No final tudo acabou bem

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26/11/2020  08:28Am

 Autora pov's

Im ainda estava tentando engolir tudo que foi dito pelo médico. Mas, também, aquilo explicava muita coisa que antes pensava ter outro motivo.

Estaria mentindo se dissesse que já desconfiava ou que já tinha pensado naquilo antes. Foi realmente uma surpresa nada agradável de se descobrir.

Nayeon era soropositivo, o que se parar para pensar, era óbvio que isso iria acontecer uma hora ou outra. Além da doença autoimune, ainda tinha anemia perniciosa. Parece que o mundo tinha dado uma voltinha para faze-la pensar que estava tudo bem, e deu um 360, voltando ao normal e destruindo sua felicidade — que já não era muita.

Como tudo aquilo era vergonhoso para ela, até culpa sentia. Sua vida era uma roda gigante, onde apenas ia para baixo.

A luz que surgiu em seu túnel quando depois de 10 anos saiu de lá, se mostrou um trem na contra mão.

Então, se sua saúde física e, principalmente, mental estavam fudidas por completo. Por que ela iria agradecer ou ficar feliz? Por estar viva talvez. Mas ficar agradecida por algo que não queria era hipocrisia.

Nada nem ninguém á deixava pelo menos um pouco bem. parecia até que sua aflição aumentou depois que chegou ao hospital. Mas isso era de se esperar, só em dois dias já tinha recebido ofertas de 5 canais diferentes querendo alguma entrevista. Além de advogados querendo pegar seu caso.

Era pressão demais para ela que nem sequer passou com um psiquiatra ainda para saber em que tudo aquilo afetou — essa pergunta não era muito difícil de responder, mas ainda precisava ser avaliada com um profissional.

Ela sabia que dali para frente, era só para trás. Se não encontrassem algum parente que esteja disposto a receber sua guarda, só tinha duas opções: um orfanato ou passar 2 anos no hospital. E quem irá decidir isso nem ela vai ser, e sim os assistentes sociais.

Não gostava de sair do quarto por conta do peso dos olhares sobre si. Era como se estivesse sendo perseguida o tempo todo. Não estava sendo como a vida normal que achou que teria quando saísse de lá.

Quando saía do quarto, gostava de ir num cantinho no lugar aberto do hospital. Era perto de um espaço que todos os dias ás 8 da manhã e 4 da tarde, voluntários levavam as crianças internadas para brincar. Lá ninguém ficava encarando sem motivos, só quando algum menino vinha e perguntava se ela tinha namorado.

Im passou a manhã pensando sobre aquele assunto. Ela não sabia se aquela era a decisão certa, mas era aquilo que queria fazer.

— Amor? — sentiu uma mão sobre seu ombro.— Tá tudo bem?

Nayeon assentiu. Baixou sua cabeça e suspirou baixinho, enquanto passava a mão por seu ursinho.

— Nayeon — Yoo colocou sua mão sobre a da mais velha —, tem certeza que você tá bem?

— Jeong... Liga pra aquela repórter?

— Você, tem certeza, Nay?— tocou em sua bochecha, fazendo um carinho.— Não se apresse por conta da pressão, você tem que estar-

— Por favor..— interrompeu.

[...]

27/11/2020 13:29 Pm

A coreana ouviu batidas na porta, logo antes da porta ser aberta, revelando uma mulher com um sorriso simpático.

— Boa tarde, Im — disse a mulher.— Podemos entrar?

A mais nova assentiu, vendo a mulher entrar junto de sua equipe.

— Larissa Ayumi — apertou a mão da coreana.— Obrigada por aceitar nos receber.

A mulher explicou algumas coisas importantes, enquanto montavam e posicionavam as câmeras.

— Lembre que você manda na entrevista — falou a brasileira —, eu apenas faço as perguntas, se não se sentir confortável com qualquer uma delas é só avisar que vamos passar para outra.

Um homem da equipe colocou o microfone na blusa de Nayeon, enquanto já ia testando o mesmo.

— Eu vou tá bem aqui, amor — disse Yoo, segurando o rosto da namorada e o acariciando.— Eu amo você.

Im sorriu  e abraçou forte a mais alta e depositou um selinho em sua boca.

— Você precisa de mais um tempo, Im? — perguntou a repórter.

— Não não — respondeu — se tudo estiver pronto já podemos começar.

Ayumi assentiu. Pediu para que sentasse na poltrona do quarto e sentou numa cadeira de plástico dada por um funcionário do hospital.

Com um sinal do diretor, a mulher pegou um papel e preparou-se para começar a reportagem.

— Im, você imaginava que um dia iria conseguir sair daquela casa?

— Algumas vezes sim... Mas eu não tinha esperanças desde os 12 anos..

— Pelo menos saiu, e tudo acabou bem, não é? — disse gentil.— E como você foi parar lá? Ele era seu pai?

Nayeon travou por um momento.

— Não... Ele não era meu pai.

— Algum parente ou só um sequestrador?

— Nenhum dos dois..— respirou fundo.— A minha mãe me...— seus olhos se encheram de lágrimas.

— Quer um lencinho? — fez um sinal para uma das pessoas no quarto e logo o lenço foi entregue nas mãos da garota.

— Desculpe.. Eu ainda não quero falar sobre isso.

— Não, tudo bem — disse simpática.— Ninguém espera que você seja um exemplo de força, I-

— Pode me chamar só de Nayeon, por favor? Ele me.. chamava de Im

A outra assentiu.

— Ele te mantinha presa? Você tinha acesso a todos os cômodos da casa?

— Sim, eu podia sair do quarto quando eu queria, e ia para a escola também.

— E com toda essa "facilidade"  — fez aspas com as mãos —, nunca pensou em fugir?

A mais nova hesitou.

— Eu tentei, uma vez..— murmurou.— Só que ele me pegou e me torturou a manhã inteira. Nesse dia, ele quebrou meu joelho esquerdo, eu não recebi o tratamento certo e ele calcificou errado.

Por um momento, a mulher se calou.

— Você chegou a ficar grávida alguma vez?

— Sim, algumas..

— Chegou a ter?

— Não.. quando o teste dava positivo ele já me levava pra abortar.

— Se você tivesse tido esses filhos — disse a repórter gesticulando —, quantos teria agora?

— Sete..— murmurou.— Eu já teria sete filhos.

Do outro lado do quarto, Yoo mordia os lábios a cada vez que via a expressão tristinha da mais baixa. Sabia que ela não estava nada confortável ali, mas se aquilo foi sua escolha, não podia interferir.

— Se seus filhos fossem crescer, você contaria para eles sobre o pai?

— Eu... Não tenho certeza se eram todos dele..

Larissa franziu o cenho.

— Então está dizendo que havia outros homens?!

Nay hesitou por longos segundos.

— S-sim.

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