20 de novembro de 2055
- Você ouviu? - Beatriz falou enquanto eu comia brigadeiro de panela e via uma série de 2020. Era muito interessante, apesar da qualidade não ser tão boa.
-O que? - Perguntei atenta parcialmente ao que ela dizia.
- Eu disse que aquele negócio de EXPENSER não sei o que era uma furada...
O assunto me chamou atenção.
-Como assim?
-O cara foi preso. - Ela falou ficando parada bem na minha frente - Eu tenho um sensor de longe que apita assim: ROUBADA! O laboratório internacional que conduziu a investigação. O cara tem um processo gigantesco nas costas.
Pisquei.
-Por que ele foi preso? - Perguntei empurrando ela com os pés.
- Não sei... - Ela falou pegando um pouco do meu brigadeiro com o dedo - Boa coisa não é - E levou a boca. Depois voltou com o dedo novamente.
-Para de ser nojenta! - Briguei. - Pega uma colher se você quer mais!
-Para de ser chata! Meu dedo ta limpinho, olha!
-Não! Vai atrás de uma colher! Aposto que agora tá cheio de bactérias e vírus...
-Ai que chata! Eu detetizei ele besta! - Beatriz era minha irmã mais velha, mas agia como se fosse mais nova. Ela tinha 21 anos. E eu ainda tinha 16 anos e estava no último ano de ensino complementar.
Ela voltou com uma colher enorme e um sorriso saliente. Que birrenta!
Meu Dispo vibrou e eu olhei . Meu coração disparou quando vi a mensagem de George.
'' Estou do lado de fora , vem''
Dei um pulo no sofá e entreguei a panela para Beatriz que me olhou confusa. Corri para a porta e abri sem demora. George estava ali, encostado na coluna do terraço externo.
Seus cabelos pretos ondulados e curtos estavam um pouco despenteado. Ele me olhou com seus olhos castanhos claros e então levou ambas as mãos ao bolso. Suspirei sorrindo.
-Por que está aqui, cara!? - Ri.
-Não gostou da minha visita surpresa? Tudo bem, vou embora.- Ele já ia virar de costas, mas eu segurei sua camisa.
-Não disse isso! Devia ter me avisado antes para eu ter me arrumar melhor.
A gente se olhou por alguns segundos. E rimos.
-Até parece ,eu já te vi até pior.
-Oh nossa. Muito obrigada!
Sentamos na escada. Ele parecia um pouco tenso.
-As coisas estão difíceis na sua casa? - Perguntei. - É o seu novo padrasto?
- Nossa! - Ele me olhou - Você me conhece muito bem... Chega a ser assustador. Sim , é ele. Ele e minha mãe começaram a namorar a um tempo, mas tem sido chato...
Nós ficamos em silêncio por um tempo. A noite estava fria e silenciosa. Dava para perceber só de olhar para ele que ele estava em um conflito interno. - Não me sinto mais tão bem vindo naquela casa, sabe? - Disse olhando o chão. - Parece que estou perdendo meu lugar no mundo...
Podia vê-lo gostando de outra garota. Era dolorido, mas nada doía mais do que vê-lo triste.
-Ei! - Me levantei e fiquei em frente a ele - Você tem a mim! - Disse sorrindo e abrindo os braços.
-Você é uma amiga em tanto, viu?- Sorriu.
-Eu sou mesmo!
-Nossa, nada humilde! - Ele me empurrou de leve.
-Sou confiante! é diferente! - ri.
Lembro de quando o pai dele morreu. Foi no nosso primeiro ano do ensino complementar. O homem dormiu e simplesmente não acordou. Ele não teve sonambulismo, mas algumas vezes chorava. Então o hospital veio buscar ele. Lembro de ver George tão aflito em busca de notícias. Chorava por ele. De alguma forma o garoto se continha em chorar. Eu não conseguia . Parecia doer tanto dentro dele que as lágrimas saíam de mim. E então um determinado dia ele me ligou em desespero dizendo que seu pai havia morrido.
Nunca corri tanto em minha vida.
E pela primeira vez seu abraço apertado não foi para me fazer pedir misericórdia. Ele estava desolado, aflito. Machucado, destruído por dentro e muito cansado por fora. Foram 5 meses de sofrimento até que enfim ele morreu.
- Eu andei pesquisando algumas coisas a respeito o EXPENSER 989 e sobre a IBSS. - Ele falou quebrando o silêncio.
- Que? Eu também! - Disse surpresa. Ele sorriu.
- E encontrei algumas coisas estranhas.
- O que?
- Alguns relatos...- Percebi que aquilo o estava deixando preocupado. Inclinei o rosto.
-Acho que estão mentindo para a gente? - Disse por fim.
Suspeito gente. Muito suspeito.

VOCÊ ESTÁ LENDO
DO OUTRO LADO
Science Fiction**CONCLUÍDA** **PLÁGIO É CRIME** O maior medo de Yohana é dormir e não mais acordar. Depois do surgimento de uma doença misteriosa e avassaladora, o mundo nunca mais foi o mesmo. Os casos, mesmo esporádicos, não cessaram fazendo com que as pessoas d...