Capítulo IX

447 70 32
                                    

Boa leitura!



Em um dia particularmente quente de setembro, um homem alto e moreno encontrava-se no porto de Havana, em Cuba.

Jeon Jungkook esperava pacientemente sua vez de embarcar no navio cargueiro que o levaria a Nova Orleans. Sorria, como sempre, pois sabia quanta sorte possuía por estar vivo. Resgatado do mar por um pequeno barco, no final daquela terrível tarde de agosto, não se queixara ao saber que a embarcação seguia para Havana.

— Está bom para mim — dissera com uma gargalhada, depois de ter passado horas flutuando na água, sob o sol escaldante.

Agora, depois de três semanas de descanso e tédio em Havana, sentia-se forte como nunca, e pronto para voltar para casa.

— Señor. — chamou um dos tripulantes, fazendo um sinal para que ele se adiantasse. Jungkook assentiu e subiu pela prancha de embarcar, assobiando alegremente.


****


Os dias eram típicos do final de verão. O clima em Nova Orleans continuou quente e abafado durante todo o mês de setembro. A névoa que vinha dos braços do rio pareciam escaldar a pele. Juntamente com o calor úmido, havia o zumbido irritante dos mosquitos. Os moradores da cidade construída à beira do rio não se atreviam a dormir sem um mosqueteiro sobre suas camas.

Havia mais mosquitos que de costume naquele verão, mas Colfax garantiu ao sobrinho que isso era bom. Poucos casos de febre amarela haviam sido diagnosticados, graças aos mosquitos. Colfax estava convencido de que as larvas purificavam o pântano, onde a doença se proliferava.

— Acredita mesmo nisso? — Jimin indagou, cético, em uma tarde quando estavam sentados no quintal, à sombra das árvores.

— Claro. Se a febre houvesse se alastrado neste ano, como aconteceu em mil oitocentos e cinquenta e três, eu não teria permitido que você viesse para Nova Orleans. Ou o obrigaria a ficar na fazenda, ou então passar o tempo todo trancado nesta casa. O que você detestaria, com certeza.

— Ah, não. Adoro sair.

Colfax continuou, como se ele não houvesse falado.

— Lembro-me de que, naquele ano, a população de mosquitos era tão esparsa que podíamos dormir sem mosquiteiro. Mas a febre amarela varreu a cidade durante todo o verão, levando a vida de muita gente. Barris de alcatrão, constantemente em chamas, deixavam o céu negro, nossos olhos vermelhos, e nos fazia tossir. Os sinos da catedral tocavam cada vez que uma pobre criatura morria, e aquele som parecia nunca cessar, dia e noite.

— O senhor não corria perigo por ter tido a febre anos antes?

— Exatamente. Fiquei imune, desde o verão de... — Ele sacudiu a cabeça com tristeza e calou-se.

Jimin sabia que o tio estava relembrando o passado, aquele terrível de mil oitocentos e dezesseis, e os acontecimentos tristes que haviam mudado a vida dele para sempre. Colfax era jovem e noivo de uma linda crioula. Os dois estavam perdidamente apaixonados, mas uma epidemia de febre amarela pusera fim aos seus sonhos. Ambos haviam contraído a doença, mas Colfax sobrevivera. Sua amada, não. Vinte e quatro horas antes do casamento, a noiva morrera nos braços dele, e fora enterrada com seu vestido de noiva.

Como se não houvesse feito uma pausa na conversa, Colfax disse.

— Sim, felizmente, fiquei imune. Foi por isso que não fugi para a fazenda, com Avalina, em cinquenta e três. Muitos dos doentes eram meus amigos e precisavam de mim. Fiz o que pude por eles, mas em muitos casos não foi suficiente.

Segredos Perigosos [CONCLUÍDA]Onde histórias criam vida. Descubra agora