A Tríplice de Quatro e O Dragão de Água

7.9K 479 174
                                    

Os pelos do cavalo se arrepiaram quando foram tocados por pingos da fina chuva que caia lentamente e seus músculos se contraíram em reação. A neblina deixava a floresta densa ainda mais escura e sombria. Os trovões e relâmpagos não assustavam os cavalos dos soldados, mas incomodou o do príncipe o fazendo relinchar em resposta ao som dos céus. O rapaz segurou bem suas rédeas e o animal deu alguns passos para trás ficando quieto. Havia vários soldados atrás dele, espreitavam de cima de uma pequena ribanceira o castelo mais a frente. Com suas armas em punhos, eles esperavam a ordem para invadi-lo e tomá-lo. Em suas armaduras feitas do mais puro e polido ferro negro o brasão de uma serpente roxa se destacava no peito. A mesma serpente que havia nos elmos que não deixavam os rostos a mostra e nos adornos que enfeitavam os cavalos. Quando a chuva aumentou e a visibilidade diminuiu ainda mais, o príncipe esticou sua espada apontando para a construção de pedra e gritou.

- Ao ataque!

Numa fração de segundos todos estavam indo em direção ao castelo. As ferraduras dos cavalos arrancavam a terra do chão e a jogava para cima deixando-o remexido. Apenas dois cavaleiros ficaram em seus lugares observando a tropa prosseguir e ouvindo o som dos passos pesados na floresta.

- Chronos adora se mostrar - disse o cavaleiro de corpo robusto.

- Ele é o sucessor do trono. Precisa mostrar que pode liderar o exército. Você sabe - respondeu o mais magro.

O primeiro bufou em desdém e deu o comando para seu cavalo correr. O outro o seguiu de perto.

Os soldados liderados pelo príncipe atacaram ainda de longe os guardas desatentos com flechas feitas de trevas e fogo provocando um incêndio. Eles se movimentavam como as serpentes, rápidos e silenciosos e não demorou muito até que matassem todos os guardas reais, prendessem os trabalhadores e assassinassem o rei e a rainha. Era assim que eles agiam, por mais cuidado que tivessem seus inimigos, os alvos nunca os viam chegando e nem escapavam.

Príncipe Chronos limpava o sangue em sua espada quando ouviu um barulho na sala do trono e no meio do tumulto ele achou uma gaiola caída no chão coberta por uma das cortinas que havia sido rasgada na hora da invasão. Ao tirar o pano de cima viu uma pequena coruja assustada. Ele se agachou e retirou o elmo mostrando seu rosto com cabelos negros e olhos verde esmeralda, marcas do gene de sua família. O rapaz riu, abriu a porta da gaiola e colocou seu braço dentro esperando que a corujinha subisse nele, mas ela não subiu, estava assustada demais, então o príncipe falou.

- Não vou machucá-la.

Foi como se o animal tivesse sido enfeitiçado para o entender e confiar nele. Devagar a coruja se aproximou da mão do rapaz e com cuidado subiu nela. O príncipe sorriu puxando o braço para fora.

- Você e sua estranha mania de falar com animais - disse uma voz atrás dele.

Chronos virou e viu duas figuras entrando, ele então caminhou para perto deles com a coruja em sua mão.

- Com tantas maneiras de gastar sua magia, é nisso que você é bom? - disse o soldado robusto de antes.

- Não seja tolo - respondeu o príncipe - Não é somente em falar com animais que sou bom, mas vejam - disse mostrando a coruja - Não acham que ela irá gostar?

A figura menor tirou seu elmo deixando seus longos cabelos caírem em suas costas, era uma garota escondida no peso de uma armadura e assim como o príncipe, seus olhos pareciam duas esmeraldas.

A Luz e a EscuridãoOnde histórias criam vida. Descubra agora