Capítulo XII

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Boa leitura!




Novembro chegou, trazendo consigo uma umidade gelada. As tardes longas e sonolentas não existiam mais, e o céu ensolarado da Louisiana mudou de azul claro e límpido para um cinza-chumbo. Uma névoa densa e fria cobria Nova Orleans com frequência.

O vento forte varria folhas secas através dos jardins sombrios e dos paralelepípedos da rua. As casas amarelas, verdes e cor de pêssego de French Quarter pareciam ter perdido suas cores alegres no outono cinzento.

A mudança drástica no clima não perturbava o espírito de Jeon Jungkook. O clima de Nova Orleans o agradava sempre. Os dias agradáveis e ensolarados da primavera eram tão perfeitos quanto poderiam ser daquele lado do paraíso. Os dias longos e preguiçosos do verão tinham um efeito calmante, com seu calor escaldante. Quando a brisa fria do outono chegava, Jungkook sentia-se revigorado e otimista.

Em uma noite fria de novembro, ele estava nu, exceto por uma toalha presa à cintura, no banheiro de seu elegante apartamento no edifício Pontalba. Acabara de sair do banho e cantarolava, enquanto se barbeava, sentindo-se bem e ansioso pela noite que teria pela frente. Quando terminou de se barbear, apanhou uma escova e penteou os cabelos com cuidado. Então, depositou a escova sobre a pia de mármore e começou a virar-se para sair do banheiro.

Mas parou.

E sorriu.

Então, apanhou a meia azul, desbotada pelo sol e arruinada pela água do mar, que pendia de uma das flores douradas que emolduravam o espelho. Segurou-a como se fosse muito frágil e pudesse se partir em milhões de pedaços. Seus olhos brilharam quando sua mão deslizou por ela.

Desde aquela tarde de tempestade em agosto, quando retirara a meia do pé delicado do lindo Lord Park, Jeon nunca mais deixara de usá-la. Ficara com a meia na mão pelo resto daquele terrível dia de verão, e fora salvo quando parecia não haver mais esperanças. O que fora um verdadeiro milagre.

Por isso, desde aquele dia, ele passara a considerar a meia como seu amuleto da sorte. Nunca saía de casa sem ela. Às vezes, usava a liga no bolso do paletó, como nessa noite, outras vezes colocava-a no bolso da calça. Cada vez que saía de sua casa, Jeon levava a meia de Jimin consigo.

Quando olhou no espelho e viu o homem de peito nu, segurando a meia de outro homem na mão revivendo lembranças patéticas, Jungkook soltou uma gargalhada, zombando de si mesmo por tamanha tolice.

Então, foi até o quarto para se vestir. Vestiu uma cueca branca, seguida pela camisa branca impecável e a gravata de seda preta. O prendedor da gravata, assim como as abotoaduras, eram de ônix e ouro. Os sapatos de couro preto proporcionavam o acabamento perfeito para a calça preta e justa, de vincos perfeitos, e o paletó do mesmo tecido.

Jeon Jungkook estava pronto para uma noite no The Beaufort.

Estendendo os braços para que parte do punho branco da camisa ficasse à mostra, ele foi para a sala. As portas para a sacada estavam abertas, apesar do anoitecer frio. Jeon serviu-se de uma dose de uísque e saiu para a sacada.

Estreitou os olhos, esquadrinhando a névoa escura. O ar frio beijou sua face recém-barbeada, mas ele se sentiu bem. Na neblina densa, mal pôde avistar a grande estátua de Andrew Jackson montado em seu cavalo, que sua senhoria, a Baronesa Micaela de Pontalba, mandara erguer recentemente no centro da Vieux Carré. A praça recebera um novo nome, Jackson Square, em homenagem ao herói da batalha de Nova Orleans, em mil oitocentos e quinze. Mas, para Jungkook, aquele lugar seria sempre Place D'Armes.

Segredos Perigosos [CONCLUÍDA]Onde histórias criam vida. Descubra agora