Pisquei me sentindo um pouco ansiosa.
-Como assim?- Perguntei.
-Lembra quando meu pai estava doente? E eu dizia que algumas vezes tinha sonhos com ele?
-Lembro. Eu cheguei até a sonhar também . Acho que alguém falava-me sobre ele...- disse - Mas não lembro. - Eu não queria falar sobre isso com ele, apenas disse que sonhei com o pai dele, mas sei que foi assustador.
-Eu também não lembrava direito. Mas hoje mamãe falou que sonhou com ele também quando ele estava doente. E quando ela contou foi tão familiar. Era como se eu tivesse visto também... Ela disse que ele estava preso.
-Preso? - Parei para pensar.
- Ai pesquisei sobre o EXPENSER . Quando as primeiras máquinas foram feitas eu salvei muitas coisas a respeito. Agora o cara foi preso, sabe? Mas eu vi que é uma máquina que meio que une as mentes das pessoas.
-Como assim? - Era a terceira vez que perguntava isso só hoje.
-Meio que faz com que você entre na mente da pessoa e ajuda ela... Do outro lado.
Meu coração apertou. Tive a sensação de já ter escutado aquilo antes. Que sensação estranha...
- Não sei explicar. Mas parece que algumas pessoas relataram piora no seus casos depois de uma melhora considerativa.
Pisquei surpresa.
-Será que há alguma conexão entre os sonhos e a doença? - Perguntei por perguntar. Então George me olhou com os olhos arregalados.
-Tu também acha isso? - Ele segurou meu ombro. - De alguma forma tenho a impressão que tem algo haver. - Ele bagunçou o próprio cabelo e respirou fundo me olhando. Sorri. Seus fios estavam mais bagunçados do que já estavam.
Impulsivamente toquei em seus cabelos e os organizei. Era tão macio. O olhei e ele desviou o olhar. Me senti um pouco envergonhada e me afastei.
- Enfim, acho que estão mentindo sobre o que está acontecendo. Acho que talvez seja pior do que parece ser. Viu aquele homem que parecia está tendo alucinações? Ele parecia apavorado. E fora de si.
-Sim.
-Quando me ligaram e disseram que papai havia morrido eu duvidei, sabe? Mas de alguma forma eu esperava isso...Mas eu podia senti-lo sabe? - Ele voltou a respirar fundo - Tem muito mais coisas que a gente não sabe, mas que estão bem na frente dos nosso olhos...- Ele se levantou. Olhou o nada por alguns segundos- Vou indo.... Valeu por me ouvir - sorriu.
Me levantei também. Sorri com carinho. Senti vontade de abraçá-lo. Mordi o lábio para conter a vontade de lhe dizer como eu me sinto a seu respeito. Ele acenou mais uma vez e virou as costas para mim. Sorri.
Assim que abri a porta minha irmã me olhava. Tremi.
-Que susto!- Briguei levando a mão ao peito.
-Então você gosta do George Saadi? - Beatriz tinha um sorriso no rosto.
-Do George!? - Meu pai perguntou me olhando surpreso. Ele assistia o noticiário.
-Não, não gosto! - Levei a mão ao rosto.- Não! - Disse indo correndo para meu quarto com vergonha e me sentindo quente. Meu coração batia forte toda vez em que pensava nele. Me joguei na cama e bati os pés contra a cama. Só de pensar que eles descobriram que eu gosto dele...
Meus pais demoraram a conhecer George. A gente sempre se encontrava na rua para brincar. As vezes eu abria a porta e lá estava ele me esperando pra jogarmos bola. Lembro quando levei ele até a nossa futura escola durante a noite. Foi uma ideia infeliz de criança, mas meus pais nunca souberam. Queria mostrar a ele a escola que estudaria quando entrasse no ensino complementar. No final ele acabou indo estudar lá também.
Na segunda feira voltei a encontrar George no caminho. Sorri ao vê-lo e corri em sua direção. Ele parecia bem cansado.
- Nossa! sua cara está horrível.
Ele sorriu.
- Bom dia para você também. -Ele respondeu.
- Estamos nos encontrando bastante, né? - Falei e ele encolheu os ombros - Logo de manhã tenho que olhar para essa sua cara de sono... - Apertei o nariz dele e ele gemeu - Acoooorda! ta passano para mim esse sono todinho!
-Aaaa solta! - Ele segurou minha mão - Agora que me acordou vou te fazer pedir misericórdia!
-Nunca! - Fechei os olhos esperando o peteleco, mas ele nada fez, então só me afastei.Ele veio atrás de mim. Eu me sentia muito feliz quando podia estar com ele. Naquele dia eu estava cansada. E a aula de física foi absurdamente massante. Meus olhos estavam fechando sozinhos...
O sinal tocou e eu despertei. A sala estava vazia. Não acredito que dormir! Sai rapidamente a procura dele e encontrei o George em um banco no pátio da escola. Não acredito que ele nem sequer me acordou. Eu deveria está parecendo bem cansada. Me sentei ao seu lado e ele continuou em silêncio.
-Sonhei algo engraçado. - Disse e ele me olhou atento. O pátio da escola estava cheio. - Sonhei que estávamos brincando de esconde esconde - Sorri - Só que eu fui muito longe.
-Como você sempre fazia...- Ele riu olhando para frente.
- Então você me achou e me trouxe de volta. - Continuei.
Ele colocou os braços para trás para se apoiar melhor e inclinou a cabeça para trás me olhando por alguns segundos. Estranhei a cor dos seus olhos. Hoje estava um castanho escuro...
-Como sempre também. É que você é bem previsível. sabe?
Me levantei e ele me olhou. Não gosto de ser previsível. Isso me fazia parecer tão...Sem graça...
-Vou para a sala.
-Mas já? - Ele perguntou.
-Sim, Já! - Falei um pouco irritada. Não sei por que continuava nutrindo essa paixão idiota. Não fazia o menor sentido querer ficar com alguém que nem sequer te olha como uma garota. Suspirei entrando na sala e me sentei na cadeira. E encostei a cabeça na mesa para fingir dormir. Não queria que ele viesse me perguntar o que tinha acontecido. Não naquele momento. Não estava com cabeça para responder a essa pergunta...
-Ei!- George me cutucou. Levantei a cabeça bruscamente. Piscando surpresa. -Caramba você dorme demais! - Ele brigou - Basta encostar que dorme...
Olhei em volta. O sinal do intervalo tocou e estremeci. O professor de física estava mostrando um exercício na tela enquanto olhava o dispo distraído.
-Estou morrendo de fome. Vamos comer?
Pisquei confusa.

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DO OUTRO LADO
Ciencia Ficción**CONCLUÍDA** **PLÁGIO É CRIME** O maior medo de Yohana é dormir e não mais acordar. Depois do surgimento de uma doença misteriosa e avassaladora, o mundo nunca mais foi o mesmo. Os casos, mesmo esporádicos, não cessaram fazendo com que as pessoas d...