordou porque não tinha opções, a encurralou para isso acontecer e eu ja fui vê-la, ela sumiu.
— Como assim? — Parei a metade do caminho. — Sumiu?
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UM LAÇO ETERNO《#Orfãos Cardin 1》
Romance[HISTÓRIA FINALIZADA, DISPONÍVEL POR TEMPO INDETERMINADO] Uma família seperada por uma tragédia. Heroux foi separado dos seus irmãos após a morte de seus pais, seu tutor era um homem ganancioso, e ele se tornou o produto da vida que levou ao lado de...