Ele me afastou de todos que eu conhecia antes dele, até a tradição dos almoços de domingo dos meus pais, deixei de ir. Não consigo entender o porquê dele ter feito isso, se me traiu esse tempo todo. Acreditava que ele me amava, mas quem ama não trai. A vagabunda com quem ele estava me disse que estavam juntos há um ano, então isso quer dizer que na época de nosso noivado, Miguel já estava com ela. Ele conseguiu disfarçar muito bem, mas pensando bem, eu que fui burra, às vezes ele me evitava na cama e outras vezes chegava depois de meia noite dizendo que a reunião tinha se estendido. Amo Miguel, mas vou ter que me acostumar sem ele.
Está tarde e o taxista não para de perguntar para onde vamos. Quando ele se calou, meu celular tocou. Era Pedro, quatro chamadas dele e três de Miguel, como não ouvi o celular tocar? Deliguei o aparelho e joguei na bolsa. Lembrei de Joana, minha melhor amiga da faculdade. Ela tentou marcar algumas vezes de sairmos, mas Miguel não gostava quando eu tocava no assunto. Liguei para ela que me atendeu preocupada, por conta do horário. Contei tudo chorando e Joana me chamou para seu apartamento, de imediato.
O apartamento de Joana fica no centro da cidade. São quatro compartimentos bem decorados. A sala tem tons de areia, mostarda e alguns itens em verde oliva. Só tem um quarto e não entrei lá, porque Murilo, seu namorado, estava dormindo naquele momento. Tem a cozinha, pequena também, toda em vermelho e cinza e o banheiro.
Joana abriu a porta com um hobbie cor de rosa e uma xícara de algo fumegante na mão. Linda, pele cor de jambo, um corpo que dava inveja em muitas colegas que estudavam com a gente. Amo seus cabelos castanhos encaracolados. Ela tinha cortado, agora estavam na altura do ombro, mas na época da faculdade, chegava a sua cintura. Ela me abraçou e me fez sentar no sofá da sala, sentando em uma poltrona grande demais para o apartamento.
- Joana, desculpa, eu não queria ter que perturbar seu sono.
Ela rápido me cortou.
- Para com isso, Isa, assim você me ofende. Eu sou sua amiga, independente do que aquele imbecil do seu marido faça. Agora, você sabe que só tenho esse sofá, que vira uma cama. Então levante daí, vamos afastar essa poltrona comigo para abri -lo.
- Não Joana, obrigada. Fico com ele assim mesmo ou com a poltrona. Não dá pra dormir depois de tudo que vi e ouvi hoje. Fora o que aconteceu entre eu e Miguel, meu pai infartou. Está internado e minha mãe está lá com ele.
- Minha nossa, Isa. Sinto muito por tudo isso! Como o senhor Fernando está? Bebe o chá, amiga, é de camomila, vai acalmar seus nervos. - Joana falou compreensiva como sempre foi.
- Papai fez o cateterismo hoje, dependendo do resultado dos exames, sai amanhã. Nem sei como fazer para contar a minha família em um momento como esse, o que Miguel fez comigo.
- Entendo, agora realmente é perigoso seu Fernando ter emoções fortes mesmo. Dê tempo ao tempo que as coisas vão dar certo. Converse com Miguel antes, nunca gostei dele mas Isa, vocês são casados, até para encerrar um casamento, tem que conversar. Amanhã você pensa com calma, ok? Agora tenta descansar.
- Joana, você ainda está trabalhando naquela clínica odontológica grande no bairro Papicu? Se tiver, vou aceitar uma carona até o trabalho, meu carro quebrou. Ainda estou na Clínica do Dr. Matheus.
- Eu imaginei que você tivesse continuado lá, ainda mais que o Dr. Matheus é adorável. Ele lembra muito meu pai, sabia? Todas as vezes em que ele foi dar aulas práticas na faculdade, lembrava com saudades do meu pai. - Joana falou melancólica.
- Lembro que você tinha me dito isso mesmo. Ele é tão maravilhoso como patrão, Jo. Miguel queria abrir uma clínica para mim, não aceitei na época porque fiquei insegura, tinha saído há pouco tempo da faculdade e tinha pensado no Dr.Matheus, mas agora penso que fiz certo, não sei como faria agora com uma clínica dada por ele. É, fiz certo!
- Amiga, vá descansar. Amanhã sairemos ás sete horas. Pode ficar quanto tempo precisar aqui com a gente, Isa. Você é muito bem vinda!
- Obrigada, Jo. Não sei como Miguel conseguiu me afastar de você. Bom, a fraca fui eu então a culpa é minha. Obrigada mesmo, mas amanhã vou decidir minha vida. Agora vá dormir, preciso pensar um pouco.
- Boa noite, Isa. - Joana entrou no quarto e fechou a porta.
Não consegui pregar o olho a noite toda. No outro dia, as seis e meia, eu já estava de pé, fiz café e arrumei a mesa. Quando Joana e Murilo saíram do quarto, ficaram muito agradecidos por não terem esse trabalho. Saímos as seis e cinquenta. Quando cheguei na clínica, liguei para minha mãe que me informou que meu pai já estava fazendo exames. Se tudo corresse bem, sairia no máximo as catorze horas.
Quando entrei em meu consultório, Mariana, a recepcionista informou que meu esposo tinha ligado, antes de eu chegar. Falei que da próxima vez que ele ligasse, ela dissesse que eu não trabalho mais aqui, ela concordou em dar o recado. Atendi os três primeiros pacientes, as nove horas, fui até a copa tomar um café. Quando voltei, a atendente do meu consultório falou que o quarto paciente já estava dentro do consultório. Ela se abanava com um bloquinho de anotações dizendo que o paciente era lindo, parecia um ator de Hollywood! Entrei rindo da atitude dela, mas não durou muito.
- Isa, como você está? Eu fiquei muito preocupado sem ter notícias suas.
Pedro estava de pé, com um terno cor chumbo, gravata azul clara, camisa branca e calça ajustada. Dou razão a minha atendente, Pedro é lindo.
- Bom dia, Pedro. - Falei séria.
- Trouxe um café da cafeteria da esquina, já ouvi você falar que o café de lá é ótimo e um croissant de queijo, sei que é o seu predileto. - Pedro falou com os olhos brilhantes.
- Não quero, obrigada, acabei de tomar café. Não sabia que você prestava tanta atenção ao que eu digo. Pedro, acho que não temos mais nada para falar. Vou procurar seu irmão ou mandar um advogado fazer isso. Agora se era só isso..
- Bom, eu paguei por uma consulta. Ainda tenho tempo! - Ele falou deixando a sacola da cafeteria em cima da mesa e sentando na cadeira de paciente.
- Você só pode estar brincando! Olha só, tenho tanto com o que me preocupar, não preciso de mais isso. O que você quer? - Perguntei já irritada.
- Quero que me perdoe e que você aceite jantar comigo hoje para conversarmos. Vou ficar no seu pé, se você não aceitar. - Pedro olhou com aqueles olhos esverdeados tão lindos para mim.
- Não estou com raiva de você, só não quero falar, nem olhar para o seu irmão. Diga a ele que quando eu me sentir melhor, falo com ele ou mando meu advogado. Você falou para sua mãe? Como dona Bete reagiu?
- Falamos sim, hoje de manhã no café. Ela não reagiu nada bem! Miguel teve que ouvir por uma vida. Você sabe como é nossa mãe não importa se é filho, se estiver errado escuta do mesmo jeito. Como você está, Isa?
- Sei sim, até imagino. Vou sentir falta dela, dona Bete é uma mulher maravilhosa. Pedro, parece que estou flutuando. Ainda não sinto o mundo abaixo dos meus pés. Foi um golpe muito grande do seu irmão. Achava mesmo que ele me amava.
- Ele continua dizendo que te ama! - Pedro fala querendo fazer a paz.
- Desculpa te perguntar, mas, por que você está com esse hematoma no rosto? - Vi assim que entrei, pretendia nem perguntar, mas a curiosidade era maior.
- É uma longa história, Isa. Passo no apartamento dos seus pais ás vinte horas. - Falou e foi andando em direção a porta.
- Não, espera. Eu não disse que aceitaria.
- Mas também não negou. Até mais tarde.- Pedro falou já na porta.
- Ok, eu vou, mas com uma condição. Nos encontramos lá. Me passa o nome do local pelo celular, que lhe encontro as vinte e quinze.
- Combinado, então. - Ele voltou devagar, chegou bem perto do meu rosto olhando nos meus olhos, senti sua respiração nos meus lábios, depois virou e beijou minha bochecha bem devagarzinho. Senti um calafrio subindo pela minha coluna e fez um calorzinho bom no meu pescoço. Acredito que fiquei até corada, nem lembro se algum dia me senti assim. Piscou o olho e saiu.
Minha mãe me ligou as onze e trinta e cinco informando que os exames de meu pai foram muito bons e que realmente ele terá alta as catorze horas. Falei com Dr. Matheus que me liberou as treze horas para ir ao hospital buscar meus pais. Tenho que me preparar psicologicamente para a conversa que vou ter com os dois.************************************
Olá galera!
E aí, o que vocês acham? Pedro quer ajudar Miguel a reconquistar Isa ou que tomar a lindona pra ele?
Comentem aí, depois votem que volto com novos capítulos, desses que adoro bem longos, ok?Obrigada e beijinhos!
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Traição
RomanceDifícil pensar que confiei, que amei...me entreguei sem reservas a alguém e hoje sinto o gosto amargo na boca, pela punhalada que levei pelas costas. Meu nome é Isadora, mas pode me chamar de Isa. Sou paulista, mas moro há dez anos em Fortaleza -C...