"Sana"
- Eu apenas acho que essa mudança fora necessária para nós, Sana. Não pense que fiz isso porque odeio você ou a Momo, apenas estou tentando dar um futuro melhor a vocês duas.
- E você? Como fica nessa história?
- Eu já vivi muitas coisas, não sou velha de fato, mas me machuquei muito no meio do caminho.
- Ainda acho que essa não é a nossa casa...
Minha irmã mais velha sabia sobre a minha opinião dês do começo, tanto minha quanto de Momo, mas por conta do "melhor tratamento" nós nos mudamos para Taiwan. Terceiro ano do ensino médio, na metade do ano, eu sabia que seria um inferno, ninguém nunca teria certa paciência para uma pessoa igual a mim. Mas eu não podia fazer nada a respeito, eu dependia das pessoas a respeito.
Minatozaki Sana, dezessete anos, moro com as minhas irmãs mais velhas, e como se esse fato já não fosse complicado demais, a minha cegueira não é uma aliada na situação. Mina sempre me disse que eu nasci assim, cega com nenhuma chance de reverter a situação, mas dentro de mim não era isso que eu sentia ou ao menos achava, talvez fosse complicado demais aceitar o fato que eu não podia enxergar nada, não sabia como era os meus pais, não sabia como era as minhas irmãs quanto mais eu mesma, mas a voz de cada uma me fazia imaginar seres mágicos, Mina com aquela voz doce me fazia imaginar uma garota que gosta de estudar e que protege quem ama - isso de fato é verdade -, Momo sua voz as vezes me irritava, ela inteira as vezes me irritava, mas a minha irmã do meio era o ser que eu mais imaginava ser especial e simpático, por mais que tivesse um coração frio, ela sempre me abrigava quando precisava, sempre estava ali comigo, tanto ela quanto Mina, e eu acho que aquilo era o suficiente.
Meus pais... não me lembro das vozes de ambos, eu não conseguia lembrar de nada, nada que envolvia eles, acho que nada que era relacionado a eles. Como uma grande borracha usada em minha mente para esquecê-los assim, da noite para o dia. Era estranho, mas não dolorido, havia virado comum.
- No que está pensando? Está muito quieta.
- Talvez por estar entrando em uma escola nova, na metade do ano. Ah! E por ser cega também-
- Sana, não começa com isso de novo ok? - eu ouvi a voz exausta da minha irmã adentrar a cozinha, senti o cheiro do perfume de Momo e constatei que ela estivesse irritada com a minha reação pela mudança - Você é uma adolescente normal, que vai entrar em uma escola nova-
- Na metade do ano, com deficiência visual! - gritei por fim - Você pode achar isso normal, Momo! Porque você é uma adolescente normal!
- Chega! A viagem estressou todo mundo aqui, vão para o quarto de vocês, por favor.
Eu me levantei pegando a minha bengala caminhando sem rumo pelo o que eu constatei ser um enorme corredor. Senti o macio da cama entre meus dedos por fim sentando ali e fechando os olhos. Ambiente diferente, uma casa diferente, pessoas diferentes. Não que eu tivesse vários amigos no Japão, mas considerava muito as únicas pessoas que não se aproximaram de mim por dó.
Ouvi sutilmente a porta ser aberta e a parte ao meu lado da cama ser afundada, senti as mãos da minha irmã mais velha em meus fios, em um carinho - sem conforto algum para mim.
- Sei que não gostou dessa mudança, sei que não quer entrar em uma escola nova na metade do ano, e sei que não se sente bem por conta da sua deficiência. Mas preciso que entenda que isso foi preciso, tanto pra mim quanto para Momo e principalmente para você.
- Eu queria ser normal...
- Você é normal, meu bem. Você é especial do seu jeito, nunca deixe esse pequeno fato te atrapalhar ok? Você ainda vai ser muito feliz, confia em mim.
- Posso? - eu sussurrei levantando as mãos no alto, ela já sabia o que eu queria no momento.
Toquei o seu rosto com as pontas dos dedos, tentando imaginar com Mina era, se era alta baixa, como era o formato dos seus olhos, sentia que o seu nariz era fino e bem desenhado, sempre contornava os seus lábios tentando imaginar como ele era. Aquilo sempre me passava conforto.
- Gosto de sentir a sua franja...
- Você pode cortar uma também, irá ficar linda.
Eu neguei, seu perfume se enfraqueceu e eu cogitei que ela estivesse arrumando a minha cama já que o barulho do edredom se fez presente no mesmo minuto. Ela me ajudou a tirar meus sapatos e a me deitar, cobrindo o meu corpo logo em seguida, eu ri pela a sua atitude.
- Eu já tenho dezessete anos, Mina, eu sei fazer isso.
- Sh, deixa eu cuidar da minha irmãzinha em paz - nós duas rimos, e a gargalhada apenas aumentou quando Momo apareceu ali se jogando em cima de mim. Aquela era a minha única família, apenas aquela.
- Boa noite, criatura.
- Boa noite, Momo.
As duas me deixaram ali juntamente aos meus pensamentos, a maioria não levavam a lugar nenhum, conclusão alguma, ou ao menos solução, eu apenas... apenas pensava. E em meio a isso, eu peguei no sono.
...
- Ok, você deve esperar a Momo para juntas pegarem o ônibus da escola, entendeu?
- É a terceira vez que você fala isso, Mina, eu já entendi.
Sentia as suas mãos fazendo o nó em minha gravata, provavelmente o uniforme era aqueles bem comuns, já que eu podia sentir o tecido da saia e da camisa social acompanhada com uma gravata padrão, o tempo todo ouvindo o quão linda estava, tanto de Mina quanto de Momo, mas não dava importância, seria a mesma coisa, todos mexeriam comigo, não explicitamente, mas sempre teria aqueles comentários, aqueles mínimos comentários que me machucavam.
- Pronta? - Momo sussurrou assim que paramos, eu apertei a minha bengala com força ouvindo várias vozes novas, aquilo era o que mais me agoniava, já deveria ser normal, já deveria fazer parte da minha vida, mas porque nunca aceitei que a minha cegueira era algo de mim? Nunca compreendi e dificilmente compreenderia - Sana?
- Vamos...
- Vamos por ali, tem uma rampa-
- Deixe-me ir pelo o lugar principal?
- Há escadas, tem certeza?
- Tenho.
Eu segurei o braço de Momo tendo uma leve dificuldade no começo, mas me adaptando com a sequência logo em seguida. Os murmúrios começaram assim que ouvi a porta ser aberta, minha respiração gradativamente ficou descompensada, e a minha única reação foi apertar mais o braço da minha irmã.
- Calma, está tudo bem. Vou te levar até a sua sala, ok?
Eu assenti apenas seguindo os passos dela. Paramos uma vez para que Momo pegasse algumas informações, matérias e coisas do tipo, a sala estava silenciosa e eu fui guiada pela a minha irmã até um carteira, pedindo silenciosamente para que fosse uma das últimas.
- Tudo bem?
- Estaria se eu estivesse enxergando.
- Sana, por favor. Eu vou para a minha sala, venho te pegar no intervalo.
E eu... a única coisa que eu pude fazer no momento foi assentir positivamente.

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Labirinto (Satzu)
FanficTudo poderia ser escuro para a pequena Sana, até que a sua luz surge de um simples trabalho de escola, com a pessoa mais complicada, mas que apenas precisava ser moldada e amada juntamente.