Não era fácil lidar com um problema que não tem cura. Você simplesmente se vê obrigado a conviver com ela. Foi assim que me vi obrigado a fazer quando descobri por bocas de médicos que eu tinha dupla personalidade: uma que assumi para suprir minhas dores, e outra para eliminar elas.
Eu lembrava de poucas coisas quando essa troca ocorria, mas estava ciente de que agora tudo iria virar uma bagunça, pois Álvaro me viu com sangue nas mãos e um corpo à minha frente. Naquele dia, eu simplesmente fugi dele. Eu não queria falar, não queria dá explicações. Álvaro gritou comigo, disse que eu era um mentiroso. Eu não falei sobre minha doença, e nem pretendia. Deixei que ele colocasse para fora tudo que sentia.
Não foi fácil ouvir que eu era um usurpador, que planejei tudo, que eu nunca fui o inocente que todos acreditavam que eu era. Eles só me amavam dessa forma: quando eu me tornava um garotinho assustado e obediente, que é tido como palhaço e até maluco. Mas ninguém aprendeu a amar o meu eu de verdade, que carrega dores traumáticas desde a infância e que ninguém quis me ajudar a resolver. Ninguém me estendeu a mão. E quando Álvaro descobriu sobre isso, ele me soltou, me abandonou, como todos fazem. Acreditam que eu sou um perigo, e talvez eu seja.
Mas agora... eu tenho outras prioridades.
— Papai! — Sol correu em minha direção, com um dos seus lacinhos na mão. — Soltou... — choramingou, me entregando o lacinho e já se colocando de costas para mim para que eu pudesse arrumar seu cabelo.
Desde aquele acontecimento havia se passado 3 anos. Eu retornei para o Brasil, fui covarde e fugi de Álvaro. Não permiti que ele soubesse da minha gravidez. Eu o amo, mas não aguentava conviver com ele sabendo que ele pensava em mim como um mentiroso.
Ele não sabe que tem uma filha, e mesmo se soubesse, não quero continuar com ele somente por conta de uma gravidez. Meus pais me deram todo o suporte e apoio que eu precisava. Me ajudaram a equilibrar meu transtorno e explicar para Sol de uma forma mais divertida para ela entender quando eu mudar de uma hora para outra. Não é algo que eu possa controlar.
— Filho, você sabe que eu não concordo com o que você está fazendo, não é? — Meu pai apareceu, se sentando ao meu lado. Termino de arrumar o cabelo da minha filha, sorrindo para ela. Tê-la foi sem dúvidas a melhor coisa que já aconteceu na minha vida. Ela supriu a maior parte das minhas dores na qual eu era obrigado a conviver.
— Sol, que tal se arrumar para tomarmos sorvete? Sobe para o quarto eh vou já te ajudar. — Falo e ela assente, sorrindo e correndo para o quarto. Olho para meu pai seriamente. — Já encerramos esse assunto. Álvaro me odeia!
— Porque você não explicou para ele! Você nem ao menos teve a decência de dizer que ele tem uma filha! É décima vez que ele me liga hoje perguntando notícias suas. Eu fiz o que você pediu, eu disse que não sabia de você, mas eu não aguento mais essa situação. Querendo ou não vocês continuam casados! Não pode ser tão covarde e fugir da responsabilidade assim. Sabe muito bem que a máfia não funciona dessa forma!
— Pai, chega! Eu não preciso do Álvaro, e não tenho medo da máfia. Eu não quero ter que... ver Álvaro me encarando com tanta mágoa. Eu não vou aguentar. Eu já recebi muitos olhares de repreensão. Mas os dele... seria cruel. — Balbucio e ele suspira em desistência.
— Você que sabe. É o meu filho e eu vou te apoiar. Mas saiba que eu não concordo com a sua atitude. — Ditou, se levantando. Sol apareceu saltitante, o que me fez sorri.
— Filha, você não pode sair vestida de fada. — Falo ao ver sua fantasia na qual ela vestiu. Ela me olhou sorrindo, pondo as mãozinhas na cintura e me encarando.
— Papai, você diz que devemos ser quem quisermos ser. Hoje eu quero ser fada. — Ditou, me pegando em um dos meus frequentes conselhos.
— Quis criar uma mulher decidida? Agora aguente. — Meu pai brincou, depositando um beijo no rosto de Sol e saindo da sala. Suspiro, me levantando e ajeitando minha calça jeans justa, a pegando nos braços e sorrindo que nem bobo.
— Tem razão, amor. Você é uma fada, então tem que sair a caráter. Vamos! — Ela comemorou, abraçando meu pescoço. E então saímos juntos, caminhando mesmo.
Quando estava perto da sorveteria, homens nos cercaram. Sol se assustou, me abraçando mais forte. E como instinto, eu a abracei de volta, me preocupando exclusivamente com a vida da minha filha. Levo a mão livre para minha cintura, onde estava posta minha arma, mas todos eles ergueram os punhos de imediato, me assustando ao ver Sol começando a chorar.
— Melhor não reagir e vir por bem. — Um dos homens ditou.
— Me prometam que não vão machucá-la. — Peço, vendo um deles se aproximarem e puxar meu braço.
— Desde que você não reaja, todos ficarão bem. — Ditou, me empurrando para dentro de uma Van preta.
— Papai... — Sol choramingou, e eu a abracei fortemente, tentando acalmá-la.
— Está tudo bem, amor. Fica calma... Está tudo bem. Ninguém vai te machucar. — Falo, olhando bravamente para o cara que estava me desarmando. — Para onde estão nos levando?! — Questiono, e o homem que dirigia me olhou pelo espelho do carro.
— Você vai saber...
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NA TOCA DO LOBO - Duplamente APAIXONADO - Livro II (ROMANCE GAY)
Romance"Ele era uma farsa, eu sou o verdadeiro eu. Aquele que fará da sua vida uma completa bagunça. E então? Está preparado para essa relação explosiva, amor?" PLÁGIO É CRIME! CRIE, NÃO COPIE :3