Meu coração batia forte quando voltei para a avenida movimentada. Esperava encontrar ele antes daqueles homens. Mas não importa para onde eu andava. Thomas parecia ter desaparecido. Olhei que os homens vinham em minha direção. Era fácil localizá-los já que eles usavam uma espécie de capacete estranho.
Deduzi que eu deveria passar por eles como se fizesse parte daquela memória. Então abaixei a cabeça e continuei andando seguindo o que a multidão fazia.
-Ei! - Ouvi um dos homens falarem e levantei a cabeça. Eles me olhavam e formavam uma espécie de barreira para capturar-me. Droga. Visivelmente eles podiam diferenciar o que era apenas parte de uma memória e o que era uma consciência ambulante. Mordi o lábio inferior e dei meia volta indo para o meio da rua entre os carros, eles estavam engarrafados e buzinavam em um conjunto desorganizado de sons atordoantes. Levei a mão a cabeça me sentindo tonta e cansada. Os homens me seguiam enquanto eu corria deles.
Onde será que Thomas estava? Passei em frente a algumas lojas e entrei na primeira que vi alguém sair dela. Tinha receio de gastar tempo tentando entrar em estabelecimentos que tinham suas portas fechada. Já que a memória se limitava até onde a pessoa se lembrava de ter ido. Um sino tocou assim que abri a porta. Diferente da avenida barulhenta, ali era calmo e confortável. O ambiente era bem chique e iluminado. Era um café bem movimentado pelo visto. As mesas e as cadeiras em metálicas e altas. Me abaixei próximo à janela esperando que os homens passassem ali sem me ver.
Eles passaram olhando para todos os lados. Desejei que eles não pudessem ver através das memórias também, então me afastei da parede e me aproximei dos interiores do café.
Ouvi o barulho de algumas coisas quebrarem nos interiores da loja e uma voz abafada.
-Thomas... - Sussurrei correndo. Esbarrei em uma cadeira e esta caiu no chão fazendo um barulho alto. Minha nossa, por que eu tinha que ser tão desastrada! Entrei na cozinha daquele café.
-Escute menino...- A voz do homem estava um pouco abafada pelo som atordoante daquele liquidificador batendo alguma espécie de vitamina verde.Tinha cheiro de abacate. - Você tem que cooperar conosco. - Disse. Vi Thomas acuado em uma parede. Ele sangrava no canto da boca e no nariz. Parecia machucado no abdômen pois se arrastava contra a parede na tentativa de se afastar. -Tudo isso aqui é bem real, mas precisa acabar. Thomas...Você precisa nos levar até a central.
Thomas olhava fixamente para aquele homem. O olhava como se pedisse por misericórdia, mas ao mesmo tempo estava zangado e confuso.
- Eu já disse que não sei do que você está falando! - Ele gritou.
Olhei em volta em busca de qualquer coisa que pudesse ajudar. Olhei então um garfo em cima da mesa. Nunca havia machucado alguém antes em minha vida. Mas ele estava prestes a machucar o Thomas... Peguei o garfo limpo e brilhante e olhei para o homem. Ele vestia uma espécie de macacão aparentemente bem firme. Ele apontou a arma para o Thomas.
-Ei. - Falei. O homem se virou rapidamente. Com toda a força que eu tinha o ataquei com o garfo em seu pescoço. Meus dedos se cortaram no ato. O homem gritou levando a mão ao pescoço . Gritei afastando minha mão cortada e dolorida. O garfo ficou cravado nele enquanto ele caiu sentado no chão. Sangue espirrava de seu pescoço e escorria entre seus dedos. Eu acertei a sua...
Minha mão e perna tremiam. Eu o olhava fixamente. Voltei meu olhar para Thomas, ele me olhava assustado. Eu olhava fixamente para o homem agonizar enquanto sangue saia do seu pescoço. Aquilo era tão real. De repente Thomas segurou minha mão e me puxou para longe daquele lugar. Saímos pela porta dos fundos em uma rua menos movimentada.
Apesar de estar mais confortável eu não conseguia parar de pensar no que havia acabado de acontecer. Na quantidade de sangue que saia do pescoço daquele homem. Também não parava de olhar para meu ferimento aberto em minha mão.
Saímos daquela memória e agora nos viamos em uma praia. Pela primeira vez eu senti o vento forte. Fechei os olhos por causa da areia. Thomas ainda continuava segurando minha mão machucada.
-Thomas... - Reclamei e ele parou sem olhar-me nos olhos.- Dói. - Disse.
- Eu perdi a bola...- Ele sussurrou melancólico. Depois olhou-me.- Obrigada... - Ele olhava fixamente para o chão.
Fui em sua direção e Toquei seu nariz. Ele fechou os olhos.O abracei. Thomas hesitou em retribuir, mas o fez.
-Thomas, 15 anos, Objetivo: Sair deste inferno.- Falei sorrindo. Ele me olhou e acariciou minha cabeça.
-Você está bem? - Levantou minha mão para olhar o ferimento.
-Sim. Dói um pouco, mas estou bem - Falei ainda trêmula.
Ainda um pouco impressionada por ser tão real. Como poderia ser tão real se na realidade eu estou dormindo? Levei a mão ao rosto ao sentir um certo incômodo e notei que ela estava um pouco suja de sangue. Thomas esticou sua camisa e limpou meu rosto com o tecido macio enquanto mostrava seu abdômen definido. me senti um pouco inquieta...
Ele segurou minha mão e saímos andando na praia. Não podíamos ficar tanto tempo ali. Tinha mais daqueles homens atrás dele. Thomas me olhou por alguns instantes.
-Onde está a Ester? - Perguntou.
- Ela achou melhor seguir sozinha. - Disse pensativa.
-Sério?
-Ficou com medo dos homens e atravessou para outra memória.- Disse.
- Ah... - Ele respirou fundo.
-Por que eles estavam atrás de você Thomas? - Perguntei.O vento fazia meu cabelo descabelar se por completo e isso estava me irritando um pouco. Olhei para o céu. Estava bem limpo, sem nenhuma nuvem sequer. Pisquei. Era um pouco estranho.
Ele não me respondeu.Soltei a mão do Thomas e fui em direção a água. Podia senti-la. Uma sensação boa me veio ao peito. Sentia saudade disso. Thomas sorriu ao me olhar. Me perguntei se ele estaria mentindo para mim. Aqueles homens tem um bom motivo para vir atrás dele. Thomas se aproximou de mim e então voltou a segurar minha mão.
-Precisamos fazer um curativo nisso. - Disse me puxando para ir mais rápido.
Continuei a encará- lo mais um pouco antes de me voltar para frente. Não via ninguém. De quem pertencia aquela memória?
-Thomas, o que acontece se eu morrer? - Perguntei o olhando. Ele me observou aparentemente curioso e confuso pela minha pergunta. - Eu desapareço?
- Apenas se estiver dentro de sua memória. - Ele falou.- Se estiver fora você permanece preso neste lugar. Como nós. Como eu.- Ele abaixou a cabeça melancólico.
Meu coração apertou. Ele não estaria morto estaria? E eu? Quanto tempo permaneceria viva? Se aquilo for verdade que as pessoas que vão parar no hospital morrem eu não tenho muito tempo, certo?
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DO OUTRO LADO
Science Fiction**CONCLUÍDA** **PLÁGIO É CRIME** O maior medo de Yohana é dormir e não mais acordar. Depois do surgimento de uma doença misteriosa e avassaladora, o mundo nunca mais foi o mesmo. Os casos, mesmo esporádicos, não cessaram fazendo com que as pessoas d...