Quando Abri Meus Olhos

Capítulo 35

O período que passei no hospital após o ataque de Vicent, foi cansativo, tedioso, dolorido. Mas nunca parei para pensar realmente em como foi para Logan ficar todo aquele tempo dentro de um hospital.

Fiquei cinco horas esperando notícias. Cada vez que olhava para o relógio apenas um minuto havia passado. Não posso imaginar como Logan aguentou quase um mês aqui dentro.

Quando finalmente Dan veio falar comigo, foi apenas para me dizer que Logan estava sendo avaliado por um cardiologista, e que ele não tinha mais informações, mas que viria depois que conseguisse saber de mais alguma coisa.

Foram mais quatro horas de espera. 

Finalmente Dan voltou, informando que Logan já havia ido para um quarto e que o cardiologista levaria os resultados dos exames.

Passei por tantos corredores, portas duplas e mais corredores, que já não saberia voltar até onde estava.

Entro no quarto devagar, não sei o que esperar, mas me preparo para o pior cenário. Logan ligado a vários aparelhos, pálido, vulnerável...

Mas o que encontro é bem diferente...

- TIRA ISSO!

- Senhor, por favor, o senhor precisa aguardar o médico...não...PARE! Senhor não pode tirar o soro!

- Eu mesmo tiro...

- Senhor por favor, não...fique deitado...

Logan está lutando  com duas enfermeiras. Eu digo lutando por que é a palavra mais  certa. Ele empurra as mão delas, puxa os fios e grita com elas . Enquanto as duas tentam acalmá-lo e fazê-lo ficar deitado. Se não fosse trágico, seria cômico. Eu resolvo interferir quando ele consegue arrancar completamente o soro, e começa a sangrar profusamente pelo acesso ainda preso na veia.

- Logan...

Me aproximo da cama e tento ajudar as enfermeiras.

- Logan, deite. 

Empurro os ombros de volta para a cama, enquanto ele resiste.

- Eu vou embora Laura.

- Não, você vai deitar.

Sento na cama e tento fazer com que ele deite. Enquanto uma enfermeira recoloca o soro no acesso.

Logan me encara irritado.

- Eu estou bem!! 

- Você infartou, precisa descansar. Vamos ouvir o médico e...

- Eu estou bem.

A teimosia dele em levantar termina me irritando.

- NÃO ESTÁ! DEITA LOGAN!

- ESTOU! SAIA!

Ele olha com raiva para as minhas mãos que empurram seu peito de volta pra cama. Mas não as tira.

- SAIA!

O grito é forte, e atrai Dan pra perto também. Ele fala com uma das enfermeiras e ela em seguida se afasta.

- Logan, escute, Laura está certa. você precisa...

- EU ESTOU BEM!

- Primeiro pare de rugir! Ninguém tem medo de você aqui Logan McGregor! Segundo, você não vai a lugar nenhum! 

Os olhos castanhos estão revoltos e faíscam de raiva pra mim.

A enfermeira que havia se afastado retorna com uma seringa.

- Certo, Laura segure-o.

Dan segura um lado de Logan e eu e a enfermeira o outro, enquanto a outra enfermeira aplica o conteúdo da injeção pelo acesso no braço.

Logan me olha profundamente. Vejo a irritação, um pouco de chateação por  estar sendo obrigado, mas no fundo vejo medo. Logan está com medo. 

A vontade de de chorar finalmente me pega. Não quero vê-lo assim. Encosto minha testa na dele, tentando consolá-lo e me consolar junto.

- Não chore.

Toda a resistência dele acaba. 

Logan acaricia meu rosto com uma mão. Mas logo ela cai para a cama.

- O que você me deu Daniel?!

Até a voz dele ficou mais arrastada.

- Um calmante. Você não vai dormir, mas vai facilitar pra todo mundo, ficando deitado.

Providencialmente, o cardiologista aparece nesse momento. Depois que o leão foi abatido.

- Olá. Como estamos senhor McGregor?

Logan não responde.

- Bom, os exames saíram. O que você teve foi um pré- infarto. Depois de todos os testes, não encontramos nenhuma sequela grave no coração nem nos tecidos a volta. Quem estava com o senhor agiu rápido e isso ajudou. 

-Desculpe, o senhor disse que não gerou sequela grave, mas ...

Pergunto, tentando entender tudo.

- O coração está sob stress. Os exames mostram que o músculo está estressado, os vasos dilatados. Isso é natural depois de um episódio como o seu. Vamos reavaliar em algumas horas e ver se o quadro melhorou. Como não encontramos fatores de risco, após algum descanso o coração deve voltar ao normal.  O que preocupa foi o que ocasionou esse colapso. Temos que identificar as causas para prevenir novos  e piores episódios.

Logan foi derrubado pela medicação, e fecha os olhos. 

- Então não identificaram nada nos exames?

- Nada conclusivo, como eu disse . Os fatores de risco habituais não estão presentes. Nenhuma doença pré- existente, nem Obesidade, alcoolismo, consumo de drogas, tabagismo. Poderia ser hereditário? Senhor McGregor?

- Não que eu saiba.

- Bem nos resta o fator ambiental. Estresse emocional, e físico?

Logan não responde, mas eu o faço.

- Sim! Ele não dorme, não come, estresse constante, síndrome do "resolvo tudo sozinho".

O médico ri.

 Logan abre os olhos , apenas para me lançar um olhar de advertência.

- Bem isso explica bastante. O senhor vai precisar descansar. Nessa fase de recuperação e após também. É importante manter uma alimentação regular, com horários estabelecidos. E principalmente diminuir o ritmo de trabalho e de estresse. Preciso deixar claro que apesar de não haver mais fatores agravantes no seu caso, o stress é a fonte de muitos infartos, na maioria das vezes, fatais. Por favor, considere as recomendações.

O médico sai, acompanhado de Dan e das enfermeiras. 

- Logan.

Ele olha para a parede.

- Logan.

- Não fale por mim. Nunca fale por mim.

Acaricio a barba e a bochecha dele.

- É a verdade. Você precisa descansar.

-Eu não posso descansar!

- Olhe pra mim Logan.

Ele olha. E não resisto a lhe dar um beijo. Calmo, tranquilizador.

- Laura. Não posso estar aqui. Preciso resolver as coisa na empresa...preciso

- Nós vamos resolver, ok? Eu posso ajudar, os outros gerentes estão trabalhando. Mas não é só isso, é?

- Fontelli ligou. Ele acredita que encontrou um novo rastro de Vicent.

-Logan...não pense nisso agora...

- Ele está aqui. Voltou para o país.

🤗🤗🤗🤗
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