Capítulo 26

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Thomas se sentou e eu continuei a observá-lo sem entender ao certo. O barulho das ondas baterem contra as pedras, o vento balançando as folhas das árvores. Tudo aquilo ali era muito reconfortante.

-Thomas , 15 anos, nunca tive pai nem mãe. Não que conhecesse. Mas tive irmãos...- Ele voltou a falar. - Nasci em 2019.- Arregalei os olhos surpresa. - E desde que me entendo por gente eu estive nas mãos deles. Mas em meus sonhos eu podia visitar o céu... - Ele sorriu. - Eu podia fazer isso... - Eu podia brincar e ser livre.- Olhou para as próprias mãos. - Eu a conheci Yona...a muito tempo. Em seus sonhos... - Ele deu um peteleco na minha testa e isso me assustou.

- Thomas, você...

- Eles sabiam disso. - Disse. - Sabiam o que eu podia fazer. E me colocaram em uma máquina estranha. Me prenderam lá dentro...Eu odiava vestir aquelas roupas.. Eu odiava tudo aquilo... E quando eu vi eu estava aqui. Do outro lado. Junto com metade de todo o laboratório.

Seu olhar estava perdido em algum lugar.

- Este lugar, Yona. O outro lado ou esta dimensão... Ela materializa o que quer que esteja nela. Você... A Ester e tudo. Mas seu corpo está lá. Seu verdadeiro corpo está lá. Não aqui. Seu verdadeiro lugar é lá... Não aqui.

- Thomas... Eu não sei aonde quer chegar. - Sentia a aflição aumentar. Meu coração batia forte e parecia pesado. Eu me sentia tensa e nervosa. Tinha medo do que ele fosse falar.

- O objetivo era tornar esta dimensão palpável para seus objetivos. Para isso eles tinham que usar-me. Na tentativa de abrir uma passagem permanente para o outro lado eu acabei vindo e fiquei preso aqui. Yona. Eu estou aqui. Literalmente. Meu corpo está aqui...

Prendi a respiração. Não sabia o que dizer. Fitei o chão soltando a respiração de uma vez. Me sentia um pouco frustrada.

- Deve ter um jeito... - Disse e ele me olhou como se eu fosse uma criança que estivesse acreditando em algo impossível.

- Você tirou sua corda - Disse pegando meu braço.

- E o que tem? Pra que eu usava ela mesmo?- Perguntei coçando o olho para impedir as lágrimas de se formarem.

- Quando for a hora certa. Você vai se lembrar. - Ele falou acariciando meu rosto delicadamente com uma das mãos. Inclinei a cabeça em sua mão e me senti triste.

Não gostava da forma que ele estava falando. Meu coração se apertou e eu senti meus olhos marejaram novamente.. Thomas me olhou. Abaixei a cabeça mordendo o lábio inferior.

- Quem diria que o outro lado iria te alcançar permanentemente- Ele tocou em meu rosto e uma lágrima caiu em sua mão. Solucei e ele se aproximou tocando seus lábios nos meus. Sua boca estava quente. Thomas se afastou e bagunçou meus cabelos.

- Eu queria ter te conhecido em tempos melhores...- Falou - Mas isso seria bem complicado - riu - Não gostaria de ser taxado de pedófilo...

Sorri limpando as lágrimas que não paravam de escorrer. Ele respirou fundo e soltou o ar com força.

- É... Foi bom. - Saiu como um sussurro.

-Thomas...- Falei sentindo minha língua meio enrolada. Enxuguei meu nariz que começara a escorrer. Ele deu um peteleco em minha testa.

Ele se levantou e então vi a arma em sua mão. Thomas se espreguiçou respirando fundo e andou um pouco pela grama. O olhei de longe. Meu coração batia forte. Minhas pernas estavam trêmulas. Ele me olhou.

-Yona...- Disse alto para que eu o escutasse. -Não se esqueça de mim..

-Não...Thomas...- Me levantei mas parei assim que vi ele levar a arma até si.

Ele apontou arma para seu peito. Eu me levantei e corri até ele.Thomas me olhou.

-Yona... Não faça ser mais difícil do que já é. - Percebi que seus olhos lacrimejavam e parei chorando alto. Por que? Ele sussurrou algo que eu não consegui ouvir.

-Deve ter outro jeito! Thomas, não morra... Por favor!- Gritei fechando os olhos chorando. Sentia um desespero crescente em meu peito. Uma dor que parecia perfurar-me a alma. Gritei e o barulho de tiro me assustou. Cai de joelhos tentando olhar direito. O Vi deitado.- Thomas...

Ele sorriu e falou algo que não pude ouvir novamente.

-Thomas? - Me levantei e corri em sua direção mas algo me puxava para a direção contrária. - Thomas! - GRITEI fechando os olhos com força quando uma jorrada de vento veio em minha direção.

Quando abri os olhos estava escuro. Olhei para o teto do meu quarto. Pisquei me sentindo estranha. Então olhei para meu pulso.

-Não acredito que...

Abri os olhos.

DO OUTRO LADOOnde histórias criam vida. Descubra agora