Não sei como desci do carro, não sei como andei por todo o hospital e como sabia para onde estava indo. Também não entendi como cheguei até aqui, nessa sala de espera. Percebi o rosto de minha mãe molhado de lágrimas e uma mão quentinha no meu braço esquerdo. Pedro, graças a ele consegui chegar aqui, agora eu sei.
- Mãe, como ele está? Como aconteceu isso? - Falei engasgada com as lágrimas.
- Oh minha filha, vem cá! Olá Pedro! - Pedro respondeu e minha mãezinha me abraçou, beijou meus cabelos e contou chorando- Ele estava falando ao telefone, Isa. Eu estava pondo roupas na máquina de lavar, foi quando ouvi a queda dele. Chegamos aqui, o médico disse que ele desmaiou com a dor e lembrei que quando cheguei a sala, ele estava no chão, desacordado, segurando o braço esquerdo. -Chorou mais depois de falar.
- Isa, fica com sua mãe que vou buscar água e café. Não se preocupe, vou avisar ao Miguel e a todos lá em casa e ligar para a clínica contando o que aconteceu.
Pedro foi um anjo que entrou no meu dia hoje para me amparar. Quase meia hora depois, ele voltou com duas garrafinhas de água e café para nós.
- Tentei falar com o Miguel, mas o celular está na caixa de mensagens e não está no escritório. Deve ter ido para algum compromisso da empresa. Liguei para o seguro, já foram buscar seu carro e já avisei a todos lá em casa. Isa, deixei recado com a secretária de Miguel para que ele me ligue quando chegar, urgente.
- Deixa Pedro, Miguel quando começa a trabalhar, não existe mais nada nem ninguém, mas ele está certo, o cargo dele exige muita atenção. Muito obrigada por você ter feito tudo isso.
Quando terminei de falar, um médico saiu de uma porta dupla e veio até nós, diretamente até onde minha mãe estava.
- A senhora é a esposa do senhor Fernando Félix? - Minha mãe assentiu calada. - O senhor Fernando está acordado e consciente. Vamos fazer uma angioplastia, comumente chamado por cateterismo. É um procedimento simples. Vamos inserir um cateter pela virilha para desobstruir o vaso. Ele ficará aqui essa noite e amanhã faremos alguns exames, dependendo dos resultados, o liberaremos para voltar para casa. A senhora vai ser a acompanhante dele?- Minha mãe confirmou.- Então venha aqui assinar a liberação para começarmos o procedimento.
Ela saiu acompanhando o médico. Pedro estava calado, levantou a cabeça e olhou pra mim.
- Você não sabe quantos filhos queriam estar em seu lugar. Estava lembrando quando soubemos do acidente de helicóptero do papai. Tudo que pensei foi que "ele está vivo, o helicóptero pode ter caído, mas ele está vivo, ele é forte." Tudo que eu queria era ter recebido uma notícia assim, de que meu pai foi contra as estatísticas. Que notícia boa o seu Fernando estar bem, Isa.
Não aguentei, corri e o abracei. Chorei molhando a camisa dele. Pedro, ao contrário do jantar da empresa, me apertou tanto quanto eu a ele e ficamos assim, abraçados até minha mãe aparecer.
- Isadora!- Minha mãe tinha um tom de repreensão na voz.
Soltei Pedro com o susto, na verdade parece que aterrissei na Terra naquele momento. Como pude sentir tanto conforto num momento tão difícil?
- Sim mamãe! - Pensei ser algo referente ao meu pai.
- Você pode ir ao toalete comigo, filha?
- Claro mamãe. Espera só um minuto, por favor.
Voltei em direção ao Pedro.
- Pedro, você hoje foi meu porto seguro, mas você pode ir. Sei que já era para estar trabalhando há um tempo e mudou seus planos por minha causa. Deixa que volto com Miguel, sei que ele não vai me deixar voltar sozinha mesmo. Muito obrigada!
- O que você está falando? Eu não vou sem você! A empresa não vai falir se o diretor financeiro não foi trabalhar- Deu um meio sorriso sexy.
- Mas Pedro, não precisa mesmo. A final vou passar o dia aqui com mamãe e só vou embora a noite. Você vai ficar cansado de ficar sentado aqui sem fazer nada. Estou bem, sei que papai vai ficar bem também. Sou muito grata a você por tudo que você fez hoje.
- Eu não fiz nada, Isa.- Ele se aproximou devagar, pegou minhas mãos, subiu até os pulsos e ficou massageando com delicadeza, me olhando no olhos.
- Isa, você vai estar aqui e eu não vou ficar tranquilo se eu não souber como você está, quer dizer...seu pai. Eu não vou estar tranquilo se não souber se está tudo bem.- Olhou para minhas mãos e as soltou. Senti como se ele sempre estivesse ali e agora não mais, como se tivesse faltando algo, as mãos dele. Deve ser porque é irmão de Miguel, porque os dois tem o mesmo sangue, não sei.
- Tá bom, então. Vou...acompanhar minha mãe no... toalete. - Falei nervosa, com medo dele perceber minha confusão.
Minha mãe me puxou pela mão. Me senti com cinco anos pela forma como me levou.
- Isa, minha filha, o que está acontecendo entre você e seu cunhado?- Minha mãe questionou irritada e preocupada.
Parei! Não há nada. Não...há...nada? Não sei se eu estava respondendo ou perguntando porque eu não sei definir essa situação, só veio na minha cabeça a imagem de Pedro de pé na porta de seu quarto, cabelo bagunçado, olhinhos de sono, bíceps grande firme, abdômen perfeito e claro, aquela coluna enorme erguida em sua cueca boxer. Oh minha nossa, não posso estar vendo meu cunhado de outra forma. Não, isso definitivamente é só uma confusão da minha cabeça. Devo estar fragilizada por causa do infarto do papai, é isso.
- Hum-hum...- pigarro alto. - Ainda estou aqui esperando uma resposta. Pela demora, realmente há alguma coisa.- Mamãe pensando um absurdo desses de mim.
- Não, mamãe, não sou infiel. Não faria isso com outro homem, quanto mais com Pedro! Que ideia a senhora tem da sua filha, não é?! Nem acredito que ouvi isso.
- Minha filha, acho que não está percebendo, mas você tem passado muito tempo com Pedro. Primeiro ele lhe levou de volta do jantar naquela noite, não seu marido. Foi para a casa da Prainha com você, não seu marido. Hoje é ele quem está aqui lhe consolando, não seu marido. Cadê o Miguel que não está aqui agora?
Mamãe agora me pegou, nem eu sei a resposta, só sei que não está acontecendo nada entre eu e meu cunhado. Pedro é especial demais, mas cunhado é pra ser irmão, é o que ele está sendo pra mim.
- Mãezinha, não se preocupe. Miguel só trabalha demais e vejo Pedro como um irmão.
- Não sei Isa, não me convenceu.- Mamãe quando cisma com uma coisa, não esquece não.
- Vamos nos preocupar com o papai. Será que alguém já levou informações sobre ele e não nos encontrou lá? Vamos!
Falei apressada saindo do banheiro e ela me seguiu
Quando chegamos na sala espera, Pedro estava sentado, falando no celular digitando rápido em um tablet grande envolto em uma capa de couro, deve ter ido buscar no carro. Estava resolvendo coisas do trabalho, achei melhor não o incomodar. Quando ele desligou, perguntei se tinha notícias do Miguel. Para minha tristeza, ele ainda não atendeu nem retornou. Estou começando a ficar preocupada.
Finalmente, acabou o procedimento de cateterismo do papai. Ele está bem e ainda sob efeito da anestesia. Depois de saber que meu pai e minha mãe estavam confortáveis, achei melhor voltar para casa com Pedro. No caminho, falei sobre minha preocupação sobre o desaparecimento de Miguel. Pedro também estava preocupado e resolveu ligar para a empresa de novo. A secretária falou que Miguel ligou há duas horas pegando os recados e informou que tinha ido em seu apartamento dar uma olhada na reforma, que só o perturbasse se fosse caso de vida ou morte.
Convenci Pedro a me levar lá para falar com Miguel. Se ele estava bem e se foi só olhar o apartamento, porquê não me procurou hoje, já que precisei tanto dele? Tentei ligar mais uma vez para o celular dele no caminho, para saber se ainda estava lá e dizer que estávamos chegando. Mais uma vez, não atendeu.
Quando chegamos ao apartamento, entrei sem ser barrada, pois antes de casarmos, sempre passava os finais de semana aqui com ele. Usei minha chave e entrei. Já era noite e não tinha mais nenhum funcionário, achei até que estava vazio, mas ouvi uma gargalhada feminina vindo do corredor que levava aos quartos e só entrei.
A porta estava encostada e a empurrei com força até ouvir o barulho dela colidindo com o protetor anti impacto no chão. Miguel estava deitado de bruços com um loira peituda pelada sentada em suas costas. Com o barulho, ele saltou para o lado e ela caiu rolando da cama ao chão. Miguel olhou para mim como nunca vi. Olhos arregalados, cabelos desgrenhado, extremamente pálido, pênis estava relaxado, provavelmente já tinham transado e eu aqui burra, preocupada por ele não ter dado notícias, precisando de seu apoio com meu pai hospitalizado.
-Amor, calma. Olha só, não aconteceu o que você está pensando! - Falou baixinho, talvez achando que assim me manteria calma.
- Ah aconteceu sim e foi uma delícia!...Hahahahaha..- A loira peituda zombou.
- Cala a boca, Amanda! Vista sua roupa agora. - Nervoso, Miguel gritou.
Enquanto eu estava com os olhos vidrados, presenciando aquele show de horrores a minha frente, não sentia minhas pernas. Olhava para Miguel vestindo suas calças enquanto a piranha já vestida com uma saia lápis colada, terminava de vestir a blusa. Ouvi passos.
- Isa, não aguentei , você demorou, cadê o...- MIGUEL!!!!!!! Não acredito! - Pedro falou escandalizado.
- Pedro? O que você está fazendo aqui? Isa, o que você estava fazendo com Pedro? - Miguel achando que pode falar alguma coisa.
- Como é? Miguel, eu vou te matar, já tinha falado para você não magoá-la! - Pedro falou avançando contra o irmão.
Finalmente sai do meu transe e segurei o braço do Pedro.
- Espera! Você sabia de alguma coisa?- Olhei nos olhos de Pedro. - Quer dizer que não é a primeira vez? O que vocês têm me escondido?
A amante do meu marido veio em minha direção desfilando.
- Hahaha...primeira vez? Queridinha, temos um ano entre idas e vindas. Mas hoje foi a primeira vez que ele me trouxe em sua cobertura, então sim, é a primeira vez. Vou saindo porque não tenho saco para novela mexicana.
Olhei para Miguel que estava olhando para o chão, com lágrimas nos olhos e Pedro olhando para mim.
- Isa, me perdoe. Não queria acabar com o casamento do meu irmão. Tentei falar para ele parar, mas Miguel é um fraco! Vamos, vou lhe levar pra casa. - Tentou tocar em minha mão, mas me afastei saltando para trás.
- Isa, meu amor, me perdoe por favor, você tem que me ouvir. Eu te amo, não queria...- O interrompi baixinho, o mais fria que consegui.
- Miguel, cale sua boca. Não preciso ouvir mais nenhuma palavra! Você também, Pedro. Tinha passado a confiar em você mas na verdade, mentiu tanto quanto o seu irmão, está no sangue de vocês.
Me virei e saí. Desci o elevador, saí do prédio, acenei para o táxi, entrei e lembrei que eu não tenho ninguém, pedi para o motorista só dirigir. Não posso nem ir para a casa dos meus pais, deixei a chave em outra bolsa e ir lá no hospital, só iria dar um motivo para meus pais se preocuparem. Péssima hora para o Miguel me trair. Parei e pensei no absurdo que tinha passado na minha cabeça e tive um ataque de riso que vinha de um lugar dentro de mim, desconhecido até então. Emendei o riso com um choro. O motorista acenou com a cabeça como se dissesse " chore que faz bem pra alma". Hoje chorei por um ano inteiro que sorri.************************************
Olá galera!
Coitada da Isa, gente!
Esse foi o capítulo de hoje e espero que tenham gostado. Deixem o like e sigam- me no Wattpad, se quiserem outro capítulo, divulguem a história!Até a próxima!!!! 😘🌹
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Traição
RomanceDifícil pensar que confiei, que amei...me entreguei sem reservas a alguém e hoje sinto o gosto amargo na boca, pela punhalada que levei pelas costas. Meu nome é Isadora, mas pode me chamar de Isa. Sou paulista, mas moro há dez anos em Fortaleza -C...