Capítulo 24

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Dan não fica muito após o jantar. Ele terá plantão a noite.

Martha também se retira logo depois para o seu quarto.

- Você quer subir?

- Ah não, Maggie gosta de ficar lendo.

Logan se serve de uma bebida no aparador.

- E também eu quero a resposta do que perguntei.

Ele vem para perto mas não responde nada. Anda de um lado para o outro, refletindo eu acho.

- Eu fico imaginando as vezes sabe?
Se você tem tudo calculado ou se sai ao natural?

Capturo sua atenção imediatamente.

- Não entendo.

- Esse caminhar, o semblante sério, postura rígida. Você sabe que isso intimida não é? Você usa isso, eu já vi nas reuniões, mas o quanto disso é natural?

Logan senta a minha frente.

- Sou objeto de estudo?

- Ah sim... E então?

- Foi aprendido, hoje já é natural.

É claro que sim. Não é possível fingir tudo ...isso. Esses dias de convivência com Logan me trouxeram muitas dúvidas.

Eu o julguei um homem fechado, distante e centrado em seu próprio umbigo.

Mas essas idéias tem se dissolvido dia a dia. Minha conversa com Martha vem de encontro a isso. Ele é um homem complexo, e com certeza há muito mais abaixo da superfície.
Ele parece disposto a algumas respostas, então...

- Você gosta de silêncio.

- Sim eu gosto.

- Seus pais vem...aqui?

Um leve estreitar dos olhos acompanha a resposta.

- Minha mãe morreu quando eu nasci, e meu pai a alguns anos. Mas tenho certeza que Martha já lhe contou isso...

- Sobre sua mãe sim. Eram só você e seu pai?

Logan bebe outro gole.

- Por que as perguntas?

- Você é um enigma.

- E você quer decifrar o enigma?

Eu não consigo responder.

Ele levanta e vai se servir de mais um pouco da bebida.

- Eu não sou um enigma. Sou bastante simples na verdade.

Ele retorna e senta novamente de frente para mim.

- Meu pai foi severo. Não havia tato nele para criar uma criança. Tudo que ele sempre me disse foi para abrir meu próprio caminho, fosse com palavras, com ferramentas ou com as próprias mãos.
Tracei um caminho e segui por ele. Felizmente obtive sucesso.

O olhar dele vagueia um pouco. Talvez seja a bebida ou...as lembranças.
Quando eu lembro da minha infância, não posso deixar de sorrir, todas as lembranças me trazem felicidade.

Não..parece o caso dele.

- Eu aprendi. O silêncio. Aprendi o valor dele.
Enquanto não houvesse silêncio ele não parava.

- Logan...ele...

- Batia? sim. Meu pai gostava de surras, aprimoram o caráter, ele dizia.
Silêncio. Era importante.

Ele fica perdido por mais um tempo em suas memórias, e eu prefiro não interferir.

De repente ele se fecha. E na hora eu sei, que a disposição para respostas acabou.

- Vou levar você até o seu quarto.

Encontro Maggie como eu esperava, lendo.

Depois de tomar as medicações e ir ao banheiro eu dispenso ela. Eu não costumo precisar ir ao banheiro a noite então não preciso de nada até de manhã.

Demoro a dormir. E diferente das últimas noites em que, invariavelmente, a última coisa que eu via antes de dormir era Vicent sobre mim, essa noite meu último pensamento foi o jantar de hoje.

Mais especificamente, um sorriso durante o jantar.

Apesar disso meus pesadelos me alcançam. Sonho com Vicent me caçando, me cercando e pronto para matar.
Eu grito, e sei que gritei de verdade porque acordo com o som da minha voz.

- Laura!

Logan entra no quarto e vem direto até mim.

- Me desculpe...me desculpe...

- Shh, tudo bem...

- É tão real, eu...só quero que pare ...não aguento mais...

- Eu sei.

Em um impulso eu o abraço. E é tão bom...Logan retribui e fecha o abraço.

- Me deixe ficar.

A questão é toda essa não? Deixar Logan ficar.

Nesse momento escolho não pensar sobre nada, nem as implicações de nada.

Eu saio do abraço, Logan da a volta na cama e senta do outro lado.

- Depois que você dormir eu vou embora.

Eu aceno e deito a cabeça no travesseiro.

- Dan me fazia companhia as vezes.

- Companhia?

- É...quando eu ficava com medo. É bobeira, mas quando víamos filmes de terror eu não conseguia dormir. É idiota eu sei.

- Vocês são amigos a muito tempo?

- Muito. Desde o colégio. Você tem algum amigo assim? Antigo?

- Não. Ele fazia companhia de que tipo?

Eu quase engasgo com a pergunta.

- Não do tipo que você está pensando!
Ele só colocava o colchão e dormia no meu quarto.

- Vocês nunca?...

- Não Logan. Dan foi e sempre será um amigo.

Ele escolhe o silêncio, mas eu preciso falar.

- Eu preciso de tempo Logan. Minha vida saiu de controle e eu preciso recuperá-lo antes de qualquer coisa.

Sombrancelhas franzidas e olhos afiados avaliam os meus.

O silêncio preenche os minutos e logo eu durmo. Felizmente não sonho mais nada.

Quando abro os olhos de manhã, vejo que não fui a única a se entregar ao sono.

Logan não foi embora.

Ele é realmente pacífico dormindo. Um gigante adormecido.

Assim que eu me mexo ele acorda.

- me desculpe eu...apaguei.

- Tudo bem.

Ele senta e se espreguiça. Passa a mão pelos cabelos bagunçados.  Eu acompanho cada movimento dele. Um pensamento rápido aparece.
Eu quero beijá-lo.

Meu deus. De onde veio isso?

Logan levanta em seguida e deixa o quarto. Logo Maggie entra para começarmos a rotina da manhã.

       

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Quando Abri Meus OlhosOnde histórias criam vida. Descubra agora