Damian foi o primeiro. A cada passo que eu dava em direção ao quintal, podia me lembrar das ordens e instruções de Zander ecoarem em minha mente. "Pés separados para obter firmeza", "encare o oponente sem perder o foco de seu corpo", "você parece uma flor fragil, use isso a seu favor.". Abro e fecho a mão flexionando os dedos, sentindo o fogo em minhas veias formigar os vasos sanguíneos, ansiosos por uma demonstração real de poder. Os concelhos de Arlo também voltam à minha mente, me lembrando do que fazer. "Foque em um ponto", "mantenha a concentração", "não alimente o fogo de energia, mas de certeza, tenha certeza.". Certo. Me viro para meu oponente quando estamos à uma distância segura da casa, de modo que eu não consiga alcançar a madeira inflamável durante a luta.
— A luta só acaba quando um dos dois admitir derrota.
Finn declara ainda receoso, provavelmente disposta a me arrancar dali no meio da luta, porque ele sabe que não admitirei derrota.
— Pronta pra sangrar princesa?— Damian provoca.
Separo os pés e flexiono os joelhos, preparada para um golpe de corpo. Mas ele não vem. Damian estende a mão e suga o ar dos meus pulmões, uma sensação desesperadora que quase me faz perder a sanidade. Quase. É como se afirmar, como ser sufocada por toneladas de água densa e escura, quase me faz perder a concentração. Mas eu já estava preparada. Finjo cair em seu truque, o que arranca um sorriso presunçoso de seus lábios, o que não muito. Enquanto ele se diverte e se delícia em meu sofrimento, não preciso das mãos para conjurar uma chama que nasce em seu ombro. Ele só percebe quando ele se alastra pela roupa, grita de horror quando seu vento não é o suficiente para apagá-la.
Damian perde o controle sobre mim, e me solta, desesperado para acabar com o fogo que agora consome seu corpo. Ele cai no chão de joelhos e rola na terra, o rosto é puro terror. Caminho até ele vagarosamente, ciente das expressões de horror que Austin me lança. Quando seus gritos se torna agonizantes de uma garganta inflamada, me abaixo ao seu lado, e estendo a mão, mesmo que desnecessariamente, fazendo o fogo se reduzir até não ser mais nada.
— Seu vento não pode apagar meu fogo. Nem o gelo de Finn, ou a água de Emory ou até a terra de Jasper. Só eu apago minhas chamas.
Seus olhos se arregalam tanto que parecem estar prestes a saltar das órbitas,mas não permaneço para explicações. Me levanto e caminho até Austin, que agora não parece mais assustado, mas impressionado.
— Minha vez
Ele murmura. Sua certeza quase me faz pensar que ele é uma ameaça, e realmente faria se ele não apresentasse sua técnica logo de cara, certo de que ainda assim me derrotaria. Se Damian usava lufadas de vento ao seu favor, Austin as usava com infinitamente mais precisão. Seus dedos já longos se esticaram, e entre eles surjem lâminas de vento. Não preciso toca-mas para saber o quão afiadas são, apenas seu formato e a nitidez dos ventos deixa claro. Sinto Lúcios estremecer, mas ignoro apenas rondando o inimigo, que faz o mesmo comigo.
— Seu fogo não se apaga princesa? O meu vento não se dissipa.
Não me permito pensar que talvez tenha sido um grande erro irritar dois príncipes geneticamente modificado em um campo de batalha, porque não tenho tempo pra isso. Por pouco meus olhos não acompanham os movimentos de Austin, avançando em zigue-zague em minha direção. Ele lança a mão para frente, por pouco não acertando meu rosto no processo. Firmo novamente os pés no chão e espero o próximo ataque. Ele avança com as pernas, um grande erro. Tenta alcançar meu corpo com um chute alto, e realmente consegue. O que é uma grande pena... pra ele.
O bom de ser ágil, é que você sempre tem uma carta na manga. Na primeira luta, usei ao meu favor o fato dos príncipes me acharem frágil. Tirei a máscara e mostrei que na verdade eu podia muito bem ser poderosa e ágil. Isso deu confiança a Austin, que entrou na luta pensando poder me vencer com força. Mas não pode, porquê apesar de não parecer, eu sou forte sim. Treinava com meus irmãos, que desenvolveram músculos externos, então por que eu não seria tão forte quanto eles? Eu sou. E a parte mais divertida nos duelos, é quando meu oponente descobre isso. Quando o tornozelo de Austin alcançou minhas costelas, eu o segurei com uma só mão. Ele tentou puxar de volta mas não conseguiu, mantive-o preso com apenas um pé no chão. Então o puxei. O príncipe caiu de traseiro no chão, arregalando os olhos quando percebeu a chama imensa que agora crescia em minhas mãos. Desesperado, não tentou se levantar, mas enviou rajadas de vento na direção das chamas, inúteis como eu havia avisado. Lentamente, pisei em suas pernas , fazendo os ossos rangerem, a mão agora estendida para seu rosto.
— Últimas palavras?
A lucidez então voltou a seu corpo, e ele abaixou a cabeça derrotado ao declarar:
— Eu me rendo. Perdi.
Saio de cima de suas pernas e apago a chama em minha mão, já estendendo a outra para ajudá-lo a levantar. Lúcios ri convencido, os olhos brilhando em pura empolgação:
— Viram só? Feras impensantes como vocês não são capazes de derrotar uma deusa como esta.
Sinto o sangue subir às minhas bochechas, mas mantenho a compostura. Passo os dedos pelos cabelos tentando ajeitar minimamente os cachos rebeldes. Austin se curva em uma reverência forçada, e quanto se volta para mim, não vejo nada além de puro divertimento brilhando em seus olhos.
— Realmente princesa, não foi justo eu te imaginar como uma princesa indefesa.
Solto uma risada revirando olhos, tão concentrada na conversa que mal percebo Edwin se aproximar vindo da floresta, os cabelos molhados de suor e as bochechas coradas.
— O que eu perdi?
Sua voz sai ofegante, e mesmo concentrada, não deixo de escutar a frase de Damian direcionada a Finn;
— Um espetáculo. Se ela é assim, imagina só o poder de Kai...

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A linhagem do fogo
FantasyO herdeiro negro foi descoberto, mas isso não pode impedir ou diminuir seu poder sobre o país dourado. Agora Kalishta vai ter que conciliar os assuntos do coração com a luta por poder contra o próprio irmão, enquanto tenta protejer os que ama. Mas s...