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Meu coração batia acelerado, minha mente fazia eu me questionar sobre o plano de Finn. Ele era esperto, polidamente inteligente, mas aquilo... era suicídio. Esfreguei minhas mãos suadas na barra da saia, torcendo pra que ao menos meu nervosismo não denunciasse tudo. Precisávamos ser sorrateiros, rápidos e calmos. Entrar no castelo, ameaçar o rei e tentar não emitir uma mensagem sem querer para Kai. O plano de Finn era parar o aliado, e baseado no modo como o reino estava mal cuidado, o rei não devia ser tão poderoso quanto Kai pensava. Então agora estava eu, recostada contra a muralha que protegia um castelo gótico de invasores, com Jasper em meu encalço. Éramos reforço, então não deveríamos aparecer até o momento certo. Quando era momento? Não sabia dizer.

— Acho que nunca te pedi desculpas. Por tudo.

Jasper mantém uma distância respeitável, os olhos na estrada à nossa frente, os braços cruzados. Meu cabelo está preso em duas tranças que ensinei Damian a fazer, aliviando o calor em minha nuca. Levamos dois dias de caminhada pra chegar até o castelo indicado por Jasper, dormimos e esperamos até o meio dia, quando o rei pareceu ser avistado na aldeia próxima. Finn, Lúcios e Edwin o seguiram enquanto Damian e Austin ficaram na outra extremidade da muralha, com a responsabilidade de dar um sinal caso os príncipes não conseguissem entrar.

— Me desculpe também. Não pude perdoar você na época. Mas agora posso.

Jasper me olha com carinho, de forma que consigo sentir como a raiva que senti se acabou. Ele não é uma má pessoa, seria um bom príncipe... mas nossos caminhos não se encontravam a final de contas.

— E não estava errada... Lúcios nunca mentiria pra você.

Não decido como responder. No fundo sei que é verdade, mas admitir isso em voz alta... machucaria Jasper. Então apenas engoli em seco e encarei o céu fumegante. Muito calor. Meus pés já suavam dentro das botas, e eu estava tentada a tirá-las, mas me contive.

— Botas cor-de-rosa? Onde arranjou essas?

Jasper solta uma gargalhada contida, o que faz minhas bochechas coragem. Explico que Edwin sempre tentava achar peças de roupas da minha cor favorita, talvez de alguma forma tentando suprir a falta do meu quarto inteiramente rosa, ou do castelo onde a cor indicava que o objeto era meu. Jasper tira a máscara. Meu coração se acelera, porque sei que ele não tira por qualquer coisa, sei que o que vai sair de sua boca é algo importante.

— Precisa saber de uma coisa...

Sinto seu corpo se afastar da parede, até que ele esteja totalmente na minha frente, as mãos antes enfiadas debaixo dos braços agora pendendo ao lado do corpo. Seus olhos sobem do chão até os meus, e me fixam no lugar.

— Em uma das vezes em que visitei sua casa... acabei me afastando dos outros por algum motivo. Me perdi na floresta atrás do castelo por algumas horas. Sua mãe me achou sozinho agarrado ao tronco de uma árvore aos prantos. E pra me acalmar... ela contou histórias. Ela me disse sobre como relacionava as cores com seus filhos, como era uma mania antiga que ela usara inclusive consigo mesma. Então ela me explicou sua cor. Ela me explicou o porquê do rosa.

Meu corpo avançou até Jasper instintivamente, tenso, radiante. Eu fui a única que não recebeu explicação da cor antes que minha mãe morresse, sempre mantive essa duvida em meu coração. Um nó se formou em minha garganta, mas o engoli o mais rápido que pude.

— É empatia Kali. É amor, ternura e força . Era a cor dela também. Ela me disse que via em você todos os seus irmãos juntos, via a forma mais forte de uni-los. Depois que você nasceu, eles viraram seus protetores, protetores uns dos outros. Só então se tornaram família.

A frase de minha mãe ainda ecoa em minha mente... " o coração de uma princesa deve ser tão doce quanto mel, mas tão bem guardado quanto seu castelo." A frase implícita já explicava a contradição da minha cor, o que eu deveria ser para alcançá-la. Deveria ser forte no mínimo. Soltei um ar que não sabia estar segurando, então tem mais cerimônias, envolvi o pescoço de Jasper e o puxei para um abraço. Talvez eu estivesse errada, talvez pudéssemos ser amigos afinal de contas. O abraço durou só até que um estalido alto de metal se chocando contra a muralha soasse.

Larguei Jasper e dei com Lúcios. Por algum motivo havia saído do castelo sem nenhum sinal e sem ninguém, trazendo um capacete de metal que agora estava jogado no chão. Raiva brilhou em seu olhar, mas apenas por uma fração de segundo. Me imaginei em seu lugar, chegar em uma parte afastada da cidade para encontrar a pessoa que eu amo agarrada à outra, essa outra sendo o antigo amor da pessoa que amo.

Tentei dar um passo em sua direção para explicar, mas aparentemente ele tinha assuntos mais urgentes em mente. Porque apenas ergueu a mão e disse:

— Edwin e os outros entraram, não precisaram ameaçar o rei. Estão conversando.

Assim que acabou a frase, se virou de costas e começou a andar. Sem saber muito bem o que fazer, levei alguns segundos para perceber que ele só havia ido ate ali para nos chamar. Engoli o nó que se formava em minha garganta devido a sua indiferença, e dei um passo após o outro, apertando as mãos tremulas contra a barriga gelada. Caminhamos por algum tempo, contornando o muro rochoso ate o enorme porto de ferro que guardava o castelo. Lúcios não precisou dizer nada para que as dobradiças rangessem, se abrindo para nos. Os guardas abriram sem delongas, de alguma forma pacificamente apesar de nossas intenções.

Me arrastei portão adentro, ainda cheia de vergonha, a explicação do abraço entalada na minha língua. Atravessamos um jardim extenso, tão morto quanto a floresta, to cinza quanto a população nas cidades. Lucros nos guiou todo i tempo, para dentro do castelo e entre os corredores úmidos, as costas rígidas em tensão. Seguimos atras caldos, ate mesmo quando paramos diante de portas negras duplas que se abriram em um rangido, pouco mais baixo que o do grande portão de ferro. E ao contrario do que esperei, Edwin nos aguardava com um meio sorriso, Finn com uma expressão pacifica. E o rei, com os cabelos longos e castanhos caindo-lhe pelos ombros, os olhos de um verde um tanto dourado se fixando em mim, soltou a garota alta e magra que antes mantinha ao seu lado. A garota correu, envolveu o pescoço de Lucios com os braços, e ronronou como uma felina:

-- Senti saudades gatinho.

A linhagem do fogoOnde histórias criam vida. Descubra agora