PRÓLOGO

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O Transtorno de Dupla Personalidade ou Transtorno Dissociativo de Personalidade é considerado uma condição mental onde uma pessoa demonstra traços de duas ou mais personalidades, tendo cada uma, uma maneira diferente de interagir e lidar com o meio onde está inserida.

10 anos antes...

Eu não podia acreditar naquilo. Tudo parecia mentira.

— Pare de chorar! Você é homem! O que diabos seus pais fizeram com você para ser tão fraco?!! — Minha tia exclamou, desferindo um forte tapa em meu rosto, que me fez cair no chão. Meus pais tiveram que viajar a negócios, e me deixaram com minha tia Elis... Mas ela não gostava de mim. Não gostava da maneira que eu me vestia. Ela rasgou metade das minhas roupas e me obrigou a vestir roupas do filho dela. Roupas masculinas.

Hoje eu me deparei com a pior cena da minha vida. Meu melhor amigo e também uma paixão minha, havia sido assassinado brutalmente. O corpo foi jogado em um beco, onde os cachorros devoraram. Eu o amava, mas nem tive a chance de dizer isso. Ele... ele se foi sem saber dos meus sentimentos. A máfia havia o matado e meus pais foram resolver essa questão.

Mas eu não estava bem. Nada bem. Eu já apanhei incontáveis vezes da minha tia somente hoje, fui obrigado a sair com a sobrinha dela, e agora eu nem posso chorar em paz pelo meu amor...

Olho para a rua, vendo o carro da mansão, parado e com o motorista da família próximo dele, aguardando alguma ordem. Minha tia foi reclamar com algum empregado dentro de casa, e quando notei, eu já caminhava em direção ao carro, vendo o motorista me encarar.

— Deseja algo, Sr. Hernandez?

— As chaves do carro. — Peço baixinho, choroso. Ele pareceu confuso, e então sorriu, pousando a mão em meu ombro.

— Bebê, você é muito pequeno para dirigir. Deixe que eu te levo, hm? — Ele sorriu largamente, abrindo a porta do carro para mim. Não falei nada, apenas entrei, fitando o motorista fixamente. Ele sorria constantemente sempre que me olhava. Eu podia ser novo, mas não era burro. Sei o que ele estava querendo fazer. Mas... eu só queria sair dali. Ir para qualquer lugar que me deixasse longe da minha tia.

O motorista parou em um lugar deserto. Eu o olhei, vendo ele tirar o cinto de segurança e travar as portas, começando a abrir a camisa.

— Não fica assustado... Vou te fazer muito bem... — Ditou, aproximando seu rosto do meu, mas viro o rosto, o olhando seriamente.

— Eu não quero que me faça nada! — Exclamo, e ele rapidamente segurou meu queixo com força, me fazendo gemer de dor, dado ao tapa que levei antes.

— Escuta aqui, seu veadinho, você vai me obedecer e cai ficar com essa boquinha calada, entendeu?!! — Começo a chorar, querendo desistir da minha vida e torcer para que ele me matasse, mas eu sei que isso não iria acontecer. Ele iria abusar de mim e voltar para casa como se nada tivesse acontecido.

E continuaria vivo...

Sinto minha cabeça doer. Era uma dor tão forte que me fez gritar, curvando meu corpo e levando as mãos à cabeça. O que está acontecendo?!

— Pare de gritar, moleque!!! — O motorista gritou, me agarrando e arrancando minhas roupas. A dor ficou tão forte... cada vez mais...

Quando voltei ao meu eu, tudo estava silêncio. Olho para minhas mãos, vendo ambas banhadas por sangue, assim como minha roupa. Olho para o banco do motorista, onde ele ainda permanecia, mas dessa vez, ele não se mexia. Estava parado, com a cabeça partida contra o vidro da janela do carro. Em sua garganta estava posto uma faca que ele costumava carregar para todos os cantos.

Não reagi, não me culpei. Não entendo o que havia acontecido, mas sei que eu tive envolvimento. Abandono o veículo, vendo dois homens rapazes se aproximando, notando minha presença.

— Hey, garoto. Você está bem? — Um deles questionou. Era moreno e tinha um sorriso bonito.

— Julian, olha aqui... — O loiro falou, olhando para dentro do carro, notando a bagunça que estava lá dentro. O loiro veio até mim, tocando meu corpo, conferindo se eu estava machucado, até parar em meu rosto, provavelmente marcado pelas diversas agressões da minha tia. — Você foi mais uma vítima, não é? Está tudo bem... eu vou te ajudar com essa bagunça. — Falou, me deixando surpreso. Ele me abraçou, como se tivesse abraçando uma criança, bem, que de fato eu era. Eu me senti tão protegido...

Naquela noite escura, onde eu pensei que tudo iria piorar, ele cuidou de mim, das minhas feridas, secou minhas lágrimas e sumiu com o corpo e o carro, tirando todo aquele sangue de mim.

Ele se chamava Álvaro...

Eu queria retribuir o favor...

Mas depois daquela noite, eu nunca mais o vi. Nem vi mais minha tia também quando retornei para casa...

NA TOCA DO LOBO -  Duplamente APAIXONADO - Livro II (ROMANCE GAY) Onde histórias criam vida. Descubra agora