Hoje não há quem me segure nessa cama, tenho que exercitar esse pé porque segunda feira vou voltar para o trabalho, não consigo ficar muito tempo parada. Levantei, cuidei de minha higiene e cheguei na cozinha, pondo o peso do corpo mais no outro pé. Mamãe brigou comigo e tentou me fazer voltar para o quarto, dei a certeza de que estava bem e consegui fazê-la aceitar nisso.
Liguei para meu advogado, Dr. Pereira informou que iria olhar o contrato nupcial para dar entrada na papelada de divórcio. Por estarmos casados há tão pouco tempo e não termos filhos, será rápido.
Em seguida, fiz a ligação que evitei a todo custo, liguei para Miguel.
- Alô.
- Alô, amor! Graças a Deus você retornou minhas ligações. Isa, você nem me deu a chance de me defender?
- Defender? A cena que eu vi não tem defesa, Miguel. Você acha que sou burra? Olha Miguel, eu quero...na verdade, estou lhe ligando para informar que irei até a empresa hoje falar com você. Não posso pedir para você vir, meu pai está com muita raiva de você e não pode ter emoções fortes. Que horas você vai estar na empresa e poderá me receber?
- A hora que você quiser, amor. Desde quando você precisa marcar hora para me ver? - Ughrrrrrr...não aguento esse cinismo!
- Desde quando te peguei na cama com outra mulher e tirei a aliança do meu dedo e vê se para com essa coisa ridícula de me chamar de amor, você me traiu Miguel, por mais de um ano.
- Não meu amor, aquela mulher é uma louca, não acredita nela benzinho, vamos acabar com isso. Volta pra casa! – Meu Deus, como me deixei enganar? Até por telefone ele não me engana mais.
- Chego ás dezesseis horas. Avise a Paula para não marcar nada. – Desliguei porque não aguentava mais ouvir os absurdos que ele dizia ao telefone.
Informei a minha mãe que iria sair e disse para onde iria e o motivo de não chamar Miguel para ir até nossa casa. Chamei um carro por aplicativo e entrei na Lemansk ás quinze e cinquenta. Ainda sem andar direito, peguei o elevador até a área dos escritórios da diretoria. Paula foi me receber na porta do elevador e me ajudou a entrar na sala de Miguel apoiando em seu braço.
Meu Deus, o que aconteceu com o rosto dele? Veio andando em minha direção, com lágrimas nos olhos. Chegou perto de mim e me puxou para me abraçar, pensei nele com aquela mulher e o empurrei com toda força enquanto Paula, sua secretária, pedia licença e foi saindo.
- O que é isso meu amor? Você não vai me dar uma chance?
- Quem fez isso com você? Seu rosto...você está muito machucado!
- Foi Pedro, ele não te disse? Pensei que eram amigos agora! Bom, isso não importa, então meu amor, você vai nos dar uma chance?
-Não Miguel e foi por isso que vim conversar com você. Quero o divórcio! – Falei com muita raiva.
- Você não pode estar falando sério! A gente se ama. – Falou se aproximando de mim de novo.
- Eu lhe amava, Miguel! Muito! – Falei me afastando e sentindo as lágrimas querendo sair dos meus olhos.
- Não, você está magoada Isa, por isso está falando esse absurdo! – Ele começou a chorar.
- Miguel, eu só soube de uma mulher, Amanda. Você atendeu uma ligação dela no dia em que conheci sua família. No dia do jantar da empresa no buffet eu lhe vi secando uma garota, depois chegou em casa cheirando a perfume feminino, sei que ali foi outra com quem você me traiu. Quantas mais, Miguel? Não dá! Você matou o que eu sentia por você.
- Me perdoe Isa, você é minha vida. Me perdoe, por favor! Isso não vai mais acontecer amor, eu prometo!- Chegou perto de mim e sentou no chão, aos meus pés. Abraçando minhas pernas.
- Miguel, me solte! Me solta agora! – Falei enquanto tentava tirar suas mãos das minhas pernas.
- Não posso! O que eu vou fazer sem você?- Ele continuava chorando.
- Vai continuar transando com quem quiser, só que sem enganar ninguém dessa vez. Me solte agora, senão vou gritar! – Falei levantando o pé e chutando seus braços até que me soltei e saí depressa de perto dele. Não acredito que além de tudo, ainda tenho que passar por mais isso!
Miguel levantou, puxou o terno se recompondo e enxugou as lágrimas com o dorso das mãos.
- Você não vai me deixar, não dou o divórcio. Você não vai se ver livre se mim – Disse sério enquanto se sentava em sua cadeira. – ah, não vai mesmo!
Nem cheguei a sentar. Meu pé doía demais! Deu a hora de tomar meu remédio, então saí da sala deixando um Miguel sério pegando o telefone dizendo que ia ligar para o advogado dele. Fui direto para sala de Pedro.
A secretaria dele era d. Marta, uma senhora muito distinta e simpática que ligou para Pedro liberando minha entrada.
- Minha nossa, senhora teimosa, o que você está fazendo por aqui? – Pedro como sempre simpático falou sorrindo enquanto chegava perto. Vi o sorriso aberto tão natural e sensual, olhos verdes me analisando dos pés á cabeça, com um olhar conquistador. Não aguentei e o abracei. – Se for pra ganhar esse abraço, quero você aqui todos os dias.
- Então tá bom, senhor insistente, venho todos os dias.- Falei com o ouvido sobre o peito dele.
- Miguel?- Perguntou me afastando o suficiente para olhar nos meus olhos.
- Sim, vim pedir o divórcio! Pedro só você para me fazer sentir melhor, depois do que vivi agora. Se ele me amava tanto quanto fala, porque me traiu tanto? – Sussurro com uma imensa vontade de chorar. Ele deitou novamente minha cabeça em seu peito, enquanto afagava meu cabelo.
Estava sem o terno, só com a camisa social cinza clarinha e a gravata cor chumbo, calça cinza mais escura. Cabelo recém cortado e barba bem aparada.
Levantei meu olhar e ele passou o dedo indicador pelos contornos do meu rosto.
- Vamos espantar essa tristeza indo para um lugar que lhe anima? Não gosto de lhe ver triste. – Continuei nos braços dele, enquanto me segurava com um braço e com a outra mão, continuava deslizando o dedo em meu rosto.
- Pra onde?
- Como assim pra onde? Para a praia, claro!- Falou abrindo o sorriso e dando um beijo na minha bochecha.
- Eu adoraria Pedro, mesmo, mas meu pé está doendo tanto! Que tal marcarmos para próxima semana? Acho que agora tudo que eu preciso é meu remédio e minha cama.- Falei tentava soar menos triste do que realmente eu estava. Hoje me sinto destruída mais uma vez.
- Minha nossa! Por que você não disse? – Se abaixou, me ergueu em seus braços e andou comigo até o outro lado da sala, me colocando em um sofá de couro vinho, muito confortável.
- Pedro, você é louco! – Falei rindo de sua atitude.
- Vou pegar água para que você tome logo seu remédio. – Foi até o lado de sua mesa e abaixou abrindo um frigobar e trazendo uma garrafinha de água mineral.- Tome logo seu remédio. Como você veio? Espero que de táxi, se não vou falar para dona Rosana lhe prender no quarto e fechar com a chave. – sorrindo, ele se abaixou e passou as mãos no meu cabelo. – Espera um pouco aqui. Foi até seu banheiro e voltou com uma toalhinha de mãos, abriu o frigobar mais uma vez e tirou umas pedras de gelo colocando na toalha. Colocou a compressa de gelo em cima de meu tornozelo.
- Você realmente não existe, Pedro. Antes que eu esqueça, você tem um belo soco de direita! – Falei por causa da surra que ele deu em Miguel.
- Como você sabe que foi um soco de direita? Desde quando você entende de boxe?- Pedro perguntou erguendo sua sobrancelha direita.
- Desde meus treze anos assisto lutas do UFC com meu pai. Cheguei a praticar Muay Thay seis meses em uma academia pertinho de casa, mas na primeira luta com uma garota de onze anos, perdi feio, então fiquei com medo e nunca mais voltei.
- Eu sabia que você tinha perfil de lutadora!- Falou sorrindo e apertando minha bochecha.
Pedro me deixou em casa meia hora depois e foi pra casa. Passei o domingo na cama assistindo alguns capítulos da série que gosto. Pedro ligou no final do dia querendo me levar para um barzinho. Agradeci mas o dispensei e terminei uma temporada inteira, até dormir as vinte e três horas.
Segunda feira começou quente e ensolarada. Me arrumei e fui trabalhar de táxi. Passei a semana no meu ritmo quase normal. Pedro ligava todos os dias, perguntando se poderia ir me ver, mas eu inventava todos os dias que tinha algo para fazer. Acho que percebeu que eu o estava evitando, pois não ligou quinta- feira, nem sexta.
Final de semana fui para casa da Joana. Cheguei lá no sábado de manhã para irmos a Praia do Futuro, pertinho de sua casa. Foi quando voltei a dirigir. Á noite fomos a uma boate nova que abriu perto do Dragão do Mar, na Praia de Iracema. Bebi um pouco demais e afastei todos que chegavam perto de mim, chorando. Definitivamente, foi uma fase decadente de minha vida.
Acabei passando três semanas sem ver Pedro, nem Miguel, nem ninguém de sua família. Não passava os finais de semana em casa, estava sempre com Joana e com as outras colegas de faculdade que reencontramos. Muitas festas, porres, mas não conseguia deixar um homem se aproximar.
Meu pai estava cada dia melhor, o que me deixava mais tranquila. A vontade de ver Pedro às vezes vinha forte na cabeça, mas eu me segurei, precisava de um tempo e me afastar um pouco para pôr a cabeça no lugar.
Cheguei na sexta- feira do trabalho em casa e Pedro estava lá, sentado no sofá da sala conversando com minha mãe. Ele me olhou se levantando e chegando pertinho de mim. No outro sofá estava meu advogado. Quando me viu , tirou um documento da pasta e me olhou sorrindo.
- Boa noite. Olá Pedro! – Fui em sua direção lhe olhando nos olhos e só vi uma coisa lá, a mesma que refletiam nos meus olhos, saudade. – O abracei rápido e fui em direção ao advogado. – Dr. Pereira, como vai? – apertei sua mão.
- Bem, obrigado. Saiu a papelada, Isa! Você já pode assinar hoje e mandar para seu esposo assinar.
- Ex-esposo, Dr. Pereira. – Falei o corrigindo.
- Não dona Isadora, será só depois que ele assinar o divórcio.
- Para mim, ele já é ex desde quando o peguei na cama com outra mulher.- Recordei tristemente.
- Dona Isadora, gostaria de falar em particular com a senhora.
- Pode falar, Dr. Pereira, aqui nessa sala só tem pessoas que eu confio. – Falei olhando para Pedro, enquanto ele me olhava me dando um sorriso lindo. Que saudade!
- Bom, consegui identificar que o senhor Miguel foi detido por dois crimes, alguns dias antes da senhora se divorciar dele.
Me senti dormente, tremendo. Como ele foi detido enquanto estávamos casados e eu não soube de nada? Olhei para Pedro e ele baixou a cabeça.
- Quais crimes ele foi acusado?- Perguntei séria, minha mãe se aproximou de mim e abraçou meus ombros.
- Atentado ao pudor e tentativa de suborno. Pelo que eu li nos autos, ele...- Pedro o interrompeu falando e olhando pra mim.
- Foi flagrado por um policial, transando no carro com uma mulher e depois tentou subornar o policial para não ser detido. – Pedro parou, baixou a cabeça e falou- eu o tirei de lá. Foi naquele domingo em que deixei você e minha mãe na casa da Prainha.
- Então você e sua mãe sabiam e me deixaram fazer papel de boba naquele dia?- Falei firme com Pedro, enquanto joguei minha bolsa no sofá vago. – Claro que você fez, o traidor de uma figa é seu irmão! Até você me traiu, Pedro, por essa eu não esperava.
- Isa...- Pedro ia falar, quando dr. Pereira o cortou e disse.
- Aqui está o documento, é melhor você assinar logo para eu lhe mostrar os locais de cada assinatura.
- Claro Dr. Pereira. Pedro, vou conversar com meu advogado, acho que não temos mais o que falar.
- Temos sim, não estou com pressa. Vou esperar você conversar com ele e quando terminar nos falamos.- Pedro sentou de novo.
Meia hora depois, me despedi de Dr. Pereira e voltei para sala para conversar com Pedro.
- Vem Pedro, vamos para o meu quarto. Meu pai está chegando da Universidade e não quero que ele se aborreça com o que vamos falar. – Fomos em direção ao meu quarto. Chegando lá entrei no closet e tirei os sapatos, calçando meu chinelinho de dedo. Quando saí, Pedro estava parado em pé, de frente para minha parede adesivada com a foto da praia.
- Pode falar, Pedro. Você disse que ainda temos o que conversar, então pode falar!************************************
Olá!Iiihhhh...sobrou para o Pedro!
Por favor, não esqueçam de votar nesse capítulo, ok?
Obrigada!Beijinhos!
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Traição
RomanceDifícil pensar que confiei, que amei...me entreguei sem reservas a alguém e hoje sinto o gosto amargo na boca, pela punhalada que levei pelas costas. Meu nome é Isadora, mas pode me chamar de Isa. Sou paulista, mas moro há dez anos em Fortaleza -C...