CAPÍTULO 23

2.3K 289 17
                                    

ARIEL

Um mês depois

Por alguns dias o dinheiro tinha me dado um poder que julguei ser suficiente para preencher meus desejos. Parecia não me faltar nada, eu vivia numa cobertura de luxo no centro da cidade, eu tinha um poder de compra que jamais pensei que teria um dia, funcionários sempre prontos para atender meus pedidos, um motorista, um segurança e todo o conforto possível. O que eu poderia querer mais? Eu me perguntava tentando aplacar a solidão que sentia em meio a tanta posse. Me sentia sozinha e infeliz, isso era óbvio até para alguém que me via por dois minutos naqueles dias. Estava miserável em um castelo e a única forma de acabar com aquilo era sair dele. Me preparei para isso em uma semana, limpei o cartão que Heroux me tinha dado até ao limite, consegui uma casa, por sorte já reformada e mobilada, e me mudei.

Porém, não fiz tudo sozinha. Maya se ofereceu para me ajudar depois que contei como me sentia ali, Isaiah também veio e no meio da noite deixei a cobertura quando todos estavam descansando. Deixei o cartão e o celular, objetos que ele poderia usar facilmente para me localizar. Naquele dia saí sem nenhum peso de consciência, eu tinha tentado dar um pai para as minhas filhas e não tinha dado certo. Ir embora foi a melhor coisa e não me arrependia da decisão. Minha vida tinha melhorado bastante depois daquilo.

Eu tinha escapado do drama então andava menos preocupada com atitudes imprevisíveis. Me estressava menos e relaxava mais. Eu até conseguia cumprir meu repouso como deveria ser desde o início. Com a companhia e ajuda de Isaiah, eu tinha arranjado Ximena, minha dedicada funcionária e quase uma mãe, e estava conseguindo pagar minhas contas sem problema. Isso porque ele vivia comigo e também porque eu tinha tirado cerca de dois milhões no cartão. Consegui fazer um seguro de saúde com o valor e com isso, mudei a modalidade das minhas consultas, ao invés de ir a clínica, doutor Yoshida vinha até mim. Não me fiz de rogada ou humilde quando fui ao banco saber até onde aquele cartão podia me levar, se ele me tinha dado foi porque acreditava que faria bom uso, e estava fazendo ao dar um nível razoável de conforto para mim e preparando com entusiasmo a chegada de Adisa e Ayo.

— Tem que contratar um pintor, senão o quarto das gêmeas não terminará nunca — Isaiah disse, voltando dele e me encontrando sentada no sofá, com os pés esticados na mesa de centro e um prato de frutas equilibrado na minha barriga.

Trinta semanas. Eu estava enorme e mal saía de casa. Não estava indo as reuniões das grávidas porque tudo em mim doía ou me incomodava. As costas eram as que mais sofriam, tinha dispensado o uso de sutiãs por elas, também tinha deixado de usar calcinhas, em geral, tinha desistido de toda roupa que me apertava. Eu andava de vestidos de dormir ou quando batia uma vontade de ficar linda alguns modelos que a stylist tinha dado e uma maquiagem de leve. Mas isso era raro. Talvez uma vez por semana porque, infelizmente, Kelly vivia no mesmo bairro e fazia questão de vir me ver.

E não, eu não vivia no bairro em que ela tinha uma casa com piscina. Eu estava no único bairro em que ela tinha uma casa e nem era dela, estava alugando. Kelly era uma mentirosa e parte da sua vida era falsa. Ela tinha sim mais dois filhos, um cachorro, mas seu marido não era advogado e nem tinha os últimos modelos da Toyota, aliás, ela sempre vinha pedir queijo na minha casa, eu dava porque sempre me contava alguma história comovente se passando na vida dela. Eu andava como uma manteiga ultimamente, derretia com facilidade e a sentimentalismos pior ainda.

Nossas casas ficavam separadas por umas três e eram do mesmo modelo, uma sala conjugada com a cozinha, um banheiro no afinal do corredor, três quartos, uma área de serviço e um pátio razoável. Eu tinha comprado aqui porque era o bairro, no subúrbio, mais seguro e porque o preço era bom. Também era um lugar agradável para mim, principalmente pela varanda alta, no final do dia ou no início das manhãs podia sentar no balanço e ver o sol nascer ou se pôr. Ou ficar vendo os vizinhos fazerem alguma coisa para depois contar para Ximena. Ela era minha parte fofoqueira e alegre do dia.

UM LAÇO ETERNO《#Orfãos Cardin 1》Onde histórias criam vida. Descubra agora