Capítulo 17

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Pensei sobre isso. Cada vez menos tinha esperança de que poderia voltar para casa e isso me deixava tão aflita. Olhei para Thomas. Ele era uma pessoa forte. Mas no fundo dos seus olhos castanhos claros eu podia ver um pouco de sofrimento. Porém ele sempre mascarava com um sorriso. O que ele fazia quando estava sozinho neste lugar?

Nós continuamos a andar.

- Isso são como memórias, então....- Ester falou enquanto analisava a situação. - Eu estou presa em meus pensamentos? - Ela revirou os olhos - Parece até coisa de filme de ficção científica- Disse por fim. - Vocês estão a quanto tempo aqui?

- Não sei. - Nós dois respondemos em uníssono.

- Ele já é um cara experiente aqui - Disse. Ester o olhou. - Por falar nisso, quantos anos você tem?

- Não lembro...- Ester falou batendo contra a própria cabeça e chorando.

- Não adianta fazer isto. - Thomas falou a olhando sério. - Mas se te deixar mais tranquila, pareces ter uns 25 anos. - Disse.

Ester parou de chorar e apenas fungava enquanto nos seguia. Durante todo o tempo eu me sentia como se quisesse lembrar de algo.

- Eu lembrei de George por que você fez algo que ele fez em um momento muito... - Levei a mão a testa. Depois cocei a cabeça bagunçando meus cabelos o bagunçando. Thomas me encarava. - Faça novamente. - Disse.

- O que? - Ele levantou as sobrancelhas.

-O abraço... Faça de novo, talvez eu lembre de algo mais.

Thomas se aproximou e tampou meus olhos encostando minha cabeça em seu peito. Pisquei um pouco surpresa. Seu coração batia forte. Comecei a me senti um pouco nervosa e desconfortável.

-TA... - Disse me afastando - Não funcionou...- Falei levando a mão ao peito me sentindo um pouco constrangida.

-Por que você fica com a mão amarrada? - Ester perguntou e então olhou para Thomas - Por que você segura está bola?

Eu me via nessa mulher, fazendo perguntas como essas.

Ouvimos o barulho de pessoas conversando. Agora estávamos no centro de alguma cidade bem grande. Olhei os cartazes no topo dos prédios. Não dava para lê-los. Compreensível. São poucas as pessoas que prestam atenção em tudo. Olhei então um letreiro enorme e brilhante. Nele dizia.

'' HOSPITAL PSICOTERAPÊUTICO''

Apontei para o hospital e Thomas deu de ombros. Foi para lá que seguimos.

- Que cidade é essa? - Ester continuava fazendo perguntas sem parar, mas já havíamos dito que não sabíamos de quase nada. Pelo visto o dono daquela memória frequentava aquele hospital. Havia muito detalhes.

- Nossa - Olhava quantas pessoas andavam pelos corredores. - Ele memorizou até mesmo o nome dos pacientes nas portas do quarto. Mas quando eu olhava pelo espelho da porta não via nada. Olhei uma das placas.

''Estudo de IBSS''

IBSS? Esta palavra me chamou atenção. Fiquei um tempo pensando sobre essa sigla. Então me afastei um pouco de Thomas e utilizei a caneta de um balcão para escrever em meu braço. ''IBSS''.

- Quem será o dono dessa memória? - Ester perguntou andando juntamente comigo. Eu estava muito atenta a todos os detalhes em minha volta. O lugar era grande e um pouco barulhento para um hospital.

- É um hospital bastante interessante e tecnológico.- Thomas falou analisando as coisas. Olhou para uma das placas que haviam nos quartos - Essa pessoa é bem observadora- Disse indo em frente . Observei o que ele olhava. Tudo que eu observava tinha nos hospitais que já frequentei.

O hospital parecia um labirinto. Entrei em um lugar permitido somente para funcionários. Parece que a memória deve pertencer a alguém que trabalha naquele lugar. Olhei para a tela de um computador naquela sala repleta de câmeras. Cruzei os braços. Talvez fosse algum segurança. Olhei as câmeras. Foi então que ouvi um barulho de vozes vindo em direção a sala. Pensei em me esconder, mas lembrei que estava somente em uma memória. Me senti nervosa ainda assim.

Thomas não estava ali, nem mesmo Ester.

- - '' Como podem fazer isso bem debaixo dos nossos olhos?!'' - Eram dois médicos e eles entraram na sala, ambos vestiam jalecos brancos. Pisquei. Se aquilo se tratava de uma memória, um deles era o dono da memória, certo?

- '' São ordens!'' - Um deles falou cheio de raiva - '' Não faça nenhuma besteira que se arrependerá, Oliver.'' - Seu tom soou ameaçador.

- '' Não irei continuar com isso cara, é demais! '' - O médico levou a mão a boca - '' Quem tá metido nisso?!''

- '' Gente poderosa, muito poderosa''

- '' Meu Deus'' - Ele massageou a têmpora mostrando cansaço. - '' Todo meu trabalho em vão.''

- '' Faça como eu digo e continue trabalhando''

- ''Não. Isso vai totalmente contra meus princípios...''

- '' Você recebe um aumento no salário para isso, Oliver''

- '' Mas não era o que tinha no contrato! Ninguém me falou sobre matar pessoas!''- Ele gritou e o outro deu um soco em seu rosto. Estremeci desviando do homem caindo. Me encostei na mesa sentindo meu coração bater muito forte. De quem essa memória? Minhas respiração ficava ofegante.

- '' Escuta o que eu to falando e coopere e será muito bem recompensado, Oliver''

- '' Eu to fora dessa merda!'' - Oliver gritou tirando o jaleco .- '' Não estudei anos para isso... - Disse indo em direção a porta - ''Não quero ter esse peso em minha consciência ''- falou dando as costas.

Gritei quando vi o outro avançando no homem com uma seringa e enfiando no pescoço do Oliver. Levei ambas as mãos a boca. Oliver gritou e o outro o arrastou. Oliver começou a babar e a gemer como se sentisse sufocado. Ele estava ficando vermelho.

- ''Eu te disse Oliver que você precisava cooperar.''

- ''Maldito...Por que?'' - Oliver esticou a mão para tentar agarrar seu assassino, mas não tinha mais força para tal. Tremia. Essa memória então pertencia a esse homem? Olhei no jaleco dele. Dr. Augusto.

Oliver agonizou por mais algum tempo até que finalmente parou de respirar.

- ''A culpa é toda sua, Oliver'' - Augusto empurrou o homem com o pé para certificar-se que ele não mais se mexia. Oliver morreu com os olhos abertos e bem vermelhos, baba saindo pela sua boca aberta. Como esse homem pode matar alguém tão friamente desta forma?

De repente ouvi um barulho bem alto. Tremi. Augusto no entanto continuou o que estava fazendo. Ele foi em direção a tela e apertou um botão no teclado.

- ''Venham buscar um corpo na sala 27, vigilância norte. IBSS desenfreado.''

Ouvi um barulho do outro lado, mas não consegui desvendar sua fala.

IBSS de novo. Oliver saiu da sala e eu continuei ali olhando para aquele corpo. Foi então que ouvi um barulho vindo atrás de mim. Me virei e arregalei os olhos.Era uma criança. Ele tremia enquanto olhava o homem no chão. Seus olhos estavam tão arregalados. O menino conseguiu se enfiar atrás da lixeira entre a máquina de copiar e a parede. Ele era tão pequeno.

DO OUTRO LADOOnde histórias criam vida. Descubra agora