Duarte/Du: Fogo

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*Duarte/Du pov:*

-Helena, não há tempo para fazeres fitas. Tu vens comigo. - Patrícia chamou a Helena para irem treinar deixando-me sozinho com o Romeo.

Fomos até à parte de piquenique onde haviam algumas churrasqueiras e Romeo começou logo a explicação.

-Ao contrário da água, para se controlar o fogo são precisos sentimentos fortes, do género da raiva, mas convém serem controlados para não se sair por aí queimando tudo. O fogo é um elemento complicado. Já houveram casos de bruxos, que com o medo, perderam o controlo da situação e acabaram por destruir aldeias inteiras. Só por curiosidade, quando criaste chama hoje de manhã pela primeira vez, em que estavas a pensar?

-Estava zangado com a minha irmã e a prima dela... Quer dizer nossa prima. Ainda é estranho referir-me a elas como familia, enfim: eu achava que elas me tinham mentido.

-Entendo, mas olha, conheço a tua irmã há bastante tempo, ela nunca mentiria nem a ti nem a ninguém, muito menos com assuntos sérios. Continuando: para produzir uma chama no início é preciso uma "base", como por exemplo madeira ou carvão, que é o caso, mas quando já se domina bem este elemento é possível produzi-lo através do nada.
Para começar, tens de pensar nalgo que te tenha causado muita, mas muita raiva. Depois concentras-te nisso de modo a reviveres esse momento. Quando começares a sentir o calor de chamas a percorrer o teu corpo, é sinal que estás pronto para o lançar.

Ele exemplificou. O lume acendeu-se no mesmo instante:
-Tua vez-ele disse.

Fechei os olhos com força e tentei encontrar um pensamento que me trouxesse raiva. Pensei no mesmo de de manhã. Não resultou. Provavelmente porque já sei que ela não me mentiu. Fui tentando e não estava a conseguir. Já íamos na 8a tentativa e a única coisa que me fazia não desistir era o apoio que o Romeo me estava a dar. Começo a perceber o porquê de este rapaz ser o melhor amigo da minha irmã.

Decidi tentar mais uma vez. Ocorreu-me algo que podia servir, mas eu odeio essa memória e não gosto de pensar nela. Se esta não servir, não sei o que mais tentar.

Eu tinha 2 anos e quase meio. Estava no orfanato de Greenwood. Sempre odiei aquele lugar com todas as minhas forças.
"Então, aberração, relembra-me lá porque estás aqui?" as crianças mais velhas vinham-me sempre atormentar. "Os papás não te quiseram, foi? Abandonaram-te por medo ou nojo de alguém como tu?"
Sempre eram comentários deste género. E eu, uma criança de 2 anos tinha de sobreviver com isto.

Não tinha percebido que conseguira. Apenas abri os olhos e estava fogo na churrasqueira. Senti uma lágrima descer pelo meu rosto. Uma única lágrima solitária, tal como eu era quando mais novo.

Limpei-a antes que ele percebe-se que chorava. Ele parabenizou-me e ficamos a treinar mais um pouco enquanto falávamos sobre coisas aleatorias.

Passado um pouco, a minha irmã e a nossa prima chegaram.
Ela estava diferente. O cabelo mais ruivo, pele mais pálida e olhos mais acinzentados. Só quando elas se aproximaram é que reparei que estavam encharcadas mas nem comentei.

Ao aproximarem-se, Paty emprestou-me o telemóvel dela para eu ver como estava.
O meu cabelo castanho tinha ficado ligeiramente mais ruivo, mas não tanto como o da Helena, e os meus olhos verdes tinham ficado mais escuros do que já eram, deixando de se ver o pouco de azul que tinham. Eram tão verdes como uma floresta.

-Por quanto tempo vou ficar assim? - perguntei. Não achava que estava feio, mas gostava da minha aparência antiga. Por outro lado a Lena, como a Paty lhe chama, não parecia muito preocupada, aliás, até parecia gostar muito.

- Vais ficar assim de cada vez que usares os poderes. Vai ficar durante mais e mais tempo até ser permanente. - ela explicou.

-Certo...

-Então? Conseguiste? - ela perguntou excitada

-Óbvio que sim. Eu sou o melhor. - acendi a chama para ela ver.

-Não concordo. - ela fez água do rio que estava a uns 7 metros de distância levitar e vir apagar o meu fogo. Rimo-nos juntos que nem loucos e, aos poucos, o Romeo e a Patrícia juntaram-se também.

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Oiiie,
Gente, tive dó do Du enquanto escrevia...
Para quem não entendeu: os pais do Du e da Helena deixaram-no no orfanato por razões que serão explicadas nos próximos capítulos. As outras crianças sabiam da condição dele, mas mesmo assim gozavam.
Fico à espera do vosso voto😉
Bye---

O Irmão PerdidoOnde histórias criam vida. Descubra agora