CAPÍTULO DOZE

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Estávamos sentados na Praça de Duque de Almeida, na verdade, em uma das praças.   Os seguranças ficaram em uma boa distancia. Luiz estava no carro, um pouco perto de nos. Ela não o via, pois o vidro fume não deixava, e muito menos reparava que era viajada.

Melinda tomava um sorvete, em algumas vezes sua boca sujava do doce creme. Cacete, eu queria limpar, mas não com as mãos.

– E então Hector, quantos anos tem? – indagou, lambendo seu sorvete. Porra!

Respirei fundo, olhando para frente, tentando me distrair da cena em que acabei de presenciar.

– Tenho 30. – falei. – Não sou tão velho quanto pensa ok?

Ela gargalhou, agora limpando as mãos sujas de sorvete. Realmente, uma menina mulher.

– Eu sei, eu sei! – falou, entre risadas. – Às vezes parece meio rabugento. Naquele dia quando te conheci, te achei um idiota de primeira.

– Ah é mesmo? – voltei-me para ela. – E por quê? Estava apenas sendo formal!

– Você é sempre formal! – ela parou de rir e ficou a pensar. – Parece que vive escaldado. Tem porte de coronel, chefão da porra toda sabe?

Pior que não era mentira!

 Melinda tinha esse dom, de tirar tudo de mim, de me fazer mostrar meu eu, e é disso que tenho medo. Medo de ela ver a verdade, o pior de mim.

– É que a vida me tornou assim. – inclinado com os cotovelos nos joelhos, juntei as mãos observando o movimento da praça. – Sabe dedicação total ao trabalho!

Melinda encarou o céu, fechando os olhos, aproveitando o clima fresco da tarde. E esse era um dos momentos em que olhava para essa mulher e me perguntava o que eu realmente sentia por ela.

– Sabe Hector... – ela ainda mantinha os olhos fechado, respirando leve e calma. – Vivi dores horríveis há alguns anos atrás. Eu perdi meus pais, não tive muita convivência com eles. Então, um dia chegou a noticia de que eles, até mesmo meu irmão havia sido assassinados.

– Sinto muito Cigana. – falei, e em todos esses anos de vida, nenhum “ sinto muito” saiu tão sincero como esse.

– Eu não vivia com eles e... – ela parou de falar e me encarou com certa hesitação.  – Desculpe, estou aqui falando de minha vida...

– Pode continuar. – pedi, realmente estava interessado. – Quero saber de sua vida, até porque só eu contei da minha.

Até porque nem metade do que eu disse é verdade.

– Sou adotada. – disse, por fim. – Na verdade, adotada de pai. Nunca soube do meu pai verdadeiro. Ele simplesmente abandonou eu e minha mãe pela Itália.

– Espera, você veio da Itália? – um arrepio passou por minha espinha novamente, como um alerta. Apenas ignorei. – É Italiana?

– Ah, isso é complicado, meu pai é, já minha mãe. Ela é uma cigana, colombiana, na  verdade toda a minha família é indiana, mas minha mãe nasceu na Colômbia. – ela sorria ao descrever a mãe. – Bem bonita e alegre. O tipo de pessoa que você ia querer por perto.

– Assim como você?  – dei um sorriso ladino para a mesma, que em instante ficou vermelha. – Você é boa em atrair pessoas Melinda.

Seu sorriso cresceu junto com aquelas bochechas rosadas. Puta merda!!

– É um dom! – disse, fazendo um gesto dançante com a mão.

Rimos juntos.

– Continue, quero saber mais sobre você! – pedi. Agora de braços cruzados a encarando.

DA COR DE MARTEOnde histórias criam vida. Descubra agora