Capítulo 36

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Eu escuto Logan. Eu entendo. Vicent voltou. Está em algum lugar lá fora.

Posso ver a preocupação nos olhos dele.

- Eu estou bem, e preciso sair daqui.

-Eu entendo que você fique preocupado, mas vai precisar descansar, e o quanto antes fizer isso, antes vai melhorar.

Logan prefere me ignorar e não fala mais nada. O  dia inteiro.

Agora eu entendo quando Dan dizia que eu era péssima quando ficava doente. Realmente é muito frustrante quando a pessoa não se ajuda.

Logan está dificultando tudo, o máximo que pode. Eu poderia dizer que ele parece uma criança birrenta, mas conheço seus motivos, e sei que na verdade ele é o que está mais frustrado. Logan não está acostumado a depender de ninguém.

As enfermeiras tentam mas ele está sendo ríspido todo o tempo. Não comeu nada no café da manhã, e recusou o almoço. Ao invés de descansar ele está a cada hora mais estressado.

- Logan, você tem que dormir, eles vão repetir os exames amanhã,  e talvez te liberem.Não comer e não dormir não vai ajudar em nada.

Como resposta, o silêncio.

Resolvo sair um pouco do quarto.  Fico do lado de fora observando o ir e vir do hospital. Dan aparece fazendo uma ronda no andar, e resolvo pedir ajuda.

- Ele está dificultando tudo, Dan! Poderia ter sido bem pior.  Não sei o que fazer.

- Nesse momento? Fique com ele. Ele está preocupado, se Vicent voltou mesmo, foi o pior momento para Logan estar assim. 

- Ele está assim, por se estressar de mais!

- Laura. Só nós dois sabemos a cena que encontramos quando te achamos. Nunca vou esquecer e tenho certeza que ele também não.

- Eu gostava mais quando você era só MEU amigo...

Dan ri, e me abraça.

- O que posso fazer é dar mais um calmante pra derrubá-lo...mas achei que você era páreo pra ele...

- E eu sou. 

Deixo Dan e volto para o quarto, a tempo de ouvir Dan dizer:

- Isso, vai lá e derruba o homem!

Eu entro e espero a enfermeira terminar o que está fazendo. Antes de sair ela me entrega um copinho com um comprimido dentro.

- Ele não quis tomar, poderia convencê-lo?

Eu pisco pra ela, e me aproximo da cama.

- Tome.

Ele tenta me ignorar, mas puxo seu rosto com delicadeza pra mim. Os olhos ficam presos aos meus. Sinto uma enxurrada de palavras entre nós, mas nenhum de nós as usam, não precisamos delas mesmo.

Logan toma o remédio. Sento na cama e acaricio a braba bem cuidada. Eu realmente adoro ela. Lembranças do toque dela pela minha pele, me arrepiam.

- Eu achei que você ia morrer. Assim. Na minha frente sem eu poder fazer nada.

Logan inclina a cabeça e vejo emoção em seu olhos.

- Me desculpe. Eu não queria...

Seguro o rosto dele com as duas mãos.

- Morrer. Você entendeu? E...e...eu ia assistir...eu...

Tudo que eu segurava vem de uma vez só. Um choro sofrido se solta da minha garganta, e as lágrimas saltam. Eu não percebi o quanto estava segurando isso. O choque, a preocupação, uma avalanche forte me leva.

Logan me puxa e me abraça enquanto eu choro. 

Ele poderia ter simplesmente ido embora. Poderia ter ido. Logan é tão forte. Forte de caráter, de energia, que não parece possível ele ser vulnerável a qualquer coisa. Mas é. Humano como todos, e eu poderia tê-lo perdido. Imaginar isso parte meu coração.

E deitada sobre o peito dele, eu preciso pensar no por quê.

A única explicação a que chego é que estou envolvida demais. Eu não gosto dele. Realmente não gosto das grosserias, dos gritos, dos silêncios, da arrogância. Não. Eu o amo. Com ele é. Por ser como ele é.

Meu deus. Eu o amo.

Quando levanto o rosto de novo, sinto um estremecimento. Quando aconteceu eu não sei. 

- Não chore mais assim.

Doce. Esse homem é doce demais. tudo que posso fazer é beijá-lo com tudo o que tenho.


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Acordo com o toque leve no meu braço.

- Senhora, desculpe acordá-la mas preciso fazer as verificações.

Acordo meio perdida. Peguei no sono ao lado de Logan. Levanto morta de vergonha.

- Me desculpe acordá-la.

- Não, não tudo bem. 

- Ele tomou o remédio?

- Tomou sim.

- Ele é bastante difícil.

A enfermeira anota as informações na ficha enquanto conversa comigo.

Passo a mão nos cabelos dele. Logan dorme um sono tranquilo. Parece finalmente relaxado.

- Ele é sim.

- A janta deve chegar em meia hora, seria bom ele comer um pouco.

Balanço a cabeça concordando. Depois que ela sai, aproveito para mexer no celular e mandar algumas mensagens e emails mais urgentes. Katherine me enviou uma mensagem avisando que os gerentes estão trabalhando, investigando o Logan pediu. E que o setor jurídico já deu retorno, avisando que encontrou o problemas nos contratos, mas que está contornando e revisando os outros.

Me assusto quando Logan fala.

- Alguma notícia da empresa?

- Achei que estivesse dormindo.

- Dormi. Então?

- Não se preocupe. Todos trabalhando. Jurídico já resolvendo.

- Mande para Katherine...

- Não mando nada. Você não vai pensar em trabalho agora.

Ele bufa, frustrado.

A janta chega em seguida. E Logan não parece animado. 

- Ou você come, ou vou ligar para a Martha e dizer que você não come desde ontem!

A contra gosto, ele janta. Come tudo.

Depois insiste em tomar banho. Preciso chamar uma enfermeira para retirar todos os fios que monitoram o coração. 

-Pode tirar isso do meu braço?

- Não. O acesso fica para o caso de precisarmos, para alguma medicação. Até o senhor ter alta.

Logan toma banho e volta com uma toalha enrolada na cintura. O corpo chama a atenção da enfermeira. ela é muito profissional e desvia o olhar, mas não tão rápido quanto deveria.

Logan vem até mim.

- Preciso de roupas. Peça para Bruce. Aliás, me de meu celular.

- Não adianta olhar assim. Não vou dar celular nenhum. Aliás ele já foi até embora. Mandei pelo Dan.

Ele pega a calça do hospital que a enfermeira lhe estende e volta para o banheiro.

Mesmo assim, mando mensagem para Bruce pedindo algumas roupas. Aproveito que ele vem e o deixo com Logan e vou comer alguma coisa. Vou pra casa, tomar um banho e trocar de roupa. Dan disse que Logan deve ter alta amanhã, então não preciso levar nada.





Quando Abri Meus OlhosOnde histórias criam vida. Descubra agora