"Se ao menos soubesses que estou a arriscar a minha vida... "

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Assim que acordámos no dia seguinte, a primeira coisa que a Paty quis que fizessemos foi treinar. Pelo que eu percebi, ela queria ver o quanto eu o Du tínhamos melhorado.

Ainda não lhe contei sobre o Romeo, mas acho que ela passou a desconfiar quando o convidou para vir treinar connosco. Apesar de não ter nada a ver com a personalidade dele, ele arranjou umas 10 desculpas diferentes para não ter de vir, mas, tendo em conta o dom que a Patrícia tem para convencer e acabar com os argumentos das pessoas, acabou por ter de vir.

-Oiie, Romeo! - a Paty cumprimentou quando ele chegou.

-Oi, Patrícia...

Eu sorri-lhe mas ele apenas virou a cara e caminhou até à churrasqueira dos meus pais:
-Vamos lá acabar com isto. Tenho de voltar para casa.

Ver a cara da Paty teria sido cómico, se não fosse preocupante. Para quem conhece o Romeo há tanto tempo quanto nós as duas, sabe que algo se passa.

Romeo nem deu tempo de pensar ou dizer algo pois lançou logo bolas de fogo na nossa direção que devíamos com jatos de água. A meio do treino, a Hannah chegou.
-Desculpem o atraso, eu ador---

Ela foi interrompida também por bolas de fogo que se estavam a tornar maiores e mais agressivas. Felizmente ela consegui afastá-las com vento. Sendo sincera, estava a ficar com um pouco de medo do Romeo...

"Porquê? Porquê que eles têm de estar a melhorar tanto? Não percebem que se me tento afastar é porque não é coisa boa? Têm de desistir! Assim não vou conseguir continuar..."

OK... Isto não eram os meus pensamentos. De novo. E tenho quase a certeza que eram do Romeo.

Ele começou a ficar numa mistura entre muito nervoso e irritado,até que saiu do jardim do nada apressado e entrou em minha casa.

A Hannah, a Paty e o Du iam atrás dele, mas eu pedi que parassem.
-Deixem-me falar com ele.

Os três trocaram olhares preocupados mas assentiram e eu entrei.

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Comecei a procurá-lo e não demorou muito para o encontrar. Ele estava a ter uma crise na sala e eu tive de o tirar dali, se não ele acabaria a partir tudo.

Puxei-o escada acima e empurre-o para dentro do meu quarto. Cruzei os braços um pouco assustada.

-Romeo...?

-O que é que foi?!

Ele olhou-me nos olhos, mas não vi a típica gentileza dele...só vi raiva e dor...

-Acho que isso posso ser eu a perguntar.

-E porquê? Desde quando tens tu a ver com a minha vida? - ele começou a elevar a voz.

Ele não estava em si, mas mesmo assim ainda falei mais alto que ele (se é que era possível) para ele me ouvir bem, porque só ia dizer uma vez:
-DESDE QUE TE CONHECI! DESDE O MOMENTO EM QUE EU TE PASSEI A CONSIDERAR O MEU MELHOR AMIGO! ACHAS QUE É FÁCIL VER-TE DE UM MODO QUE NÃO É NORMAL EM TI? POIS, FICA SABENDO QUE: NÃO É! E, APESAR DO MEDO QUE ESTOU A SENTIR, EU NÃO VOU DESISTIR DE TE AJUDAR!

Acho que o que eu disse só lhe trouxe mais tristeza... ou dor... Sei lá.

-Ouve, Helena...

-Lena.

-Hãn?

-Quero que me chames Lena.

-Helena, Lena, é tudo igual! Não importa o nome! O que importa é que
corres perigo e não podes conviver comigo! Eu juro que tentei... Mas não dá... Tens de me ignorar, fingir que já não te dás comigo! Tens de confiar em mim, Lena...! - ele já súplicava e eu notei que estava a tentar conter o choro.

-Romeo...

-Não! Tu ouviste! Por que é que tens de complicar?

-Porque eu quero ajudar-te! Preciso que me contes o que se está a passar...

Deve ter sido a gota de água... Ele ficou possesso e começou a atirar tudo o que tinha à mão. E o que é que eu fiz? Nada. Fiquei zangada? Não. Porquê? Porque eu sei que ele precisava desse momento para descontar a raiva.

No entanto, ele estava quase a partir uma moldura muito importante para mim, e eu tive de pará-lo. Fiz raízes crescerem de modo a prenderem-no e esperei que se acalmasse. Quando finalmente aconteceu eu dei-lhe um abraço forte.

Ele soltou um suspiro:
-Obrigada Lena... Obrigada por estares aqui comigo... E desculpa por ter partido algumas coisas...

-Não faz mal. Toma. - dei-lhe a tal moldura. Era uma foto nossa, no meu aniversário de 8 anos. Eu já era nerd nessa altura, e mais uma vez, quem quer estar com a nerd? Ninguém. É essa era a razão por ninguém ter ido à minha festa. Mas ele queria. E naquela foto, apesar de sorridente, eu tinha os olhos vermelhos por causa do choro, mas ele estava ali do meu lado como meu amigo. Foi nesse dia que o passei a considerar o meu melhor amigo.

-Lena...

-Fica com ela. - insisti. - usa-a para acalmares os nervos.

Ele sorriu.

"se ao menos soubesses que estou a arriscar a minha vida só por estar aqui do teu lado..."

Mais uma vez, um pensamento que não era meu. Devo estar mesmo a desenvolver aquela coisa da tepalia... tolepatia... Ah, sim: Telepatia.

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Pouco depois de o Romeo ter se ido embora (já muito mais calmo) eu decidi falar com a Paty. Fomos os quatro para a biblioteca e assim que fechei a porta falei:
-Paty? Podes repetir aquilo sobre a telapetia... Tolepatia...

-Telepatia?

-Isso mesmo! Podes?

-A telepatia é uma capacidade muito rara. Vem de nascença, mas só se manifesta mais ou menos na tua idade. No entanto alguém que não nasça com telepatia não a pode ganhar. Se não estou em erro, é tão rara que só uma em cada 350 pessoas nasce com ela. Ah, e para a possuir tem de se ser um bruxo de sangue. Porquê o interesse repentino?

-Porque só hoje já consegui ler pensamentos duas vezes.

-Jura?! - a Hannah estava com a cara mais chocada possível. Sinceramente, essa menina não tem limites.

-É sério! Porque eu mentiria?

A Patrícia olhou para mim com admiração.
-Se há dois meses atrás me dissessem que na minha família estariam os escolhidos, e que ainda por cima têm telepatia, eu diria que estavam a enlouquecer. No entanto agora... - ela abraçou-nos (a mim e ao Du) - Aiii, estou tão orgulhosa de vocês!

-Espera..., pelo que tu disseste..., eu também consigo ler mentes? - o Du perguntou ao afastar-se.

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Oiiie!!!
Sei que o titulo ficou enorme, mas eu achei que era o que melhor se enquadrava...
Bye--

O Irmão PerdidoOnde histórias criam vida. Descubra agora