Capítulo 16

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O tempo passou mais rápido do que Hermione foi capaz de mensurar.

Foi levada novamente ao seu quarto, exposta vexatoriamente em eventos públicos intermináveis na arena, que se transformou em algum palco de shows de comédia para as recordações dela. Tudo, sem retrucar, e de modo mecânico, pois parecia que novamente estava nos corredores de Hogwarts sofrendo bullying de todos.

Ao passo que todo dia foi ficando mais fácil lidar com as risadas, vez que se fechava em um mundo próprio, era mais complicado ignorar Draco em sua posição de destaque ao lado do Imperador. Ele parecia um cubo de gelo sem expressões, e em hipótese alguma a encarava. Ela imaginava que para ele tudo não passava de reprise sem graça, de uma comédia batida, afinal, ele havia visto com "exclusividade" e lugar de honra às primícias de todo o espetáculo.

A marca em seu braço era algo que os vestidos faziam questão de exaltar, e ela não ficou chocada quando assistiu a suposta encenação dele para marca-la. O pretexto era simples: ela agora era propriedade dele. Mas ela sabia que aquilo, a demonstração de poder do Herdeiro do Lorde, embora alegrasse toda a massa de comensais, para ele também era motivo de repulsa.

As poucas vezes que o observava fora de sua máscara (milésimos de segundo) era em uma carranca de ódio. Ela tentava até ficar feliz, pois antes estava até criando algum tipo de admiração (ou síndrome de Estocolmo) pelo homem, mas tudo que passava por sua mente era que o que ele fizera foi em vão, ela nunca confiaria nele, e que ele teria que conviver, assim como ela, o resto de sua vida com a marca. Mais uma.

Os bailes em comemoração à sua derrota também vieram. E ela pensava se algum dia, Voldemort se cansaria de cantar a vitória ou se realmente planejava concretizar a última prova. Em verdade, ela mesma parecia muito tentada a acabar com a própria vida se tivesse que vestir mais um dos modelos exclusivos escolhidos por Narcisa.

De bom havia somente que por ser propriedade de Malfoy, nenhum outro se atrevia a importuna-la e o desprezo que ambos sentiam um pelo outro faziam que se repelissem como água e óleo. Quando a música começou, ela, porém foi obrigada a se lembrar da primeira e única dança que compartilhou com ele.

A dança que ela havia sido compelida a quase acreditar que ele era alguém de confiança e que tinha algum tipo de dignidade dentro de si. Bufou irritada. Nunca mais se deixaria levar por nada que viesse dele, mas ao mesmo tempo que pensava nisso, algum tipo de compaixão brotava em seu coração, o que era perigosamente adverso.

ELE TINHA A MARCADO.

Contudo, ainda assim, não tinha aberto a boca para falar das experiências dela ou demonstrado qualquer reação de repúdio por ela tentar salvar os trouxas, embora ela soubesse que ele os odiasse. Era uma contradição que tinha curiosidade de desvendar, apesar de não querer ter contato com ele.

"Draco"

Tê-lo chamado pelo laço, foi algo infundado. Ainda mais pelo primeiro nome, porém, não era como se chama-lo de Malfoy, tivesse algum sentido depois de tudo. Talvez apenas um teste para saber se ainda funcionava. Ele a olhou instantaneamente, o que a fez enrubescer, não de vergonha, mas por ter sido pega o chamando.

"O que foi?" – A voz dele dentro de sua cabeça era ríspida, o que fez que ela pensasse se era realmente uma boa ideia.

"Por que até agora você não revelou nada?"

A resposta veio quase de imediato.

"O que eu ganharia com isso? Os comensais já tem diversão suficiente às suas custas."

Ele não disse mais nada e o silêncio pareceu vazio demais para Hermione. Ela estava a dias sem testar suas cordas vocais, sem responder qualquer coisa e o que tinha era só suas lembranças bagunçadas e doloridas que voltavam sempre que ela tentava dormir. Não esperava ter qualquer tipo de conforto de Draco, mas somente dele tê-la respondido, fez com que ela se sentisse um pouco melhor.

Não queria perdoa-lo, mas toda vez que o observava ficava tentando realmente achar algo além de marca-la a força que o desabonasse. Se esforçava em acreditar naquela mascara dele, contudo, as palavras dele depois de Neville, ficando fazendo ecos e voltas. Ali, ele não era cruel. Ali ele também havia se arriscado por um acordo que ela ingenuamente traiu, contudo, ainda assim ele não havia lhe atirado aos leões.

"Eu não queria ter traído você."

A frase ecoou em um vazio. Dela e do laço. Por nada havia praticamente morrido, sendo que estava tão perto de quase acabar com aquilo. De vencer aquela prova, ter os documentos que precisava e saber quem havia matado seus pais. Ela havia quase ganhado e agora estava ali, abatida e desorientada.

Havia cometido um erro tolo. Mais idiota do que qualquer acordo e que lhe custara muito. Lhe custara sua intimidade, praticamente que inteira, exposta a todos que mais a odiavam. Ela observava todos aqueles a sua volta, rindo dela, bebendo em glória a sua ruína e sentiu a mesma faísca de anos atrás se acender. Rebeldia.

Contudo, não uma rebeldia desenfreada e desmensurada que lhe levaria ao buraco mais rápido. Uma rebeldia fria e contida. Alguém da Ordem havia a traído e isso começou a queimar em seu peito. Algo próximo ao que ela sentiu quando estava vestida tal qual uma sonserina e que chegou a mesma conclusão que chegava agora.

Eles achavam que a tinham destruído em sonserina. Mas sonserina era ambiciosa e astuta, se reerguia e era calculista. Devia se erguer e aceitar que agora não tinha outra escolha que não ganhar. Usar o lema deles, contra eles mesmos. E aprenderia com o melhor, não importando que tivesse que engolir sua deslealdade e mesquinhez.

Em passos certeiros, chegou à frente de Draco. Ele observou os olhos dela como se fosse a primeira vez que os tivesse vislumbrando. Talvez realmente estivesse.

"Eu quero vencer e destruir. Não me importa que só tenha você para me ajudar com isso. Não dou a mínima se a Ordem vai ou não me odiar quando eu voltar ou se eu vou morrer depois que eu ganhar de Voldemort. Não ligo se terei que ultrapassar qualquer limite depois de hoje. Eu quero ser vencedora e quero acabar com quem está destruindo tudo por que eu lutei e acreditei minha vida toda. Não me importa se eu te magoei ou se eu nunca vou te perdoar por ter marcado minha pele com essas estrelas. Dane-se, Malfoy. Eu confio em você para me fazer a sua vencedora."

Hermione não sabia se tudo ao redor tinha realmente paralisado ou a quanto tempo estava à frente de Draco. Só sabia que quando sentiu a mão dele em sua nuca e seus lábios se chocando não havia mais volta. Não daquele ponto. E talvez nunca mais houvesse, pois ela realmente queria aquilo, mesmo que ambos soubessem que havia toda uma plateia os observando incrédulos ou nem tanto. Não davam a mínima para se aquilo era ou não razoável para quem se odiava pelo tempo que se odiavam e de todas as formas possíveis. Realmente acreditava nele e no que quer que se seguisse a partir de então. Ela estava com sua sentença de morte assinada pela caligrafia perfeita dos Malfoy. 

*




N/F: Capítulo curtinho, mas, primeiro beijo desse casal! Quem ai soltou fogos? Eu soltei hahaha Finalmente alguém acordou pra vida, né people? Comentem tudinho o que acharam. Obrigada pelos votos, comentários e listas de leitura!

O Ciclo - DramioneOnde histórias criam vida. Descubra agora