Não cuidaram do meu menino, agora, eu vim busca-los. - Sexta Feira 13
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Natasha observou o caixão diante si. Ela imaginou chuva, pessoas de sombrinha, tristes, um dia nublado, o caixão sendo abaixado lentamente enquanto o padre ortodoxo da igreja da cidade rezava. Mas o dia estava com sol. Muito sol, e quente demais para usar roupas pretas. Todos usavam, porém pareciam suar.
Steve segurava sua cintura contra si firmemente, as vezes acariciando suas costas. Ele olhava-a, preocupado. Natasha não chorava. Ao contrário, seu rosto estava sem expressão. Morto. Pelas duas vezes que vira seu sogro pessoalmente, Steve sabia que Ivan Romanoff era um homem triste, sombrio e extremamente frio. Não que ele maltratasse os filhos, mas ignorar a existência deles não era o que Steve considerava como uma boa paternidade.
James estava ao lado da mãe, de terno preto e querendo que aquilo acabasse logo. Ele estava com um pouco de raiva. Por mais que ouvisse Tthomas e Natasha dizerem o quanto aquele homem era frio e distante, ele nunca sequer o conheceu. E queria ter conhecido, para então acha-lo um cuzão e talvez dizer isso na cara dele. Mas, graças as mentiras da mãe, ele sequer sabia como era o homem no caixão.
Sarah estava inquieta encostada nas pernas de Steve, que segurava-a pelo ombro para mantê-la parada pelo menos até o padre terminar de falar aquelas palavras em russo que ele não tinha a menor ideia do que significavam. Crianças lidam com a morte de um jeito interessante. Elas não entendem o que é, propriamente dita, a morte, mas entendem que alguém se foi, e que nunca mais iria voltar. Isso acontecia as vezes, e era uma droga. Mas tudo bem, porque sua mamãe e seu papai ainda estavam ali.
Mas, quando um deles morria, aí era mais complicado. Aí vinha emoções mais incompreensíveis e profundas que as marcarão para sempre. Mas um avô que ela nunca nem viu? Sarah não tinha ideia do que estava acontecendo, só sabia que seus pais a fizeram ficar parada num "cenário de filme" com um vestido preto, quente e pinicante, enquanto um homem de chapéu engraçado embolava a língua segurando um livro.
Já Tthomas, se contentava em olhar feio as outras pessoas ali. Pepper, Tony, Wanda e Morgan vieram, assim como Bucky e Hill. Mas, tirando eles e o padre, haviam membros da prefeitura, que estavam ali por pura formalidade, e alguns cidadãos curiosos. Alguns mais velhos prestavam atenção nas palavras do padre, mas outros ainda tinham a coragem de lançar um olhar julgador a família ruiva e calada de frente para o caixão. Ele não conseguia entender por que raios Natasha deixou eles virem. Tinham até jornalistas ali!
Ele olhou para Natasha, assim como todos os outros que falavam russo. O padre tinha a chamado.
-Senhorita Romanoff? - disse novamente, e Steve cutucou a esposa, que acordou.
- Hm?
- A terra. - disse, e ela pareceu entender. Steve a soltou, e Natasha deu alguns passos a frente equilibrada nos saltos pretos na grama e se abaixou para pegar a terra. Sua mão se esticou e ela observou a terra cair até o caixão de carvalho escuro.
Ela olhou para baixo. O padre voltou a professar palavras em russo, e Natasha fixou os olhos na madeira. Uma grande nuvem cobriu o sol, dando uma trégua e deixando o ambiente mais fúnebre. Natasha sentiu o coração acelerar dentro do peito, as mãos tremerem e os olhos assustados se arregalando.
Uma mão vinda de dentro do caixão apareceu na lateral, e Natasha perdeu o ar. Lentamente ele se abriu, enquanto um vento sobrenatural esvoaçou seus cabelos. O dia foi repentinamente ficando cada vez mais escuro a medida que o caixão se abria.
Uma lágrima despencou dos olhos de Natasha enquanto ela tremia, completamente petrificada pelo pânico e terror. Seu pai olhou para ela, deitado e com a mão podre ainda segurando a tampa. Ele estava com seu melhor terno e muitas jóias, o rosto já apodrecido e um pouco distorcido. Seus olhos estavam completamente brancos, a boca desfigurada. As lágrimas rolavam pelo rosto de Natasha enquanto encarava o pai morto.
- Sinto muito por te trazer aqui. Mas todo esse sangue tem que parar. - ele disse. A voz aveludada perfeitamente igual a que ele se lembrava. - Você tem que descobrir como quebrar a maldição.
Gotas de sangue começaram a cair no caixão, na grama como uma chuva começando.
-Ache o diário.
Um trovão tirou Natasha de transe, e ela se virou, começando a andar para longe e rápido.
-Natasha!
Seu estômago revirava, o desespero rasgava seu coração. Ela se sentia tonta, enjoada, e debruçou sob a fonte da frente antes de colocar toda a comida para fora. Natasha abriu os olhos, tremendo e chorando e de repente, gotas caiam na água.
Gotas de sangue.
Seu corpo foi erguido, e Steve segurou seu rosto, preocupado enquanto dizia algo que ela não entendeu. Um grito ecoou ao longe, seguido de outro. As pessoas ao redor do caixão corriam, a maioria na direção dos vários carros estacionados ao redor do chafariz. Os fotógrafos tiravam foto.
Natasha empurrou de leve as mãos de Steve, dando alguns passos e olhou para as mãos. Tinham manchas de sangue. Ela olhou para Steve, que agora tinha os olhos presos no céu. Ao redor deles, pessoas gritavam e corriam para os carros. Uma gota caiu no rosto de Steve, e ele a limpou com o dedo, chocado demais para dizer algo.
Estava chovendo sangue.
Natasha só viu seus olhos azuis antes de seu corpo cair e tudo ficou preto.
Feliz Sexta-Feira 13!
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The Roмaиoff Curse - Romanogers
RomanceUma grande mansão de uma pequena cidade da Georgia, há um século fora refúgio da família Romanoff. Ela foi palco dos piores pesadelos de Natasha, que desde criança foi atormentada por fantasmas. Figuras arrepiantes arrastando correntes, tentando mac...