Capítulo X

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Boa leitura!



Naquela mesma noite de outubro, quando o relógio de pêndulo da mansão Park anunciou que eram nove horas, Avalina encontrava-se no vestíbulo, segurando a capa de Colfax. Fazia quinze minutos que ela estava ali, perguntando-se por que o patrão demorava tanto. Já começava a se irritar. Primeiro, ele se atrasara no escritório e, agora, demorava a se aprontar para o baile. Colfax não costumava ser assim.

Ele havia planejado ir ao baile de máscaras com Lord Park e Lady Seulgi, mas como chegara em casa muito tarde, insistira para que o casal fosse antes, prometendo encontrá-los no hotel. Acompanhados pelo sempre alerta Big Montro, os dois obedeceram. Agora, mais de uma hora depois, Colfax continuava em seu quarto.

A cada tique-taque do relógio, a irritação de Avalina crescia. Montro havia retornado à casa havia quase quarenta e cinco minutos, e esperava pacientemente na varanda para levar Colfax ao baile. Avalina, finalmente, perdeu a paciência e, resmungando, pendurou a capa no cabide do vestíbulo. De mãos na cintura, foi até o quarto do patrão, parou na porta e gritou bem alto.

— Uma mulher vaidosa já estaria pronta a esta hora! Está atrasado e... — A porta se abriu e Colfax apareceu, vestindo o traje de gala. Estava pálido e abatido, e a irritação de Avalina transformou-se, imediatamente, em preocupação.

— Colfax. — chamou-o pelo nome de batismo, algo que só fazia quando estavam sozinhos. — O que há? Qual é o problema?

— Não há problema algum. — ele disse à leal criada que, além de administrar sua casa, era uma grande amiga. — Acho que, na minha idade, ficamos mais lentos — comentou com um sorriso fraco.

— Você não me parece nada bem. — ela argumentou. — Talvez deva ficar em casa esta noite e ir para a cama mais cedo.

Colfax sacudiu a cabeça.

— Prometi a Jiminie que iria. — lembrou e, tentando parecer natural, perguntou. — Big Montro já voltou?

— Sim. Está à sua espera na varanda.

— Ah, bom. — Avalina, astuta como sempre, percebeu o alívio que iluminou os olhos do patrão. Ele estava com medo de alguma coisa, era evidente. E isso a fez sentir medo também.

Juntos, foram até o vestíbulo, onde pararam para que ela apanhasse a capa e o ajudasse a vesti-la. Ao fazê-lo, Avalina sentiu Colfax estremecer. Deu a volta e postou-se diante dele, fitando-o diretamente nos olhos.

— Algo está errado, Colfax. Você está tremendo. — disse em voz baixa e suave, os olhos turvados de preocupação.

— Apenas uma daquelas vezes em que alguém pula a nossa cova, Avalina. — ele replicou com um sorriso zombeteiro. — Agora, tenha uma boa noite. Já estou atrasado.

— Muito bem, mas tenha cuidado, está ouvindo? — Avalina disse ainda muito preocupada.

— Sim, estou ouvindo, mamãe!

Assim que ele saiu, a perturbada Avalina correu até seu apartamento. Ajoelhou-se diante da cômoda de carvalho, abriu a última gaveta e, de debaixo das roupas de inverno que raramente usava, retirou uma pequena bolsa de veludo.

Levantou-se e atravessou o quintal apressada, voltando em seguida para dentro de casa e dirigindo-se ao quarto de Colfax. De um pequeno compartimento interno da bolsa de veludo retirou um amuleto que ganhara de uma velha rainha vodu, anos antes.

Segredos Perigosos [CONCLUÍDA]Onde histórias criam vida. Descubra agora