CAPÍTULO 4

239 47 9
                                        

20 de novembro de 2055

- Você ouviu? - Beatriz falou enquanto eu comia brigadeiro de panela e via uma série de 2020. Era muito interessante, apesar da qualidade não ser tão boa.

-O que? - Perguntei atenta parcialmente ao que ela dizia.

- Eu disse que aquele negócio de EXPENSER não sei o que era uma furada...

O assunto me chamou atenção.

-Como assim?

-O cara foi preso. - Ela falou ficando parada bem na minha frente - Eu tenho um sensor de longe que apita assim: ROUBADA! O laboratório internacional que conduziu a investigação. O cara tem um processo gigantesco nas costas.

Pisquei.

-Por que ele foi preso? - Perguntei empurrando ela com os pés.

- Não sei... - Ela falou pegando um pouco do meu brigadeiro com o dedo - Boa coisa não é - E levou a boca. Depois voltou com o dedo novamente.

-Para de ser nojenta! - Briguei. - Pega uma colher se você quer mais!

-Para de ser chata! Meu dedo ta limpinho, olha!

-Não! Vai atrás de uma colher! Aposto que agora tá cheio de bactérias e vírus...

-Ai que chata! Eu detetizei ele besta! - Beatriz era minha irmã mais velha, mas agia como se fosse mais nova. Ela tinha 21 anos. E eu ainda tinha 16 anos e estava no último ano de ensino complementar.

Ela voltou com uma colher enorme e um sorriso saliente. Que birrenta!

Meu Dispo vibrou e eu olhei . Meu coração disparou quando vi a mensagem de George.

'' Estou do lado de fora , vem''

Dei um pulo no sofá e entreguei a panela para Beatriz que me olhou confusa. Corri para a porta e abri sem demora. George estava ali, encostado na coluna do terraço externo.

Seus cabelos pretos ondulados e curtos estavam um pouco despenteado. Ele me olhou com seus olhos castanhos claros e então levou ambas as mãos ao bolso. Suspirei sorrindo.

-Por que está aqui, cara!? - Ri.

-Não gostou da minha visita surpresa? Tudo bem, vou embora.- Ele já ia virar de costas, mas eu segurei sua camisa.

-Não disse isso! Devia ter me avisado antes para eu ter me arrumar melhor.

A gente se olhou por alguns segundos. E rimos.

-Até parece ,eu já te vi até pior.

-Oh nossa. Muito obrigada!

Sentamos na escada. Ele parecia um pouco tenso.

-As coisas estão difíceis na sua casa? - Perguntei. - É o seu novo padrasto?

- Nossa! - Ele me olhou - Você me conhece muito bem... Chega a ser assustador. Sim , é ele. Ele e minha mãe começaram a namorar a um tempo, mas tem sido chato...

Nós ficamos em silêncio por um tempo. A noite estava fria e silenciosa. Dava para perceber só de olhar para ele que ele estava em um conflito interno. - Não me sinto mais tão bem vindo naquela casa, sabe? - Disse olhando o chão. - Parece que estou perdendo meu lugar no mundo...

Podia vê-lo gostando de outra garota. Era dolorido, mas nada doía mais do que vê-lo triste.

-Ei! - Me levantei e fiquei em frente a ele - Você tem a mim! - Disse sorrindo e abrindo os braços.

-Você é uma amiga em tanto, viu?- Sorriu.

-Eu sou mesmo!

-Nossa, nada humilde! - Ele me empurrou de leve.

-Sou confiante! é diferente! - ri.

Lembro de quando o pai dele morreu. Foi no nosso primeiro ano do ensino complementar. O homem dormiu e simplesmente não acordou. Ele não teve sonambulismo, mas algumas vezes chorava. Então o hospital veio buscar ele. Lembro de ver George tão aflito em busca de notícias. Chorava por ele. De alguma forma o garoto se continha em chorar. Eu não conseguia . Parecia doer tanto dentro dele que as lágrimas saíam de mim. E então um determinado dia ele me ligou em desespero dizendo que seu pai havia morrido.

Nunca corri tanto em minha vida.

E pela primeira vez seu abraço apertado não foi para me fazer pedir misericórdia. Ele estava desolado, aflito. Machucado, destruído por dentro e muito cansado por fora. Foram 5 meses de sofrimento até que enfim ele morreu.

- Eu andei pesquisando algumas coisas a respeito o EXPENSER 989 e sobre a IBSS. - Ele falou quebrando o silêncio.

- Que? Eu também! - Disse surpresa. Ele sorriu.

- E encontrei algumas coisas estranhas.

- O que?

- Alguns relatos...- Percebi que aquilo o estava deixando preocupado. Inclinei o rosto.

-Acho que estão mentindo para a gente? - Disse por fim.

Suspeito gente. Muito suspeito.

DO OUTRO LADOOnde histórias criam vida. Descubra agora