Quando Abri Meus Olhos

Capítulo 18

O entra e sai de enfermeiras me mantém acordada. Conheci a dimensão do meu problema ao conhecer o fisioterapeuta.

Segundo ele terei que fazer uma fisioterapia bastante puxada, e não tenho garantia de voltar a andar bem.

Meu pai veio também. Estou tão envergonhada que não consigo encarar as pessoas nos olhos. E não consigo contar nada ao meu pai.

- Laura, converse comigo filha...eu estava tão preocupado. Eu...achei que ia perder você...

- Pai...me desculpa...eu...

Não consigo falar nada.

Logan entra e fica em silêncio no fundo da sala.

- Eu vim assim que Daniel me ligou, mas eu preciso dormir. Eu volto amanhã de manhã. - Você vai ficar certo Logan?

Meu pai tratando McGregor pelo primeiro nome é um choque. Olho para ele no fundo do quarto, encostado na parede. Tento enviar com o olhar um sinal de que ele não precisa ficar.
Mas a resposta vem tranquila alguns segundos depois.

- É claro.

Meu pai sai logo depois.

Logan não se mexe. Reparo que ele não está de terno e sim com uma calça jeans, uma camiseta e uma jaqueta, o que, realmente o deixou muito, muito, bonito. Ele parece tambem abatido, cansado.

Logan apenas observa, ele é sempre irritantemente tranquilo.

- Eu fico lisonjeada pelo meu chefe estar aqui.

Ele sai de onde está e se aproxima.

- Não estou aqui como chefe. Você deve saber disso.

A intensidade do olhar me faz saber. Eu sei. Eu...

Eu não respondo nada, e um ar triste aparece no rosto dele. Mas a tranquilidade fica, e logo ele fala.

- Não é culpa sua. É culpa dele.

Como ele acerta em cheio o que eu estava pensando é um mistério.

- É claro que é culpa minha. Eu...devia ter visto...eu devia...eu estaria morta...se não fosse você.

A tranquilidade dele some.

- Não é culpa sua!! Eu devia ter impedido, eu podia ter... desgraçado filho da puta...

Logan começa a andar dentro do quarto, imerso em seus próprios pensamentos, o que é bastante estranho no meio de uma conversa.

- Logan.

Ele me ouve de imediato. As sombrancelhas franzidas, olhar assustador.

Estendo a mão para ele.

Logan parece confuso mas atende e vem para perto.

- Obrigada.

Somos interrompido pela chegada de uma bandeja com a janta. A minha e .... A dele.

Depois de deixar a minha próxima a cama, a  moça coloca mais uma sobre uma mesa perto da janela.

- Troquei sua gelatina senhor, pelo mousse.

- Ah obrigada Lucy.

Como é que é? Ele janta aqui? E já sabem até a sobremesa que ele prefere?

Minha confusão deve ser tão óbvia que assim que a moça sai, Logan me explica.

- Eu...não gosto de gelatina.

- Ah sim. Isso esclarece tudo.

Meu apetite é zero.

- Coma. Alguma coisa.

- Eu não quero. Talvez no café da manhã.

- Você não vai pular refeião. Já tirou a sonda de alimentação, precisa comer.

- Eu não quero.

- Mas vai comer.

Que homem impossível.

- O que você faz aqui afinal?

- Faço você comer.

Ele puxa o prato com a comida e senta no colchão ao meu lado. E acredite, me faz engolir uma colherada.

- Isso é horrível.

Depois de um tempo ele suspira e pergunta.

- O que você quer comer?

Não preciso pensar muito.

- Um mousse cairia bem.

Logan olha pra baixo, mas eu escuto quando uma risada se solta. Uma só. Posso ver o sorriso que vem junto. Ele tenta disfarçar. Mas acaba levantando a cabeça e me deixando ver um sorriso luminoso.

Sinto um estremecimento na barriga. Algo que Logan sempre me causa.

Ele vai até a bandeja e pega o mousse.

- É seu.

Quando pego o potinho Logan segura minha mão.

- Eu fiz muitas promessas. Mas posso fazer mais uma. Entrego todos meus mousses se você comer um pouco em cada refeição.

- E isso diz muito sobre um homem! -

Dan entra no quarto dizendo.

- Ela não quer comer?

- Não.

- Previsível. Laura sempre foi chata pra comer quando fica doente.

- Ei! Não conversem como se eu não estivesse aqui.

Dan checa meus sinais e anota tudo.
E cochicha no meu ouvido.

- Que má você...comendo o mousse do menino.

Não consigo dar um tapa nele mas dou um beliscão.

- Aii...má. Vou mandar a enfermeira, malvada pra trocar os curativos.

- Logan me acompanha um minuto?

Ele acena e segue Dan, mas antes vira pra mim e acena para o pote de mousse.

- Coma.

Eu como.

Algum tempo depois uma enfermeira mais velha entra.

- Boa noite. Eu sou a enfermeira Helen. Sou responsável pelo turno da noite neste andar. Vamos trocar os curativos.

Dan não estava brincando quando disse que ia mandar a enfermeira má. Tudo dói. Me virar na cama, tirar o curativo, as injeções. Me dá vontade de chorar no final do processo.

Logan demora a voltar. Quando entra está mais agitado. Parece preocupado.

- Não precisa ficar aqui. Vai pra casa descansar...

- Não.

- Dan me disse que você está aqui, desde...

- Eu vim com você, e vou sair com você. Durma um pouco.

Logan...

Um calor me envolve, um sentimento de...segurança, adormeço enquanto ele senta para comer, a comida já fria.

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