-Você veio... - Foi a primeira coisa que ele falou . Parecia bem surpreso e assustado, como se eu tivesse visto algo que não devia. E então veio em minha direção e eu me afastei.
-Vim e já estou indo...- Dei meia volta me sentindo um pouco cansada e perdida. Meu estomago estava embrulhado e um gosto amargo rondava minha boca.
- Ei! Por que?! Vamos ficar um pouco. - Ele segurou meu braço e eu puxei com força. George me olhou surpreso.
-Para que?! - Perguntei ofendida.
-Por que veio então se não quer ficar? - Ele perguntou irritado.
Não respondi e continuei andando. Ele voltou a me seguir e segurou meu cotovelo.
-Qual o seu problema?! Por que está tão zangada?! - Ele parecia confuso e um pouco perdido. O olhei nos olhos.
Mordi o lábio e respirei fundo. A única que sentia muito ali era eu. Percebi que eu tinha medo de perder sua amizade caso lhe falasse, mas também era fato que estava perdendo sua amizade aos poucos guardando aquele sentimento para mim. Não era justo comigo. Decidi que era a hora de falar.
- Você... Você é afim de mim? - Ele perguntou e isso me surpreendeu tanto que o olhei tensa e boquiaberta. - Nossa. É isso?! - Agora ele parecia surpreso. Me senti um pouco ofendida e humilhada. Mas não consegui dizer absolutamente nada. - Hana... - Às vezes ele me chamava assim, quando se sentia triste por mim principalmente. Ou quando queria me pedir algo. Nós somos amigos. Eu sabia. Deveria saber também que isso nunca iria mudar.
- Não se preocupe. - Falei observando-o pensar a respeito. A notícia não pareceu o deixar feliz, muito pelo contrário. Ele estava preocupado.
- É isso?! - Ele perguntou e eu fiquei em silêncio - Qual é, Yohana a gente sempre fala de tudo, somos amigos. Me conta...
Já que havíamos chegado nisso.
- Sim. - Falei e vi seu olhar surpreso. - É tão surpreendente assim? - Perguntei me sentindo envergonhada. Abaixei o olhar. Ficamos em um silêncio estranho por alguns segundos. - Vou para casa... - Disse.
- Hana...Eu preciso de um tempo pra...
- Não. - Falei me aproximando - Eu te conheço o suficiente para saber que você está sentindo muita pena de mim neste momento. - Ele me olhou como se não soubesse o que dizer. - George, você não precisa se forçar a isso... - Disse por fim, por mais que minhas próprias palavras doeram em mim. Meu peito estava apertado como se eu estivesse com um peso enorme sobre ele. Apenas queria sumir...- Quer dizer, amigos acabam passando por isso o tempo todo, mas depois passa... Sabe? - Sorri.- É apenas algo passageiro...
- É mesmo? - Ele coçou a nuca. Então sorriu. - Me sinto um pouco mais aliviado agora...- Ele suspirou.
Sorri e Cruzei os braços.
-Esqueça isso. Você sabe como eu sou. Mudo de ideia o tempo todo - ri. Mas a verdade era que fazia anos que gostava dele e nada havia mudado. Eu só não queria parecer mais ridícula do que já estava parecendo. - Vou para casa...
-Não quer mesmo ficar? Tem doces lá.
-Tentador - rir- Mas vou mesmo. Tem uma série coreana me esperando.
Andei até perder ele de vista. Meu coração batia tão forte contra a parede do meu peito. Assim que virei a esquina corri tanto em direção a minha casa. Tropecei no caminho e cai de joelhos no chão ralando um pouco a minha mão.
-Ai! Mais que merda!- Gritei me sentando no chão. Assim que os ânimos se acalmaram respirei fundo me sentindo frustrada. Mas no fundo eu já sabia disso. No fundo era algo que eu já esperava.
-Tu está bem?! - Uma pessoa que andava na rua perguntou.
- Sim. - disse me levantando e passando a mão nos joelhos para limpar a sujeita. Olhei minhas mãos e vi que tinha ralado um pouco. Ardia. Sem querer lágrimas começaram a brotar em meus olhos. Estava doendo.
- Você se machucou? - A pessoa voltou a perguntar. Seu tom era preocupado e um pouco familiar.
-Eu estou bem! - Disse soluçando. Abri meus olhos e observei o rapaz de cabelos castanhos claros olhando-me. Ele me lembrava alguém. Enxuguei as lágrimas . - Obrigada por se preocupar - Disse abraçando a mim mesma e fungando enquanto andava. Senti seu olhar sobre mim enquanto me afastava, até um vento frio atravessar meu corpo como uma cortina gélida que me fez despertar do meu transe. Eu apenas queria sumir! Sumir! Corri até minha casa e abri a porta. Ainda bem que não havia ninguém em casa. Assim eu poderia ficar um tempo sozinha.
Abri a porta de casa e liguei a televisão. Me deitei no sofá e chorei enquanto assistia a série. Acordei com Beatriz chegando em casa. Ela me acordou e eu fui andando para a cama meio tonta, meio confusa. Meio sonolenta.
Não pensava em absolutamente nada. Apenas no estranho sonho que tive, mas que não me lembrava...
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DO OUTRO LADO
Science Fiction**CONCLUÍDA** **PLÁGIO É CRIME** O maior medo de Yohana é dormir e não mais acordar. Depois do surgimento de uma doença misteriosa e avassaladora, o mundo nunca mais foi o mesmo. Os casos, mesmo esporádicos, não cessaram fazendo com que as pessoas d...